Roberto Requião: “duvido que um só de nós esteja convencido de que a presidente Dilma deva ser impedida por ter cometido crimes”Prestes a “repetir a ignomínia de março de 1964”, o Senado Federal precisa estar consciente que as consequências do impeachment — a retirada de direitos, o arrocho ao povo brasileiro em favor do grande capital e da espoliação estrangeira — terá graves efeitos sobre a paz social. “As senhoras e os senhores estão preparados para a guerra civil?”, perguntou o senador Roberto Requião (PMDB-PR) a seus pares, em pronunciamento na sessão de julgamento da presidenta Dilma Rousseff, nesta terça-feira (30).
“Entrincheirem-se então, porque o conflito será inevitável. O povo brasileiro, que provou por alguns anos o gosto da emergência social, não retornará submissamente à senzala”, alertou o senador.
Requião ressaltou as semelhanças entre a cassação do mandato de uma presidenta que não cometeu crime com a deposição de João Goulart, sacramentada pela declaração de vacância do cargo de presidente, em 1964, pelo Senado, ato essencial à consumação do golpe. Ele lembrou as palavras de Tancredo Neves contra o então presidente da Casa, Moura Andrade, que bancou a manobre: “Canalha! Canalha! Canalha!”.
“Duvido que um só de nós esteja convencido de que a presidenta Dilma deva ser impedida por ter cometido crimes. Não são as pedaladas ou a tal irresponsabilidade fiscal que a excomungam. O próprio relator da peça acusatória praticou-as à larga. Só que lá em Minas não havia um providencial e desfrutável Eduardo Cunha e nem um centrão querendo sangue, salivando por sinecuras e pixulecos”, afirmou Requião. “A inocência do relator é a mesma de Moura Andrade declarando vaga a Presidência. As palavras de Tancredo coçam-me a garganta”, atalhou o senador, referindo-se a Antonio Anastasia (PSBD-MG) que o ouvia em plenário.
A injustiça contra Dilma, porém, não é a parte mais grave da manobra que reedita 64 sem precisas dos tanques e baionetas. O pior será a materialização do programa de maldades patrocinado por Michel Temer e seus aliados. Entre essas maldades estão a desvinculação do reajuste das aposentadorias e pensões do aumento do salário mínimo, destruindo o maior instrumento de distribuição de renda do País, que é a Previdência Social; a retirada de direitos e garantias, especialmente as trabalhistas; o congelamento por 20 anos das despesas correntes e dos investimentos da União—o que representa o congelamento de gastos com saúde, educação, segurança pública, saneamento, infraestrutura, habitação e outras áreas.
“Não será a primeira vez que os abutres e os corvos caem sobre o nosso País, retalhando-o, estraçalhando-o, sugando-o. Essa combinação explosiva de entreguismo com medidas contra os aposentados, os assalariados, os mais pobres, contra direitos e conquistas populares alimentam as contradições de classe, e em consequência, a luta de classes”, alertou Requião, que encerrou seu pronunciamento lendo a Carta Testamento de Getúlio Vargas, outro presidente massacrado por ter liderado um programa voltado para os brasileiros mais pobres.
Cyntia Campos