Os brasileiros pagaram um preço muito alto por ter o atual presidente no comando do país em 2020, quando o mundo foi assolado pela pandemia de Covid-19. Mais preocupado em negar a gravidade da doença, colocando em prática a estratégia da imunidade de rebanho, Jair Bolsonaro não agiu como devia para garantir condições dignas de tratamento para aqueles que ficassem doentes.
Em vez de mobilizar o Ministério da Saúde para dar suporte aos estados e municípios, Bolsonaro passou os dois primeiros meses trocando de ministro até encontrar um subalterno, o general Eduardo Pazuello, que recomendasse o tratamento com cloroquina. Enquanto isso, os gestores municipais e estaduais aguardavam desesperados os repasses de recursos para comprar insumos e abrir novos leitos de UTI.
Em meados de maio, já com dois meses da maior pandemia do século atacando a nação, menos da metade da verba aprovada em março para o combate ao vírus havia sido liberada. Eram mais de R$ 8 bilhões não empenhados, o que levou o Conselho Nacional de Saúde (CNS), colegiado ligado ao Ministério da Saúde, a publicar um manifesto intitulado Repassa Já, no qual afirmava: “É de extrema necessidade o aporte financeiro adequado e suficiente do Ministério da Saúde para salvar vidas”.
No documento em que anotou os crimes do Executivo da gestão da pandemia, a Casa Civil escreveu: “Atraso no repasse de recursos para os Estados destinados à habilitação de leitos de UTI”. Matéria da jornalista Renata Mariz, publicada na revista Época em 22 de maio daquele ano, mostrava o resultado desse descaso: pacientes começavam a morrer sem ter sequer acesso a um leito de UTI.
“É preciso que o ministério habilite os leitos para que a diária de R$ 1.600 seja repassada pelo governo federal aos estados e municípios. Sem esse credenciamento, esses entes veem sua capacidade de criar vagas diminuída por não terem recursos próprios para mantê-las funcionando. Somente na última semana, quando o sistema de saúde já se tornara insustentável em muitos centros urbanos do país, é que boa parte dos pedidos de habilitação feitos ainda na gestão de Luiz Henrique Mandetta foi atendida, apontam gestores. Do total de 6.142 leitos de UTI credenciados pelo ministério para tratar pacientes do novo coronavírus, quase 40% foram habilitados só a partir da segunda-feira 18. A habilitação dura 90 dias”, informava a jornalista.
Invasão a hospitais
No lugar de pedir providências para acelerar o processo, Bolsonaro preferiu mentir à população. Durante live no Facebook, em 11 de junho, negou não só a gravidade da pandemia como também o fato de os hospitais estarem cheios. “Pode ser que eu esteja equivocado, mas na totalidade ou em grande parte ninguém perdeu a vida por falta de respirador ou leito de UTI. Pode ser que tenha acontecido um caso ou outro. Seria bom você, na ponta da linha, tem um hospital de campanha aí perto de você, um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar”, atiçou (veja vídeo acima). E, pior, fanáticos obedeceram e tentaram invadir hospitais públicos para filmá-los em nome de Bolsonaro.
A verdade é que Bolsonaro nunca se preocupou em tratar a saúde das pessoas tanto quanto se preocupou com a saúde do mercado. O Tribunal de Contas da União (TCU) verificou que dos R$ 286,5 bilhões pagos até o fim de julho de 2020, apenas 7,67% referiam-se diretamente ao combate da doença. Já gastos relacionados a medidas de proteção econômica, excluindo o auxílio a Estados, DF e Municípios, correspondiam a 78,35% do total. Para o tribunal, os índices refletiam a “opção política do Centro de Governo de priorizar a proteção econômica”.
O pior é que a situação se agravaria ainda mais ao longo da pandemia, uma vez que o governo não mudou sua política nem após ver o extermínio em massa que ela estava provocando. Em setembro de 2020, o governo Bolsonaro previu um corte de R$ 35 bilhões na Saúde, reduzindo em 20 mil os leitos de UTI disponíveis à população.
Segundo levantamento da Fiocruz, a falta de UTI se tornou cada vez mais crítica, a ponto de, em 9 março de 2021, 19 das 27 unidades da federação estarem com uma taxa de ocupação acima de 80%. Mais uma vez, por traz da frieza da estatística, há vidas perdidas, há mortes que poderiam ter sido evitadas. Nesse mesmo mês, a mesma Fiocruz calculou que mais de 72 mil brasileiros morreram de Covid-19 sem ter dado entrada em uma UTI.
Vários desses óbitos só ocorreram porque Bolsonaro fez a escolha de deixar que o vírus se espalhasse até 60% ou 70%, como tantas vezes ele repetiu, pegassem a Covid-19. E, pior, nem se preocupou em garantir que houvesse hospital suficiente para os doentes. O atual presidente não adoeceu o povo apenas, também lhe negou atendimento.