Réu confesso, crime 18: Ataque à Coronavac

Em vez de salvar a vida de milhares de brasileiros, Jair Bolsonaro preferiu desdenhar da vacina produzida pelo Instituto Butantan
Réu confesso, crime 18: Ataque à Coronavac

Foto: Agência PT

É difícil apontar qual foi o maior crime cometido pelo governo federal durante a pandemia. Mas, certamente, o desprezo às várias ofertas de vacina que recebeu ao longo de 2020 é uma das que mais causam indignação. É de uma crueldade incalculável fazer os brasileiros assistirem a parentes e amigos morrerem de Covid-19 imaginando que eles poderiam ter sido vacinados se não fosse a omissão de Jair Bolsonaro.

O atual presidente e seus ministros sabem disso. Tanto que no documento em que listou 23 desmandos que poderiam ser revelados durante a CPI da Covid, a Casa Civil se referiu duas vezes a vacinas: quando houve a recusa de uma oferta de 70 milhões de doses do imunizante da Pfizer, episódio já abordado na série Réu confesso, e a sabotagem feita à Coronavac, produzida em território nacional pelo Instituto Butantan. Logo no item 1 da lista, a Casa Civil escreveu: “O Governo foi negligente com o processo de aquisição e desacreditou a eficácia da Coronavac (que atualmente se encontra no PNI [Programa Nacional de Imunização]”.

Ora, Jair Bolsonaro, repetidas vezes, fez campanha contra a Coronavac, lançando dúvidas, sem qualquer embasamento, sobre a qualidade do imunizante. Chamou a fórmula de “vachina”, disse que ela vinha de um país com “descrédito muito grande”, afirmou que não deixaria o brasileiro ser “cobaia” e ainda comemorou quando os estudos do imunizante foram temporariamente suspensos.

Além dos ataques com palavras, Bolsonaro agiu com canetadas. Quando, em outubro de 2020, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou que o governo federal compraria 46 milhões de doses da Coronavac, Bolsonaro barrou o negócio. “Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, disse, nervoso. Mais tarde, seria revelado que o governo federal recusou seis ofertas de compra da vacina, que ajudariam o Butantan a aumentar a produção do imunizante. Segundo o presidente do instituto, Dimas Covas, Bolsonaro desprezou, assim, 160 milhões de doses.

Pouco preocupado em vacinar toda a população adulta do país, afinal, sua principal estratégia sempre foi buscar a imunidade de rebanho sem o imunizante, Bolsonaro investiu apenas na vacina produzida pela Oxford/Astrazeneca. Os recursos que negou ao Butantan deu à Fiocruz, numa aposta em um só imunizante, o que acabou se revelando um imenso equívoco.

Diferentemente de países com governos sérios, Bolsonaro não só deixou de comprar vacinas antecipadamente como não variou os produtos. Assim, quando a vacina do Reino Unido começou a atrasar a entrega, adivinhe qual vacina acabou permitindo que, ao menos, os idosos começassem a ser vacinados no começo de 2021? Sim, a tão desprezada fórmula chinesa.

Restou a Bolsonaro e seus ministros cúmplices mentirem mais uma vez. Quando, em janeiro de 2021, o governador de São Paulo, João Doria, anunciou que iniciaria em breve a vacinação, Pazuello organizou uma coletiva de imprensa às pressas para anunciar que o governo compraria 100 milhões de doses da Coronavac. O general ainda mentiu e disse que o governo federal havia investido na vacina em outubro passado, referindo-se ao protocolo de intenções que Bolsonaro havia mandado cancelar e ficara engavetado desde então.

Como cena final, Bolsonaro correu para adquirir 2 milhões de doses da vacina da Astrazeneca importadas da Índia, numa tentativa de vacinar alguém antes de Doria. Perdeu a corrida política. Já milhares de brasileiros perderam suas vidas.

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