Como já está comprovado, Jair Bolsonaro optou, desde o começo da pandemia, pela estratégia da “imunização de rebanho”, mesmo consciente de que isso provocaria a morte de centenas de milhares de brasileiros. E é essa estratégia que explica as repetidas sabotagens do auxílio emergencial feitas pelo governo federal. Afinal, por que um presidente que desejava ver a população exposta à Covid-19 se esforçaria em pagar um auxílio emergencial digno, que permitiria às trabalhadoras e aos trabalhadores ficarem em casa, protegendo a si mesmos e a seus familiares?
Na lista em que confessa os crimes de Bolsonaro e seus ministros, a Casa Civil da Presidência da República anota: “O Governo demorou a pagar o auxílio emergencial”. Mais uma vez, trata-se de uma afirmação inquestionável. Desde o começo, o Planalto resistiu à ideia de pagar o benefício e, quando acabou se dobrando às pressões, sugeriu um valor de meros R$ 200. Coube ao Congresso Nacional, graças ao trabalho da oposição, elevá-lo a R$ 600.
Depois, na hora de pagar, o governo mostrou-se convenientemente lento. No fim de abril, mais de 40 dias depois do anúncio do auxílio, feito em 18 de março, pelo menos 30 milhões de pessoas ainda esperavam o pagamento da primeira parcela, engrossando as filas em frente às agências bancárias, numa aglomeração que muito deveria agradar ao presidente genocida.
Ao longo de 2020, Bolsonaro fez várias críticas ao auxílio emergencial, tratando-o não como um benefício justo, de proteção da vida, mas como algo que se via obrigado a fazer porque governadores e prefeitos, esses sim preocupados com a população, adotavam medidas de isolamento social. Em setembro de 2020, após reduzir o valor para R$ 300, Bolsonaro deixou claro, durante live, que não desejava pagar o benefício e recomendou aos brasileiros: “Vão pedir o auxílio para quem tirou seu emprego, para quem falou ‘fique em casa’” (veja vídeo abaixo).
Sem auxílio, sem emprego e com fome
A verdade é que, ao se verem entre proteger a vida dos trabalhadores ou agradar os rentistas que os colocaram no poder, Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, escolheram a segunda opção.
Em dezembro de 2020, quando a Europa já via a segunda onda matar mais que a primeira, provocando nova leva de lockdowns, Guedes cinicamente anunciava o fim do auxílio emergencial e prometia uma recuperação da economia em V. “As pessoas estão voltando ao trabalho, a doença fez um retorno, mas não podemos falar em segunda onda”, disse.
Assim, o governo não incluiu o auxílio emergencial no orçamento de 2021 e só retomou o pagamento neste mês. E, mesmo assim, apenas após enviar ao Congresso uma medida provisória que buscava exterminar ainda mais direitos das camadas mais pobres e prever um orçamento para a saúde menor que o de 2020.
Os resultados dessas escolhas todos veem hoje: o Brasil chega a 400 mil mortos pela Covid-19 e o número só cresce; 19 milhões de brasileiros passam fome; 14 milhões estão desempregados; e o crescimento em V prometido por Guedes resultou, na verdade, no terceiro pior PIB dos últimos 120 anos. Todos esses são resultados de um crime pelo qual Bolsonaro e seus ministros devem pagar. E a CPI da Covid, no Senado, avança para comprová-los e explicá-los ao país.