A Bacia hidrográfica do São Francisco representa dois terços da disponibilidade de água doce do Nordeste e estava sob ameaça por conta da poluição, do assoreamento, da perda de matas ciliares e da erosão das margens. Além de obras tradicionais como dragagem dos bancos de areia e construção de rede de esgotos, a solução para os problemas da população ribeirinha tem usado intensivamente tecnologias sociais, como as cisternas para água de beber e as de calçada, para a produção rural. São usadas tecnologias como as barraginhas para controlar a erosão e reter água à montante para a produção rural de agricultores familiares.
Para a recuperação das margens está sendo desenvolvida uma tecnologia nova na região de Barra (BA). São três quilômetros de um protótipo ambiental, concebido por cientistas brasileiros, que inclui a defesa do solo no estágio atual, pela implantação de mantas de fibra vegetais para fixar o aluvião, combinado ao plantio de espécies nativas de árvores e de gramíneas, para assegurar a recuperação perene da antiga paisagem.
Planejamento – O Programa de Revitalização do Rio São Francisco, iniciado em 2004, foi concebido com prazo de 20 anos para conclusão, de acordo com o diretor de Revitalização de Bacias, do Ministério do Meio Ambiente, Renato Ferreira. O programa conta com a participação dos três níveis de governo e da sociedade civil, e foi incluído nos Planejamentos Plurianuais de 2004-2007, 2008-2011 e 2012-2015. O conjunto de ações tem sido colocado em prática pelos estados e municípios e os ministérios da Integração Nacional, do Meio Ambiente, da Cultura, das Cidades e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Interligação – A revitalização acontece ao mesmo tempo em que são feitos dois canais que levarão água para as cidades do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, e parte de Pernambuco. Está prevista a retirada contínua de 26,4 m³/s de água, o que equivale a 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850m³/s) no trecho do rio onde ocorrerá a captação.Segundo o Atlas da Agência Nacional de Águas (ANA), o Projeto São Francisco permitirá ganhos de eficiência, inclusive na economia de energia elétrica necessária para bombear água nas adutoras. Para o estudo, a interligação da bacia do São Francisco com os rios do Nordeste setentrional amplia o potencial de outros projetos, como as cisternas, poços, barragens enterradas e outras ações importantes para o desenvolvimento econômico e o bem-estar social.O Projeto de Integração do Rio São Francisco tem 700 km de extensão. É dividido em 14 lotes de obras e mais dois canais de aproximação, executados pelo Exército. Atualmente, o Eixo Leste, de 287 km e que levará água a Pernambuco e Paraíba, está com 70% das obras concluídas. O Eixo Norte, com 426 km de comprimento, está com 45% executado e beneficiará Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
Manifestações culturais e educação ambiental
OInstituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) fez um Inventário do Patrimônio Cultural da Calha do Rio São Francisco, que revelou a força do patrimônio imaterial, linguístico e das manifestações culturais da bacia. Além da cultura das populações locais, foram identificados mais de 200 sítios arqueológicos na chamada Província Cárstica de Arcos-Pains-Doresópolis, em Minas Gerais.
Cerca de 50 rádios (algumas comunitárias e a maioria comerciais) estão ligadas em uma rede que contribui com o MMA com notícias para toda a bacia. Em Barreiras (BA), por exemplo, radialistas criaram “econovelas” e conquistaram tanta audiência e participação dos ouvintes na programação sobre meio ambiente que acabaram se envolvendo na realização do I Congresso de Educação Ambiental da Bacia do Rio Grande (afluente do São Francisco), para debater sobre desenvolvimento sustentável.
No trajeto do rio estão áreas de Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga – biomas habitados por populações urbanas de grandes metrópoles, por indígenas, ribeirinhos e quilombolas, com diferentes culturas. Para fazer o planejamento, foi formulado o Zoneamento Ecológico-Econômico da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. O documento apoia a tomada de decisão por parte dos gestores do programa.
(Secom – Em Questão)