Rio vive momento de total exaustão – Por Lindberg Farias

Depois de um início de gestão marcado por ações corretas e importantes, o governo do Estado do Rio de Janeiro vive um momento ruim, de total exaustão.

A enorme desigualdade territorial e social é incompatível com a posição privilegiada que ainda ostenta, de segundo maior PIB do País. Isso não se reflete na qualidade de vida da população nem na prestação dos serviços públicos, precários e ineficientes.

É preciso ressaltar as duas faces do Rio de Janeiro, seus nítidos contrastes. O Rio do cartão postal, que recebe quase todos os investimentos do poder público, e o da vida real, do povo que sofre com o transporte público, com a falta d’água e com a insegurança.

A falta de continuidade das ações positivas gerou esse quadro. O superávit inicial deu lugar a um rombo bilionário nas contas do governo. A gestão fiscal aponta um déficit primário de R$ 4,7 bilhões nas contas do governo em 2013. As previsões não são nada animadoras para 2014, com déficit estimado de R$ 5,5 bilhões.

Com o poder público desconectado da realidade, a definição das prioridades foi equivocada e o governo estadual não aproveitou a fartura dos recursos federais para contemplar a imensa maioria da população. Todos os números apontam para o aumento do poder financeiro dos ricos e queda da qualidade de vida do povo.

Na área de saúde, o Rio foi o Estado que menos investiu em 2012, apenas 7,2% do orçamento. Um fato que espanta é o alto índice de tuberculose. A média nacional é de 37 casos por 100 mil habitantes, mas o Estado tem 70 por 100 mil habitantes. Na Rocinha, uma das maiores comunidades da capital, por exemplo, esse índice chega a 423 por 100 mil habitantes.

Os números não são favoráveis também em educação. O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) mostrou que, em 2006, o Estado tinha avaliações melhores que as da média nacional em leitura, matemática e ciências. Agora, estão abaixo. No último Ideb (avaliação de desempenho escolar), o Rio de Janeiro ficou em 15º lugar no país, sendo o último Estado das regiões Sul e Sudeste.

Em relação ao fornecimento de água, vale destacar que a Baixada Fluminense, a periferia da região metropolitana e alguns bairros da cidade do Rio enfrentam a pior situação dos últimos 30 anos. Há localidades sem água há três meses. Ou seja, um descaso total com a população.

Mesmo na área de segurança pública, que tem nas UPPs sua principal vitrine, os dados estão piorando, com aumento de roubos e de homicídios. Entendo que política de segurança tem que ser para todo o Estado, e também para o morro e para o asfalto.

O governo, por sua vez, não fez planejamento para implantar outras etapas do projeto das UPPs, que considero fundamental: a ocupação das comunidades com um exército de médicos, ensino em tempo integral, saneamento, formação profissional e atividades culturais.

Mesmo diante desse cenário, o governo insistiu em suas prioridades e se deslocou da agenda e dos sentimentos da população.

Um exemplo emblemático é o Maracanã. Desde a sua inauguração, em 1950, o estádio sempre teve um caráter democrático, recebendo pobres e ricos. Mas isso agora é passado. A reforma abocanhou R$ 1,3 bilhão dos cofres públicos. Se fosse para entregar a administração do Estádio para a iniciativa privada, tal como foi feito, as obras deveriam ter sido feitas com recursos privados. Poderia ter investido o dinheiro público em obras de saneamento e abastecimento de água.

Não faltam exemplos de situações perversas. Na área de transportes, a população vive irritada. A região metropolitana do Rio tem a pior mobilidade urbana do País, com o maior tempo de deslocamento casa-trabalho do Brasil, segundo dados do Censo do IBGE, superando São Paulo.

E o que o governo estadual faz? Dá prioridade à construção da Linha 4 do Metrô, que vai ligar Ipanema à Barra da Tijuca, investindo R$ 8,5 bilhões para transportar 350 mil passageiros por dia. Foi muito bom ter feito a Linha 4. Mas, enquanto isso, cerca de 1,5 milhão de passageiros da Baixada Fluminense e dos subúrbios continuam sofrendo nos trens da SuperVia, que só atendem 600 mil por dia.

Tenho viajado para todas as regiões do Estado e vejo que uma das principais demandas da juventude é o acesso à cultura. Não há equipamentos culturais nas regiões pobres do Rio. É hora de estimular os jovens, oferecendo-lhes mais espaço de participação, equipamentos urbanos e serviços públicos de qualidade.

Enfim, entendo que precisamos cuidar da vida das pessoas e, hoje, o governo do Rio não oferece um tratamento digno para todos. Os trabalhadores e a juventude estão excluídos.

Artigo originalmente publicado no site UOL Notícias nesta quinta-feira (15)

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