Washington Costa/MF

Com a economia em alta, a arrecadação federal manteve o crescimento no primeiro semestre de 2025. Em junho, as receitas somaram R$ 234,5 bilhões, alta real de 6,62% em relação ao mesmo mês do ano anterior, já descontada a inflação pelo IPCA. No acumulado dos seis primeiros meses, o total arrecadado chegou a R$ 1,42 trilhão, avanço real de 4,38% na comparação com o mesmo período de 2024, quando foram registrados R$ 1,29 trilhão. Os dados, divulgados nesta quinta-feira (24/7) pela Receita Federal, representam o melhor desempenho desde 2010, tanto para o mês quanto para o semestre.
As receitas administradas diretamente pelo órgão, que concentram os principais tributos federais, somaram R$ 226,6 bilhões em junho. O valor representa um crescimento real de 7,28% e nominal de 13,02% em relação ao arrecadado no mesmo mês de 2024, que foi de R$ 200,5 bilhões. No acumulado do ano, essas receitas totalizaram R$ 1,36 trilhão, com alta real de 5,04% e nominal de 10,5% sobre o valor de R$ 1,23 trilhão registrado até junho do ano passado.
Entre os fatores que contribuíram para o resultado do mês, destacam-se o aumento de 14,23% na massa salarial nominal; a alta de 3,56% nas vendas de serviços; e o crescimento de 2,35% na produção industrial; além do avanço de 1,79% nas importações, em dólar, e de 1,14% nas vendas de bens, segundo dados do IBGE.
No balanço apresentado à imprensa, o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Malaquias, reforçou o papel da atividade econômica nos resultados. “No período acumulado [primeiro semestre de 2025] não temos grandes diferenças em termos de comportamento dos números. Os principais indicadores que verificamos no mês, no período de janeiro até junho, apresentam o mesmo desempenho, ou seja, positivo. […]. Isso demonstra o aquecimento da economia e isso se reflete nos tributos, tanto da produção quanto do consumo”, afirmou.
Fatores não recorrentes
Malaquias explicou que ao comparar os dados de junho de 2025 com os do mesmo mês de 2024, é preciso considerar que o resultado do ano passado foi influenciado por fatores excepcionais. Após expurgar esses fatores não recorrentes da base de comparação, a variação ajustada é de 5,65% na receita administrada pelo Fisco.
“No mês de junho de 2025 não tivemos nenhum fator considerado atípico. Já em [junho] 2024, estamos incluindo na análise os rendimentos de capital decorrente da tributação dos fundos exclusivos e a calamidade do Rio Grande do Sul, quando houve o postergamento do pagamento de tributos”, explicou Malaquias.
Análise por tributo e setores
A análise da arrecadação federal em junho de 2025 mostra avanço na maioria dos tributos em comparação ao mesmo mês do ano anterior. De acordo com o coordenador de Previsão e Análise da Receita Federal, auditor-fiscal Marcelo Gomide, os dados revelam crescimento real em quase todos os grupos, com destaque para o Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre os rendimentos de capital.
“Esse grupo de tributos foi impactado principalmente pela variação que nós observamos nos fundos e nos títulos de renda fixa, que cresceram ambos quase 30% em relação a junho de 2024”, explicou. A principal razão para esse desempenho foi a manutenção da taxa Selic em patamares elevados, o que impulsionou os rendimentos dessas aplicações.
No caso da contribuição previdenciária, o crescimento real registrado foi de 6,61% em relação a junho do ano passado. Segundo Gomide, parte dessa alta decorre de uma base de comparação mais baixa, devido ao adiamento dos recolhimentos em 2024 provocados pela calamidade no Rio Grande do Sul. Ainda assim, ele ressalta fatores estruturais que também influenciaram positivamente o resultado, como o aumento da massa salarial e a redução das desonerações sobre a folha. “Em relação ao ano passado, nós estamos menos desonerados esse ano. Isso acaba repercutindo na arrecadação da contribuição previdenciária”, concluiu.
Houve ainda bom desempenho da arrecadação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) que cresceu 38,83% em junho. “Em termos de valor, isso representa, corrigido, R$ 2,2 bilhões a mais de arrecadação. E a principal razão para esse desempenho se deve realmente à alteração da legislação do IOF”, explicou o auditor.
O auditor-fiscal também mencionou que, no caso do Imposto de Importação e do IPI vinculado, o crescimento de 13,14% em junho foi motivado pela elevação das alíquotas médias. Já entre os pontos negativos, ele chamou atenção para o recuo de 5,52% observado na arrecadação do imposto de renda pessoa jurídica.
Ao analisar a arrecadação por setor econômico, Claudemir Malaquias destacou que o crescimento observado em junho de 2025 foi puxado principalmente por atividades ligadas ao mercado financeiro. “O setor registrou alta de R$ 5,6 bilhões a mais em junho em relação ao ano anterior; os seguros e previdência complementar, R$ 1,3 bilhão; e as atividades auxiliares do setor financeiro, R$ 1,33 bilhão”, detalhou.
Destaque também em relação à diferença de regulamentação do ano anterior foram as atividades de exploração de jogos de azar e apostas. No total, segundo os dados do Fisco, houve no setor um incremento de R$ 764 milhões nos tributos recolhidos em junho e, no acumulado do ano, o mercado já recolheu R$3,7 bilhões. “No ano passado, em junho, nós não tínhamos a atividade regulamentada. Daí a explicação para essa diferença”, disse o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal.
Termômetro da economia
Malaquias comentou que em junho a estimativa mensal de arrecadação do Imposto Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ/CSLL) registrou uma queda de 12,48% na comparação com o mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, há uma queda de 1,63%. “O IRPJ/CSLL foi influenciado por um decréscimo nas estimativas recolhidas no mês de junho. Lembrando que a estimativa é uma apuração que é provisória. O contribuinte faz a apuração e, se ele levantar um balanço de suspensão, ele pode deixar de recolher ou fazer um recolhimento menor, de forma que esse desempenho do mês de junho não demonstra uma tendência”, ponderou o coordenador de Previsão e Análise da Receita Federal.
No balanço trimestral, em junho houve uma alta de 21,91% ante mesmo período de 2024; e de janeiro a junho, um crescimento de 3,45%, considerando a mesma base de comparação. O lucro presumido aumentou 2,82% no sexto mês do ano e acumula uma alta de 6,77% no ano. As demais formas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPF/CSLL), incluindo o Simples Nacional, registraram crescimento de 3,68% no primeiro semestre e crescimento de 7,81% em junho frente ao mesmo mês em 2024.
Agência Gov