O senador Rogério Carvalho (PT-SE) concedeu nesta terça-feira (4/2) entrevista ao programa UOL News, transmitido pelo Canal UOL, onde conversou com os jornalistas Fabíola Cidral, Raquel Landim e Josias de Souza, e abordou a repercussão da simbologia dos bonés com a frase “O Brasil é dos brasileiros”, comentou sobre os desafios de sua liderança no Senado e analisou a relação entre o Governo Lula e o Congresso Nacional.
Na oportunidade, ele destacou a importância de dialogar com o senso comum para garantir que a comunicação política seja efetiva e alcance a população.
“A gente aprende a dialogar com o senso comum de forma direta e objetiva, tocando em questões que fazem parte do sentimento do povo brasileiro e instigam reações. Se não fizermos isso, vamos perder essa guerra da comunicação. Acho que o Sidônio está muito atento a esse novo momento da comunicação e está fazendo um trabalho com alquimismo, ou seja, buscando tocar o senso comum sem recorrer a um discurso hermético, fechado, excessivamente carregado de análise histórica sobre os problemas, mas sem perder a essência do que precisa ser comunicado: uma mensagem profunda”, disse.
Sobre a repercussão dos bonés, que ganhou notoriedade nos últimos dias, Rogério Carvalho afirmou que se trata de um contraponto ao discurso bolsonarista que tenta associar sua pauta ao nacionalismo americano de Donald Trump.
“Os bonés são claramente um contraponto a essa estratégia dos bolsonaristas de promover a eleição do Trump e sua aposta no slogan ‘Make America Great Again’. No Brasil, esse movimento se reflete na ideia de que ‘o Brasil é dos brasileiros’ e que ‘precisamos cuidar dos brasileiros’. Esse tipo de investida, no meu modo de ver, é muito acertado, porque a comunicação hoje se baseia no senso comum. Quando esse senso comum passa a validar o que se consome e o que pode ser colocado no consumo, temos um problema: a compreensão da realidade e a formação de opinião acabam ficando num nível muito raso”, explicou.
“Não vivemos mais num tempo em que os registros históricos da humanidade e o processo civilizatório determinam diretamente o que será consumido. Essa camada foi substituída por algoritmos que captam, em tempo real, o que de fato mobiliza sentimentos e estimula respostas imediatas. Esses algoritmos garantem que grandes corporações consigam vender mais, faturar bilhões e se tornarem superpotências maiores do que muitos países inteiros. Eles comandam o que será consumido e como será consumido. Por isso, precisamos entrar nesse universo. Talvez o Sidônio esteja percebendo isso e, se conseguir estruturar essa estratégia, podemos mudar a forma de falar com o Brasil e com os diversos setores da sociedade”, acrescentou.
Cenário internacional: China x EUA
Na entrevista, Rogério Carvalho também comentou sobre os impactos de uma possível guerra comercial entre China e Estados Unidos, alertando para os riscos que esse conflito pode trazer para o Brasil. “Sobre a questão China x EUA, corremos o risco de uma ‘bala perdida’, como disse José Rias. Um movimento impulsivo de Trump pode atingir qualquer economia em desenvolvimento. No entanto, a China já se antecipou. Tanto a União Europeia quanto o Brasil, que agora têm relações comerciais mais formais, estão atentos a essa situação. Hoje, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Quando o governo chinês sinaliza a isenção de tarifas para produtos desses países, ele está preparando o terreno para uma eventual guerra comercial mais intensa com os EUA”, apontou.
“Se os Estados Unidos impuserem novas restrições comerciais, as cadeias globais de suprimentos vão se reorganizar. Empresas multinacionais não operam com o mesmo nacionalismo exacerbado que Trump defende de forma irresponsável. Elas precisam sobreviver e dependem dessa cadeia global de suprimentos. A Tesla, por exemplo, depende da China para a produção de suas baterias. Se os EUA adotarem restrições mais rígidas, a Tesla e outras grandes empresas sofrerão pressão”, completou.
Para o Brasil, segundo Carvalho, esse embate econômico pode ter impactos significativos, mas o país ainda tem margem para se adaptar. “Para o Brasil, uma guerra comercial entre China e EUA pode gerar desafios. Nossa dependência econômica dos EUA é menor do que a do México ou do Canadá, que têm suas economias altamente integradas à americana. No entanto, o Brasil tem outras opções de mercado e pode se rearticular dentro da cadeia global de suprimentos. O problema é que, mesmo não sendo um país central nessa disputa, podemos ser alvo de represálias simbólicas”, alertou.
“Portanto, é preciso acompanhar de perto como os EUA vão se posicionar em relação ao Brasil. Diferente do México, que é peça-chave na indústria automotiva americana, ou do Canadá, que fornece metade do petróleo refinado pelos EUA, o Brasil ocupa uma posição diferente no cenário global. Precisamos levar isso em conta ao analisar os impactos dessa possível guerra comercial.”