Daniel Gomes
Senador Rogério Carvalho durante entrevista ao UOL News
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do PT no Senado Federal, concedeu entrevista ao UOL News, nesta quinta-feira (13/2), onde abordou temas cruciais para o cenário político nacional, como os ataques à democracia, a crise institucional, o papel da Petrobras e a necessidade de renovação política no Partido dos Trabalhadores (PT).
Ataques à democracia e tentativa de golpe
Logo no início da entrevista, Rogério Carvalho comentou sobre a narrativa de setores que tentam minimizar os ataques às instituições ocorridos nos últimos anos. “No Brasil, neste momento, parece que tudo é possível, inclusive esse absurdo: criminosos, flagrados cometendo crimes, agora querem — e ainda há quem defenda — dizer que o ataque à democracia não foi um ataque à democracia. Dizem que foi um ato de vandalismo, um ato de terrorismo, mas não conseguem admitir que tentaram um golpe de Estado”, criticou.
Ele também relembrou os episódios violentos que antecederam os ataques. “Eles planejavam o assassinato do presidente, do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, sem contar todas as agressões prévias às sedes dos Poderes, principalmente ao Judiciário, que já havia sofrido ataques no dia 12 de dezembro. Foram atos violentos: queima de ônibus, ameaças, e ainda estava programado para o dia 18 um novo ato, mas eles anteciparam e atacaram o meu local de trabalho”, reforçou.
E, quando questionando sobre o papel do ex-presidente Jair Bolsonaro em todo esse processo, o líder do PT no Senado foi enfático.
“Dizer que não houve tentativa de golpe? Como não? Bolsonaro liderou tentativas golpistas desde o momento em que se tornou candidato à presidência. Disse que precisava eliminar os diferentes, os ‘vermelhinhos’, o MST. Ao longo de seu mandato, atacou o Congresso, atacou o STF, incentivou a destruição das instituições e deixou 700 mil brasileiros morrerem durante a pandemia com sua política negacionista”, disparou.
Articulação no Senado e defesa da democracia
Como líder do PT no Senado, Rogério Carvalho reafirmou seu compromisso em barrar retrocessos no Congresso Nacional.
“Agora, o momento é de articulação. Precisamos dialogar com o presidente do Congresso Nacional, com os líderes do Senado, e, nas conversas com o senador David, colocamos uma questão central: não podemos permitir retrocessos. Não temos a maioria absoluta, mas acredito que, se a proposta regressiva chegar ao plenário, conseguiremos derrotá-la”, explicou.
Orçamento e relação com o STF
O senador também comentou sobre a importância do diálogo entre os Poderes para garantir a transparência orçamentária. “Sobre o orçamento, acredito que a questão não é apenas articulação política. É também um entendimento institucional entre o Congresso e o STF. Precisamos de uma solução definitiva para evitar confrontos com o Supremo sobre a transparência”, defendeu.
“Esse entendimento está em curso, e acredito que, até o final de fevereiro, será aprovado o orçamento anual, permitindo sua execução em 2025”, completou.
Petrobras e a importância da exploração responsável
Natural de Sergipe, estado pioneiro na exploração de petróleo em terra, Rogério Carvalho destacou o papel estratégico da Petrobras e sua responsabilidade socioambiental.
“Eu venho do estado que foi pioneiro na produção de petróleo em terra. Muitos grandes executivos da indústria petrolífera passaram por Sergipe, o primeiro estado brasileiro a produzir petróleo em terra. Nós sabemos o que a Petrobras representa e conhecemos sua responsabilidade socioambiental”, afirmou.
O senador também ressaltou o potencial energético de Sergipe e a importância de investir em pesquisa.
“Lembro de quando foi feita a identificação da bacia de óleo e gás próxima à foz do Rio São Francisco, em Sergipe. A previsão é que, até 2030, a produção alcance 240 mil barris de petróleo por dia, seis vezes o melhor momento da produção de Sergipe. Além disso, 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia — também seis vezes nossa maior produção histórica”, detalhou.
Valorização do conhecimento técnico e da ciência
Como médico, mestre e doutor em saúde pública, Rogério Carvalho defendeu a importância da ciência, mas frisou que decisões políticas precisam acompanhar o conhecimento técnico. “Eu sou técnico, sou médico, mestre e doutor em saúde pública, professor universitário e pesquisador. Trabalhei dez anos com pesquisa em educação médica”, revelou.
“Valorizo o conhecimento técnico, mas chega um momento em que é preciso decisão política. Técnica sem decisão não resolve. O interesse público deve ser o norte”, acrescentou.
Renovação do PT e formação de novos quadros
Ao final da entrevista, Rogério Carvalho fez uma análise sobre o futuro do PT e a importância da renovação partidária. “O PT precisa investir na formação de novos quadros. Precisamos renovar nossa leitura da realidade, porque vivemos um momento em que o processo civilizatório está sob ameaça”, pontuou.
Ele alertou para o impacto das redes sociais na formação do debate público e o desafio para as forças progressistas. “As bolhas das redes sociais romperam o filtro do conhecimento científico, e hoje o senso comum mais primitivo é que pauta os debates. É um desafio para qualquer força política comprometida com a civilização”, admitiu.
Rogério Carvalho encerrou reafirmando a importância de formar novas lideranças para o partido: “A média de idade dos nossos quadros já é elevada. É urgente formar novos líderes, porque a alternância de poder virá — e precisamos estar prontos”, concluiu.
