Roseli Pantoja tem CPF diferente do informado pela Polícia Federal

 Depoente negou ser sócia da empresa Alberto e Pantoja. Além disso, alegou que seu nome foi usado pelo esquema.

 

A Roseli Pantoja da Silva que se apresentou para depor à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tem CPF e filiação diferentes dos que constam nos registros oficiais como os da proprietária da Empresa Alberto e Pantoja – considerada pela Polícia Federal como integrante do esquema liderado por Carlinhos Cachoeira. Ficou evidente para os parlamentares que participaram da sessão desta terça-feira (15/08) que a mulher que chegou sem advogado, se declarou dona de uma “loja de rock” na Feira dos Importados, em Brasília, que funciona em um box alugado, não poderia mesmo ser sócia de uma empresa que chegou a movimentar R$ 60 milhões, segundo informações do relator Odair Cunha (PT-MG).

Roseli garantiu não conhecer nem Cachoeira, nem outros envolvidos com o esquema do contraventor e sequer o seu suposto sócio na Alberto e Pantoja. “Estou aqui sozinha. Não tenho nenhum envolvimento com essa quadrilha. Sei que meu nome foi usado. Estou aqui para esclarecer o que eu puder fazer”, afirmou, insistindo que sequer dispunha de recursos para contratar um advogado que a acompanhasse em seu depoimento.

“Pelo que eu soube, me procuraram num endereço que era meu e constava que eu tinha dois CPFs. Por isso achei que poderia ser eu. Mas esse CPF (informado pela Polícia Federal) não é meu”, insistiu a depoente, lembrando que a grafia do nome da suposta proprietária da Pantoja é diferente do seu: eu sou Roseli com “i” e não com “y”, disse.

O relator da CPMI concluiu que o depoimento de Roseli demonstra “o nível de complexidade da organização que usa o nome de pessoas, um CPF diferente e que coloca um endereço em que a pessoa morou ou mora”.  Segundo Odair Cunha, essa seria uma maneira de legalizar empresas de fachada.

Ex-marido tinha procuração

De acordo com as informações da Polícia Federal, Rosely Pantoja seria dona de cinco outras empresas, além da Alberto e Pantoja. A depoente reiterou que sequer conhece seu suposto sócio na empresa, Carlos Alberto de Lima. Roseli confirmou que foi casada com Gilmar Carvalho Morais, que é sócio da G&C Construções Ltda, também tida pela Polícia Federal como empresa fantasma do esquema. Segundo ela, eles se separaram há dez meses. Ela negou ter sociedade com ele e também disse desconhecer que ele tenha uma empresa. “Ele é contador, pelo que eu saiba ele não tem empresa nenhuma.” Mas levantou uma possibilidade: a de que seu ex-marido possa ter utilizado uma procuração que ela lhe entregara para abrir uma empresa.

A própria depoente informou que seu ex-marido usou o documento para abrir uma conta corrente na Caixa Econômica Federal, onde tomou um empréstimo que jamais foi pago. Assim, Roseli acabou com o nome inscrito em cadastros de inadimplentes.

“Até prova em contrário nós temos que acreditar na palavra da depoente. Há um mistério que envolve seu nome. Seu sobrenome é Pantoja e a empresa é Alberto e Pantoja”, disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento que convocou Roseli.

O relator quis saber mais detalhes sobre a procuração: “Quando a senhora entregou essa procuração a seu ex-marido?”, questionou, lembrando que a Alberto e Pantoja foi constituída em janeiro de 2010. “Acho que deve ter mais ou menos um ano; acho que foi no início do ano passado”.

Silêncio

Antes de Roseli Pantoja, a CPMI tentou ouvir o depoimento do ex-diretor do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO), Edivaldo Cardoso de Paula. Ele permaneceu calado “Seguindo a orientação do meu defensor técnico, o advogado que me acompanha, eu permanecerei em silêncio, evocarei o direito constitucional assegurado a todos os brasileiros”, declarou ao ser questionado pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), se gostaria de fazer uma exposição inicial.

“Peço que  essa atitude não seja interpretada como forma de menosprezar o trabalho do Legislativo’, disse”. Edivaldo é citado em mais de 500 depoimentos e ,segundo as investigações da Polícia Federal,  levaria recados de Cachoeira. Também foi flagrado articulando o repasse de recursos irregulares do governo goiano para empresas ligadas ao esquema do contraventor. Além disso, há a suspeita de que ele teria sido indicado ao cargo por Carlinhos Cachoeira.

O último depoente do dia, Hillner Braga, que foi segurança do senador cassado Demóstenes Torres, conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) uma liminar que lhe garantia o direito ao silêncio.  Hillner, que foi citado em ligações telefônicas captadas pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo assessorou Demóstenes durante quase sete anos.

Giselle Chassot

 

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