Jair Bolsonaro publicou em suas redes sociais, no domingo, uma série de dados distorcidos sobre repasses do governo federal para que os estados pudessem combater a pandemia de covid-19. Horas depois, os governadores o desmentiram, por meio de uma carta na qual explicam que a maioria dos valores listados é composta por recursos que já são dos estados e municípios e pelo auxílio emergencial, que foi determinado não pelo governo federal, mas pelo Congresso Nacional.
Mas por que Bolsonaro postaria uma mentira tão fácil de ser descoberta? Por dois motivos. O primeiro: como nada fez de efetivo para impedir o avanço do novo coronavírus, resta a ele confundir seus apoiadores, dando a impressão de que “fez sua parte” e que a culpa de a pandemia continuar matando mais de mil brasileiros por dia é dos governadores. Em outras palavras, para se salvar, ele aposta na divisão do país.
O segundo motivo, talvez ainda mais grave, é: ao forçar uma briga com os governadores sobre recursos destinados ao combate da pandemia no ano passado, Bolsonaro tira o foco do debate mais importante do momento, ou seja, o verdadeiro crime contra a população que seu governo pretende cometer agora, em 2021.
Bolsonaro não quer que o debate seja em torno do que será feito este ano para salvar a vida, o emprego e a renda do povo brasileiro. E não quer porque a intenção de seu governo é fazer ainda menos do que fez em 2020.
Vejamos três exemplos do que o descaso bolsonarista reservou para este ano:
• Em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) deve perder R$ 37 bilhões no PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual), em relação a 2020. Sim, haverá uma drástica redução de recursos para a saúde em plena pandemia;
• Neste ano, o governo Bolsonaro cortou 8% do PIB em despesas, e o país voltou para o teto de gastos. Dessa forma, não haverá recursos para várias outras áreas essenciais, mesmo diante do caos sanitário e social em curso;
• Além disso, o governo não assegurou no orçamento recursos para o Pronampe (programa de apoio às micro e pequenas empresas), para o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda; e nem mesmo para o auxílio emergencial, que, mais uma vez, só deve sair devido ao trabalho do Congresso Nacional.