O poder de negociação dos sindicatos dos trabalhadores foi mantido, e com ganho real nos salários negociados com as entidades patronais. Essa é uma das principais conclusões oferecidas pelo estudo divulgado nesta quarta-feira (21/03), pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entidade responsável pelo balanço anual das negociações salariais.
De um total de 702 acordos assinados no ano passado, 86,8% obtiveram reajuste acima da inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O percentual é 1,4 ponto percentual abaixo da verificada em 2010, mas, ainda assim, foi classificado como “extremamente positivo” pelo Dieese, considerando-se que, no ano passado, além do menor crescimento econômico (2,7%), houve inflação maior do que no ano anterior.
“Em que pese o crescimento econômico em 2011 ter sido praticamente um terço do de 2010, tivemos resultados muito parecidos nos dois anos”, confirmou José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese, ressaltando que o menor crescimento e a inflação mais alta poderiam prejudicar as negociações.
No ano passado, o INPC – que de acordo com a entidade serve de base para mais de 85% dos reajustes analisados – oscilou em torno de 6,5% a 7% no acumulado de 12 meses, acima da faixa entre 4,5% e 5% observada em 2010. “Houve uma ação dos sindicatos, mas, em certa medida, os resultados carregam o entusiasmo de 2010”, avaliou Silvestre, para quem o ganho médio em 2011 também foi positivo e marca uma mudança de patamar.
No ano passado, o aumento médio das 702 negociações acompanhadas superou o INPC em 1,38%. Em 2010, esse percentual foi de 1,68%. Tanto em 2008 como em 2009, o índice de aumento real médio havia ficado em 0,91%. “O ano de 2011 não fui muito diferente de 2010 (em termos de reajustes reais) mesmo com inflação média maior”, observou Silvestre.
Apesar dos resultados gerais semelhantes, o coordenador do Dieese ressaltou que a qualidade dos reajustes piorou, já que apenas 9,4% deles conseguiram aumento real acima de 3%. Em 2010, essa parcela foi de 16,3%. A maior parte dos reajustes (62,2%) superou a inflação medida pelo INPC entre 0,01% e 2%. Outros 15,1% das convenções superaram a inflação entre 2,01% e 3%. Apenas 7,5% igualaram o INPC e 5,7% ficaram abaixo dele.
No recorte por setores, apenas nos serviços o percentual de reajuste acima da inflação diminuiu, de 82,2% dos acordos em 2010, para 76,3% em 2011. Na indústria, esse número subiu de 89,8% para 90,4% no período. No comércio, a parcela avançou de 95,5% para 97,3% entre 2010 e 2011. Silvestre comentou que o setor de serviços é menos estruturado em relação ao comércio e à indústria, por ser muito pulverizado e possuir pisos salariais mais baixos, o que justifica o menor número de aumento real neste segmento da economia.
Para 2012, com inflação menor, aumento real de 7,2% do salário mínimo e crescimento econômico mais robusto, o Dieese espera que tanto o aumento real médio como a parcela de acordos que consigam superar o INPC seja ao menos mantida.
Com informações do Dieese, Valor Online e da Folha Online