Caso Bruno e Dom

Segundo PF, gerente da pesca ilegal mandou matar Dom e Bruno

Ao todo, são seis suspeitos de participação nos assassinatos; senador e líderes indígenas cobram punição
Segundo PF, gerente da pesca ilegal mandou matar Dom e Bruno

Arte: Cris Vector

Em coletiva na tarde desta segunda-feira (23), o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Fontes, confirmou que o mandante do assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, ocorrido no dia 5 de junho do ano passado, é Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como “Colômbia”. Segundo a investigação, que estaria 90% concluída, Colômbia forneceu munição e pagou advogado para os executores do crime. A motivação do duplo assassinato, segundo a PF, foi evitar que as vítimas denunciassem os envolvidos na pesca ilegal, principalmente do pirarucu, na região do Javari, fronteira do Brasil com Peru e Colômbia.

Os restos mortais de Bruno e Dom foram achados dez dias depois, na beira do rio Itaquaí, entre São Rafael e Atalaia do Norte. Foram mortos a tiros, e seus corpos foram esquartejados, queimados e enterrados. Executores do crime, Amarildo da Costa Oliveira, vulgo “Pelado”, Jefferson da Silva Lima e Oseney da Costa estão presos. Além deles, a PF apontou outros dois possíveis envolvidos nas mortes: Edvaldo da Costa Oliveira, irmão de Amarildo, e um sobrinho deles, menor de idade.

Inconcluso?
Segundo o procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliésio Marubo, a conclusão da PF “não é diferente do que havíamos dito em momento anterior. O próprio Bruno [Pereira] indicou informações e trouxe Colômbia como um dos gerentes do crime na região”. Eliésio Marubo avalia que sem responder perguntas pendentes não é possível considerar o inquérito concluído. “Por quê autoridades locais e empresários estavam tão ligados aos criminosos durante a prisão? Quem está financiando essas pessoas para que elas continuem com as atividades ilegais?”, questiona o defensor indígena, garantindo que desde a morte do jornalista e do funcionário da Funai nada mudou no Javari: “pessoas seguem sendo ameaçadas e o crime organizado continua atuando nas terras indígenas”.

O Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), também se manifestou por meio de nota. A organização avalia que a conclusão traz alívio, mas que falta muito para derrotar os criminosos no Javari. “O Brasil parece ter entendido agora, depois da visita do presidente Lula a Roraima, o que Bruno Pereira, Dom Phillips e tantos outros denunciaram desde 2019: o incentivo governamental explícito à invasão de terras indígenas, a paralisação das demarcações de terras, o apoio à grilagem e ao garimpo ilegal causam não só devastação ambiental como genocídio indígena”.

A entidade confirma que mais lideranças foram vítimas de ameaça de morte desde o assassinato de Dom e Bruno, e lembra que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos determinou medidas cautelares para proteger 11 pessoas ameaçadas na região. “Até agora não temos notícia de que essas medidas tenham sido cumpridas pelo Estado brasileiro”, denuncia. Por fim, cobra esclarecimento de outro assassinato: Maxciel Pereira, que era colaborador da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, foi executado em 2019 em Tabatinga (AM).

Mudanças urgentes
Uma limpa começou a ser feita na Região Norte entre órgãos responsáveis pela proteção e assistência aos povos indígenas. Depois de afastar coordenadores da área de saúde em Roraima, o presidente Lula promoveu mudanças em vários cargos da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Ao todo, são 54 afastamentos, entre exonerações e dispensas, e uma nomeação no órgão. Entre os demitidos, há pelo menos 13 militares.

A expectativa é que as mudanças feitas no estado vizinho, em razão da crise humanitária envolvendo os yanomami, sejam estendidas ao Amazonas para retomar os cuidados com os povos originários e o cerco ao crime organizado. Como ressalta a OPI, presença militar existe, “tanto na TI Yanomami quanto na TI Vale do Javari, com pelotões de fronteira e batalhões que de nada serviram para proteger essas regiões”.

O senador Paulo Rocha (PT-PA) cobrou total esclarecimento sobre a atuação do crime organizado no Vale do Javari e sua possível relação com o tráfico internacional de drogas, mas destacou a mudança de rumo da política na região.

“Queremos todas as respostas sobre este caso bárbaro e que todos paguem por seus crimes, inclusive os mandantes.  É hora de dar um recado claro: este país não aceitará que calem na bala as nossas lideranças ambientais”, sentenciou o senador.

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