Ao contrário de análises feitas na semana passada, sugerindo uma tendência de estabilização na taxa de contágios e mesmo no número de mortes por coronavírus no Brasil, a doença segue avançando por todo o território nacional, especialmente nas cidades do interior. Os registros de óbitos também não deram sinais de arrefecimento, com médias diárias de mais de 1 mil vidas perdidas. De acordo com o consórcio de veículos de imprensa formado por ‘G1’, ‘O Globo’, ‘Extra’, ‘O Estado de S.Paulo’, ‘Folha de S.Paulo’ e ‘UOL’, nesta quinta-feira (25), o Brasil registrou 54.434 mortes e 1.207.721 pessoas infectadas pelo coronavírus.
Apenas em São Paulo, 248.587 pessoas foram contaminadas e 13.759 morreram. Nas últimas 24 horas, 9.765 novos casos foram confirmados, levando o estado a ultrapassar a Itália em número de infectados. A taxa de isolamento nacional mantém-se abaixo de 40%, dificultando ainda mais o controle da doença. Há 40 dias sem comando, o Ministério da Saúde até hoje não apresentou um plano de contenção, assim como o presidente Jair Bolsonaro manteve com sucesso a prática de sabotagem ao combate da pandemia.
Segundo levantamento da Fiocruz, a flexibilização do isolamento social nas capitais representa um risco para o país, justamente no momento em que a doença se expande pelo interior. Análise dos pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz) aponta que a pandemia cresce em municípios sem condições de atender a demanda por leitos de UTI, sobrecarregando ainda mais as metrópoles.
Os especialistas estudaram Pernambuco como exemplo para mapear a trajetória de disseminação e concluíram que nenhum estado apresenta até o momento sinais de redução da transmissão de Covid-19. De acordo com o estudo,“essa tendência pode configurar um patamar alto de transmissão (‘platô’), que pode se prolongar indefinidamente”.
De acordo com os estudiosos, a região metropolitana do Recife, além de Garanhuns e Vitória do Santo Antão (cidades com mais de 130 mil habitantes), atingiram o pico de casos entre 17 e 23 de maio. Logo em seguida, o governo decidiu optar por uma flexibilização. Três semanas depois, cidades do interior continuaram a ter crescimento de casos, em especial Caruaru e Petrolina, com cerca de 350 mil habitantes cada uma. Os pesquisadores observaram que os municípios só atingiram o pico da doença 21 dias depois do Grande Recife, entre 7 e 13 de junho.
“O que acontece na região metropolitana se repete no interior com duas ou três semanas de atraso. Por isso é importante manter as medidas de isolamento, mesmo depois de passado o ‘pico’ nas capitais”, afirma o epidemiologista Diego Xavier, do Icict/Fiocruz, em depoimento à Agência Fiocruz de Notícias.
“As medidas de relaxamento do isolamento social nas cidades maiores e nas capitais, sobretudo quando essas cidades apresentam comportamento ascendente das curvas de óbitos, representam um risco para o agravamento do impacto da epidemia, tanto devido ao aumento da possibilidade de difusão de casos para cidades do interior, quanto pela sobrecarga dos serviços de saúde que isso pode provocar nas capitais e cidades de maior porte”, explica a cartógrafa Mônica Magalhães, integrante do projeto.
“Um aumento mesmo que pequeno dos casos graves nas grandes cidades e nas capitais, somado ao aumento da demanda dos municípios do interior, configura um cenário delicado e que pode, em última análise, ocasionar o colapso no atendimento de saúde”, alerta a pesquisadora.