Pinheiro: precisamos discutir um projeto que tenha início, meio e fimNão foi a primeira vez que o senador Walter Pinheiro (PT-BA) criticou, no plenário do Senado, algumas posturas do governo que incomodam não apenas muitos petistas, mas praticamente toda a base aliada e até mesmo a pequena parcela de parlamentares da oposição que votam a favor de matérias bem estruturadas, discutidas e que tenham sido negociadas politicamente de maneira republicana.
O senador baiano lembrou que, no ano passado, “saiu às ruas para pedir voto e ajudar a reeleger a presidente Dilma Rousseff”, mas que, hoje, o que se ressalta é a falta de diálogo desse mesmo governo que ajudou a reeleger. “Qual é o rumo? Com quem a gente conversa?”, perguntou, enfatizando que o governo tem a obrigação de explicar ao Senado e aos eleitores qual é o caminho que o País trilhará depois das intenções de cortes de gastos anunciada na última segunda-feira. “Cortes”, sublinhou, “sobre os quais ninguém da base de apoio ao governo foi consultado”.
Segundo Pinheiro, o rumo para o Brasil atravessar as dificuldades atuais seguramente não está no envio, pelo governo, de matérias a serem aprovadas pelo Congresso sem qualquer tipo de explicação. Menos ainda, pontuou, o governo deve anunciar uma importante medida na quinta-feira, modificá-la no sábado e reapresenta-la sob outra forma na segunda.
“Volto a esta tribuna com o mesmo espírito, que não é o de provocar, nem criticar, mas contribuir. Como é possível? Qual é o rumo? O que é que podemos organizar? Um conjunto de pontos soltos ou uma espinha dorsal? Algo que tenha consequência e para o qual se possa olhar e dizer: vou atravessar o deserto, mas do outro lado vou encontrar esse poço ou se descobriremos (depois da travessia) que fomos para mais fundo do poço”, observou.
Ao lembrar, mais uma vez, que ajudou a eleger o atual governo no ano passado, o senador baiano foi enfático ao frisar que pretende mesmo é contribuir, e não apenas ficar no Senado aguardando um pacote encaminhado pela presidência.
“Toda a vez que a gente cobra do governo para ter uma conversa diziam que é porque estão saindo do PT. Eu não estou aqui tocando no PT. Estou falando do governo. Muita gente confunde as coisas. Todas as vezes que nós apresentamos uma crítica com proposta ou que conclamamos a construção de caminhos e possibilidades para a gente sair da crise em que o País se encontra, a primeira pergunta que vem é sobre se estamos brigando com o PT, se estamos brigando com o governo, quando é que a gente vai sair”, disse. “Nossa maior preocupação é uma saída para o Brasil, não uma saída para o Paulo Paim, uma saída para Walter Pinheiro ou uma saída para Jorge Viana”, acrescentou.
Em aparte, o senador Paulo Paim (PT-RS), que quando critica o governo logo saem comentários de que está deixando o partido, foi claro ao dizer que a questão nem é esta: sair ou não sair do Partido dos Trabalhadores. “Temos conversado muito nesse sentido. Nós queremos saber para onde vamos. Para onde vai o Brasil. Queremos o melhor para o País. Quando fazemos uma crítica pontual é porque queremos ajudar. Para nós seria muito mais fácil calar a boca, ficar quietinho”, disse.
Paulo Paim disse que não consegue ficar na inércia e fala o que considera do momento sobre o governo e do momento da política. Para ele, o discurso de Walter Pinheiro o fez recordar o filme sobre o líder sul-africano Nelson Mandela, ou seja, as declarações soam como um grito. “Eu chamaria o que vi num filme de Mandela, quase um grito de liberdade da tribuna, mas a liberdade no sentido amplo, a liberdade do diálogo, da fala, do entendimento, da construção, da proposição”, afirmou.
Paim continuou seu aparte e sintetizou o discurso de Pinheiro: os parlamentares estão pedindo para dialogar com o governo que ajudaram a elege – só que o outro lado não dialoga. “O que estamos expressando é o que grande parte da bancada (petista) expressa em todas as conversas, só que alguém num determinado momento começa a falar o que pensa, como Pinheiro está fazendo agora. Nós queremos é dialogar”, disse.
Pinheiro retomou a palavra e, antes de encerrar, enfático, afirmou: “Eu quero conhecer um projeto que tenha início, meio e fim. Que possa me dar garantias de que do outro lado vamos resolver o problema. Esse é o desafio em que todos devemos estar imbuídos. Não estou preocupado em salvar a pele de ninguém, muito menos a nossa. Precisamos e temos a obrigação de encontrarmos uma saída para a crise do Brasil”, assinalou.
Marcello Antunes