A revoada de investimentos produtivos no Brasil, que se acelerou com a crise do coronavírus em 2020, continua batendo marcas históricas. Em um momento de superação da pandemia por economias mais fortes, o ingresso líquido de Investimentos Diretos no País (IDP) caiu pelo terceiro mês consecutivo em junho e retrocedeu ao nível mensal mais baixo em cinco anos.
Os US$ 174 milhões (R$ 898,88 milhões) que ingressaram no país em junho estão 96,63% abaixo dos US$ 5,165 bilhões (R$ 25,62 bilhões) registrados no mesmo mês do ano passado. O dado mensal do IDP foi o mais baixo desde julho de 2016 (- US$ 103 milhões).
O motivo apontado pelo Banco Central (BC) para o tombo é a redução dos empréstimos feitos pelas matrizes das empresas estrangeiras a suas subsidiárias no país. A conta de lucros reinvestidos no Brasil também foi negativa, com as empresas optando por remeter para as sedes um volume de recursos superior ao lucro auferido no mês.
Por outro lado, os investimentos em renda fixa, ações e fundos de investimentos em junho chegaram a US$ 5,1 bilhões. Mas a maré pode virar também no mercado financeiro, diante da expectativa de o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, sinalizar quando poderá subir os juros.
Nesse cenário, investidores estrangeiros ensaiam uma retirada dos mercados emergentes considerados mais arriscados, como o Brasil. Amostra disso foi a saída líquida de R$ 5,6 bilhões de capital estrangeiro da Bolsa de Valores de São Paulo em julho, no acumulado até o dia 23. Foi o primeiro saldo negativo desde março, quando foram retirados R$ 4,6 bilhões.
Ao Correio Braziliense, Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, afirmou que o cenário de insegurança no país leva à fuga de empresas e investidores. “No momento, o risco Brasil é muito grande, dos pontos de vista político, econômico e ambiental. A demora na recuperação econômica, a lentidão na vacinação e a crise política têm amedrontado as empresas”, avaliou.
Ao Estado de São Paulo, o economista-chefe para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, disse que o Brasil poderia estar atraindo muito mais investimento, dado o potencial e a dimensão da economia. “O interesse caiu muito nos últimos dois anos. O grande investidor estrangeiro se desinteressou pelo país. O Brasil desencantou”, lamentou.
Para o deputado federal Rogério Correia (PT/MG), a desconfiança crescente com relação ao desgoverno Bolsonaro, movida pela condução criminosa do combate ao coronavírus, a piora nas contas públicas e a atitude autodestrutiva na Amazônia e no Pantanal, gera um custo altíssimo para o país.
“Investimento direto despenca e é o menor em cinco (5!) anos. Mas conhecemos Paulo Guedes e não demora ele dará um jeito de culpar os servidores públicos… Aliás, ele e seu chefe Bolsonaro são dois mitos… Mitos da incompetência! E o povo paga!…”, afirmou em postagem no seu perfil no Twitter.
País perdeu 62% dos investimentos estrangeiros diretos em 2020
A equipe econômica do desgoverno Bolsonaro também é responsável pela maior queda do Investimento Estrangeiro Direto (IDE, na sigla em inglês) em duas décadas. A derrocada está impressa no Monitor de Tendências de Investimentos Globais 2021.
O documento, divulgado em junho pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad na sigla em inglês), revelou um tombo de 62% no volume de investimentos externos do Brasil no ano passado. O total caiu de US$ 65 bilhões em 2019 para US$ 25 bilhões em 2020, o menor valor dos últimos 20 anos.
A fuga acelerada de capitais fez o país o Brasil despencar da 4ª posição, em 2019, para a 11ª no ranking global da entidade, braço da Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil também perdeu o posto de país mais atrativo da América Latina e Caribe para o México, que havia superado há 14 anos, sob Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2007, Brasil recebera o montante recorde de US$ 34,6 bilhões em IED, um crescimento de 83,7%, bem acima da média global (29,9%), que o fez avançar oito posições no ranking global. Naquele ano, o Brasil também foi o sétimo país mais promissor para expansão de negócios no médio e longo prazo, graças ao potencial de crescimento do mercado local.
Em 2020, 87% dos países do mundo apresentaram taxa de investimento maior que a do Brasil. No ano passado, os investidores estrangeiros retiraram US$ 51 bilhões líquidos em investimentos do país. Foi o oitavo ano consecutivo de fuga de recursos, conforme dados do Banco Central (BC). Este ano, pelo visto, não será diferente.