Na noite desta terça-feira (18), o Plenário do Senado derrotou o ódio, derrotou as fake news, as ameaças de morte contra parlamentares. O Senado da República rejeitou, por 47 votos a 28, o decreto do presidente Jair Bolsonaro que pretendia liberar a posse e facilitar o porte de armas no Brasil.
“Senhor presidente da República, pelo amor daquilo que Vossa Excelência tenha como mais sagrado, trate da recuperação econômica do País, trate da volta do emprego, trate da prosperidade da nossa gente. A bala só vai cair na mão de bandidos e milicianos para matar pobres e gente do bem”, apelou Jaques Wagner (PT-BA), um dos senadores que subiram à tribuna da Casa para defender a derrubada do decreto das armas.
Freio na milícia
Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o Plenário votou a favor da vida. Um freio na lógica de “construir milícias que podem ser utilizadas para qualquer motivo político e de qualquer natureza, para os irmãos se matarem numa guerra fratricida, que é isso que está sendo patrocinado pelo governo da República do Brasil”.
A rejeição à proposta armamentista ficou acima das bancadas. Foram muitos os senadores e senadoras governistas que manifestaram sua discordância com a proposta de Bolsonaro e defenderam a aprovação do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que tornou sem efeito a canetada do presidente.
Ameaças e robôs
A vitória veio após uma semana tensa. Desde a última quarta-feira (12), quando a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou os PDLs contra as armas — um deles de autoria da Bancada do PT — os senadores que se opõem à liberação proposta por Bolsonaro foram alvo de feroz campanha nas redes sociais e chegaram a receber ameaças de morte.
Antes da decisão da CCJ ser avaliada pelo Plenário, as hordas de bolsonaristas usaram a internet para constranger os senadores e tentar virar o jogo. “Quero fazer um protesto contra os robôs do Major Olímpio. Eles erram muito no português, dizem muito palavrão”, ironizou o senador Otto Alencar (PSD-BA), referindo-se ao líder de Bolsonaro no Senado.
País artificial
“Todos nós rimos do bom humor do senador Otto, mas ele tem razão, e o assunto é muito sério”, frisou o senador Humberto Costa (PT-PE). Na condição de líder do PT, Humberto já havia solicitado ao líder do governo que alertasse o presidente da República sobre as consequências da permanente incitação de sua rede de apoiadores contra instituições como o Legislativo.
Humberto repudiou a campanha de intimidação. “O que se está fazendo com o Congresso Nacional é sitiá-lo”. Nas redes, as hordas bolsonaristas criam um País paralelo, artificial, aponta Humberto. Um exemplo é que o senador esteve em várias localidades do Brasil ao longo da semana, sem que qualquer pessoa o abordasse sobre o tema das armas. “Mas no meu WhatsApp tem mais de mil mensagens agressivas”.