O primeiro-secretário do Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), defendeu nesta terça-feira (26/3), em entrevista à TV Senado, que a Casa investigue a hospedagem do ex-presidente na sede da Embaixada da Hungria, em Brasília. Segundo ele, a estadia no local “levanta muita suspeição” e precisa ser apurada.
Em comunicado a veículos de imprensa, divulgado na segunda-feira (25/3), a defesa de Bolsonaro confirmou que o ex-presidente ficou dois dias hospedado, “a convite”, na embaixada. Segundo advogados do ex-chefe do Executivo, a estadia foi para “manter contatos com autoridades do país amigo” e outras interpretações da visita seriam uma “evidente obra ficcional”.
Alvo de inquéritos da Polícia Federal, Bolsonaro ficou hospedado temporariamente e, em uma embaixada — considerada território inviolável pela Convenção de Viena, de 1961 — não poderia ser preso por autoridades brasileiras sem o consentimento do outro país.
“Isso levanta muita suspeição e essas suspeições precisam ser aprofundadas com quem deu abrigo, em tese um abrigo ou uma conversa no sentido de tê-lo como refugiado, ou recebê-lo no país como exilado ou coisa do tipo em função de um crime que ele cometeu aqui. É preciso que o Senado investigue e apure essa questão”, afirmou Rogério.
Como parte das funções de fiscalização do Senado, os senadores podem apresentar, por exemplo, requerimentos de convite ao embaixador húngaro, Miklós Halmai, para prestar esclarecimentos.
A hospedagem de Bolsonaro na embaixada foi revelada pelo jornal norte-americano The New York Times, que teve acesso a imagens de câmeras de segurança. As gravações mostram o ex-presidente chegando ao local em 12 de fevereiro. Ele teria permanecido na embaixada até a tarde do dia 14, Quarta-Feira de Cinzas.
Dias antes, em 8 de fevereiro, a Polícia Federal havia realizado a operação Tempus Veritatis para apurar suposta organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de direito após as eleições de 2022. A ação, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, mirou aliados próximos de Bolsonaro, como militares, ex-assessor e ex-ministros do seu governo. Na ocasião, o passaporte do ex-presidente foi confiscado.
Para Rogério, as investigações em andamento da Polícia Federal e as realizadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Golpe vão na direção de apontar Bolsonaro como o “mentor de uma tentativa de golpe no Brasil” após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022.
“É preciso não deixar passar nada do que esteve por trás da tentativa de golpe em 2022 e em 8 de janeiro de 2023 porque enquanto o Brasil não levar a sério a democracia, enquanto o Brasil não punir aqueles que atentam contra a nossa democracia, contra o Estado democrático de direito, nós não teremos uma democracia e instituições de fato fortes e vigorosas para resistir a outros atentados”, disse o senador.