Senador Demóstenes Torres: O despachante de luxo do contraventor

Entre as certezas de Humberto, está a de que o senador goiano valeu-se do seu prestígio para viabilizar interesses de Cachoeira.

A atuação do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) junto a diversos órgãos públicos não deixou margem de dúvidas para o senador Humberto Costa (PT-PE): o ex-líder do Democratas feriu o decoro parlamentar ao se relacionar com o contraventor Carlinhos Cachoeira.

O relatório de Humberto lista duas certezas sobre Demóstenes: a) o parlamentar valeu-se do seu inegável prestígio para viabilizar interesses econômicos do “contraventor”; b) foi montada uma teia de ligações, consórcios, parcerias, sociedades e associações empresariais em que se pode averiguar a conhecida técnica de commingling (mescla) para obstaculizar qualquer investigação sobre o paper trail.

Este fato pode ser comprovado na atuação do senador goiano na chamada CPI dos bingos, que investigou os jogos ilegais no País. Naquela ocasião, lembrou Humberto, Demóstenes atuou como “implacável inquisidor” em todos os episódios a respeito ao suposto envolvimento do então Ministro Antonio Palocci Filho com a “máfia angolana” de jogos, ou com o “dinheiro de Cuba na caixa de uísque”.  A Comissão Parlamentar de Inquérito estava justamente investigando gravação de 2002 em que aparecia Carlinhos Cachoeira’, e expôs o então assessor parlamentar da Casa Civil, Waldomiro Diniz, à época Presidente da Loteria do Rio de Janeiro (Loterj).

No relatório, Humberto Costa enfatiza que a atuação de Demóstenes passou ao largo deste episódio. “O Representado, todavia, não obstante a natureza da CPI dos Bingos, em que pese o envolvimento direto de pessoa relevante na sociedade goiana, com quem o Representado mantinha relação de amizade, e apesar de sua destacada participação no processo de investigação parlamentar, foi tomado por súbita amnésia em relação a  esses fatos recentes da vida nacional, nos quais o seu protagonismo muito contribuiu para sua própria projeção como político notável, de envergadura nacional”. 

Em contrapartida, Demóstenes acreditava que seu amigo era um empresário honesto. Como gastou boa parte de sua defesa alegando desconhecer as atividades ilícitas do contraventor, o senador goiano assegurou, repetidas vezes, que não agiu em defesa de seus interesses comerciais pouco ortodoxos.

No relatório, o senador Humberto Costa diz que encontrou um grande número de evidências demonstrando o contrário. “Sua Excelência lidou com interesses do “empresário” Cachoeira em diversos órgãos e entidades, tais como Anvisa, DNPM, Ibram-DF, Ibama, DNIT, Infraero, Receita Federal, MEC, Governo de Goiás, Prefeituras em Goiás”, diz o texto.

E acrescenta que houve, ainda um caso da CELG, no STF e de matéria eleitoral, junto ao TSE. (Demóstenes) “atuou, outrossim, em diversos Estados, como por exemplo: Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso, GDF, Tocantins e São Paulo. Pela sua movimentação em outros entes federados, vê-se, de plano, que sua ação não se voltava precipuamente à promoção dos interesses do empresariado goiano em termos genéricos. O que se vê em destaque é o seu empenho em favor dos interesses de Cachoeira, estivessem eles localizados em Goiás ou alhures” observa o relator.

O texto apresentado ao Conselho ainda detalha várias intervenções do acusado em defesa do contraventor. “Ante os elementos aqui coligidos, concluo que, no que diz respeito a capitais de Cachoeira já integrados, é evidente a atuação do Senador Demóstenes Torres como um “despachante de luxo” do “contraventor”.

Conclui o relator: “Considerado o relacionamento entre o Representado e Cachoeira, não posso deixar de reconhecer que, por seus atos, o Senador Demóstenes Torres, praticou, de forma continuada, o crime de advocacia administrativa, capitulado no art. 321 do Código Penal, envidando esforços para o sucesso dos negócios de Carlos Augusto de Almeida Ramos, capeados de legalidade, valendo-se da sua qualidade de Senador da República.”

Giselle Chassot

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