Daniel Gomes

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) fez um discurso contundente nesta quarta-feira (12/11), durante a reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, que realiza sabatina dos indicados ao Superior Tribunal Militar (STM), à Procuradoria-Geral da República (PGR), ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Entre os nomes analisados estão Paulo Gonet (recondução à PGR), Anísio David de Oliveira Júnior e Flávio Marcus Lancia Barbosa (STM), além de Jaceguara Dantas da Silva e Fábio Francisco Esteves (CNJ).
Durante sua fala, Rogério Carvalho fez um alerta sobre o que chamou de “relativização da realidade e dos fatos” e associou esse comportamento à fragilização das instituições democráticas.
“Quero chamar a atenção para o fato de que estamos vivendo uma certa relativização da realidade, dos fatos e das interpretações sobre os acontecimentos. E isso é um passo terrível para esfarelar, transformar em pó qualquer construção de sociedade e, até mesmo, de institucionalidade”, afirmou o senador.
Pandemia e desinformação
Para o parlamentar, a negação de fatos comprovados, como o que ocorreu durante a pandemia de Covid-19 e os ataques golpistas de 8 de janeiro, compromete a própria noção de verdade e justiça.
“Se os fatos passam a ser relativizados a partir do olhar de quem relata um determinado acontecimento, e não com base em critérios objetivos que qualifiquem esses fatos, desaparece a base para qualquer tipo de análise, abordagem institucional ou jurídica”, pontuou.
Carvalho relembrou os 700 mil brasileiros mortos pela Covid-19, criticando o negacionismo e a postura do então presidente da República, que, segundo ele, propagou desinformação e minimizou os riscos da doença.
“Não foi ninguém que disse: foi o próprio presidente da República, à época, que chamou a Covid-19 de ‘gripezinha’, que afirmou que ‘os fortes sobreviveriam’ e ‘os fracos morreriam’. Foi ele mesmo quem propagou a cloroquina, quem disse que a vacina não tinha importância e que modificaria geneticamente as pessoas”, lembrou o senador.
Segundo ele, “essa desinformação foi mortal e levou milhões de brasileiros a comportamentos de alto risco, o que resultou em mais de 300 mil mortes evitáveis”.
“Foi tentativa de golpe, não há inocentes”
Em seguida, Carvalho fez uma conexão direta entre a manipulação da verdade durante a pandemia e a narrativa golpista construída antes dos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando extremistas invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
“Dizer que o 08 de janeiro foi uma mera movimentação de pessoas desorientadas é falso. Essas pessoas estavam acampadas e insufladas ao lado dos quartéis. Foram alimentadas e treinadas para agir. Isso não existiu?”, questionou.
Com isso, Rogério Carvalho também recordou as tentativas de deslegitimar o resultado das eleições de 2022, citando a manifestação pública do então presidente do PL que pedia a anulação das eleições majoritárias. “Vamos negar que houve a construção de toda uma ideia de que as eleições foram ilegítimas? Não dá para negar. Houve uma articulação política e comunicacional para enfraquecer as instituições e corroer a confiança do povo na democracia”, disse.
“Eu vi quando invadiram o Congresso Nacional, o STF e o Palácio do Planalto. E o que são essas instituições? São os símbolos do Estado Democrático de Direito, da República, da institucionalidade”, acrescentou.
Carvalho classificou o episódio como uma tentativa de golpe, reforçando que a lei que embasou as condenações dos envolvidos foi a mesma que ele relatou no Senado, que trata da tentativa violenta de abolição do Estado Democrático de Direito.
“A lei que embasou o julgamento foi justamente a lei que cria os tipos penais para a tentativa de golpe. E foi isso o que houve: uma tentativa de golpe. Não há inocentes. Quem estava ali sabia o que estava fazendo”, reforçou.
Além disso, o senador destacou que negar a realidade é ferir o próprio alicerce da democracia e que a verdade e as instituições devem prevalecer sobre as narrativas.
“Negar os fatos é negar a própria condição de estar vivo e de testemunhar a história. O Brasil precisa de leis, instituições fortes e de uma atuação ilibada daqueles que defendem o Estado Democrático de Direito”, concluiu.



