Daniel Gomes

Senador durante entrevista ao programa Ponto de Vista, da Revista Veja
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) concedeu, nesta quinta-feira (26/6), uma entrevista ao programa Ponto de Vista, da Revista Veja, em que abordou temas centrais da conjuntura política e econômica do Brasil. Em tom direto e crítico, o parlamentar defendeu a democracia, analisou os desafios do governo Lula, discutiu o papel do Congresso Nacional e destacou os caminhos possíveis para fortalecer a economia popular e proteger os direitos sociais.
Durante a entrevista, Rogério criticou a forma como o Congresso articulou a derrubada do decreto que tratava do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), classificando a velocidade da votação como um movimento “precipitado e desestabilizador”. Para ele, o governo precisa manter sua tarefa regulatória, mesmo diante das pressões.
“Essa velocidade toda não é boa. Mas, insisto: já sabíamos que o decreto seria derrubado. Ainda assim, o governo tem que cumprir sua tarefa regulatória. Agora, cabe ao presidente Lula sentar com os presidentes das Casas e discutir como compensar essas perdas. Esse é o caminho”, afirmou o senador.
Carvalho também destacou que, na política, nenhum acordo se sustenta se não houver vigilância constante. “Na política, nada do que é acordado tem validade antes de ser cumprido. É preciso trabalhar o tempo todo para que o acordo seja mantido. Os acordos sofrem diversos tipos de influência — da oposição, do mercado, de setores da economia”, disse.
Defesa da legalidade e da atuação do governo
Ao tratar da constitucionalidade dos atos do Executivo, o senador reforçou que o governo agiu dentro dos limites legais. “O governo pode fazer isso? Pode. Está amparado pela Constituição. Mas agora precisa sentar com o Congresso e discutir formas de aumentar a arrecadação, garantir as metas fiscais e honrar os compromissos do Brasil neste ano”, argumentou.
Ele também descartou qualquer cenário de colapso, garantindo que “não haverá contingenciamento nem novos cortes”. “Se for o caso, o governo pode editar um novo decreto”, comentou.
Segundo o líder do PT no Senado Federal, a melhor saída passa pelo diálogo. “As possibilidades são muitas, mas a melhor de todas é a que passa pelo diálogo e pela negociação”, reforçou.
A “era da treta” e o perigo da política do conflito
Um dos pontos altos da conversa foi a crítica à cultura política do conflito e da superficialidade. Rogério Carvalho foi enfático ao dizer que o Brasil vive hoje na “era da treta”, marcada por debates rasos e alarmismo. “Vivemos de treta em treta. Tudo é visto a partir do conflito. Falta profundidade no debate. Passamos a impressão de que o país está parado, quando, na verdade, está crescendo, gerando empregos, com inflação sob controle, renda em alta e aumento das exportações”, ressaltou.
Para Rogério, o governo Lula tem mostrado força e realizações, mas isso é frequentemente distorcido. “O governo não está infartado. O coração está forte. Está batendo. Há muitas realizações. Mas essa não é a impressão que se transmite”, expôs.
Por essa razão, Carvalho disse que é urgente reconstruir uma comunicação pública mais estratégica. “Não é só um problema de comunicação, é uma lógica que promove o confundimento. E esse confundimento gera desinformação, fragiliza a economia e enfraquece a teia social”, alertou.
“Continuo otimista. Não vejo isso como uma derrota, mas como um recado político. É algo conjuntural, não estrutural. Temos um país forte e um governo que governa de verdade. Isso me mantém otimista. Muito otimista”, acrescentou.
”Os debates são necessários, mas precisam ser responsáveis”
No campo da economia, o líder do PT fez críticas à narrativa liberal que pede cortes de gastos sem explicitar onde eles devem ocorrer. “O Brasil não é mais um país perdulário. Onde estão os gastos excedentes? Na saúde? Na educação? Na Previdência? Nos benefícios sociais? Quem propõe cortes precisa dizer onde quer cortar. Esse discurso genérico, vazio, é só retórica”, disparou.
“Querem repetir o que Temer e Bolsonaro fizeram? Congelar investimentos em saúde e educação? Vamos fazer esse debate às claras. Esse é o caminho”, concluiu.