Foto: Sergio Lima/AFP
Caiu por terra mais uma tentativa de inverter os fatos da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes foram vandalizadas. Em debate no Plenário do Senado nesta quarta-feira (19), senadores governistas desmontaram a nova narrativa bolsonarista para tentar jogar a culpa dos atos nas vítimas dos atentados à democracia.
O tema foi levantado pelo senador Flávio Bolsonaro, que citou imagens divulgadas pela emissora CNN para novamente tentar jogar a culpa dos atos terroristas no governo Lula.
A fala desesperada foi mais uma tentativa de tentar livrar o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, de qualquer responsabilidade sobre os ataques. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a Polícia Federal (PF) dê depoimento sobre os atos de 8 de janeiro.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) rebateu de imediato a nova armação golpista em cima de imagens descontextualizadas. E lembrou que a verdade nem sempre é o que parece, exemplificado com a suspeita de conivência com os terroristas que havia acerca da polícia legislativa do Senado e que foi desmentida com o início das investigações.
“Precisamos ter cautela ao falarmos desse vídeo que foi divulgado pela CNN. Nós vimos aqui, no Senado, imagens de policiais legislativos que, aparentemente, estavam facilitando a vida dos invasores. Na prática, estavam prendendo e garantindo que os invasores ficassem aqui, para levá-los depois para o andar de baixo, onde foi tomado o depoimento. E foi a Casa que mais conseguiu prender no dia do golpe”, afirmou Rogério. A ação do Senado foi a que mais ouviu invasores no dia dos ataques.
“Essas imagens [da CNN], apesar de verdadeiras, podem estar sendo contadas de uma forma, ou construindo uma versão mentirosa da realidade. Um teórico chamado Byung-Chul Han, um chinês que escreve sobre a infocracia, diz que ocorre no mundo das redes sociais a desfactualização. O que significa dizer que, aquilo que é real, material, não importa na construção da versão dos fatos”, acrescentou o senador petista.
O parlamentar acrescenta que o tempo responderá a verdade sobre os fatos do dia dos atos terroristas. Ele ainda lembrou que, na próxima semana, será instalada a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro e os fatos não poderão ser contestados.
“Na semana que vem, teremos essa CPMI instalada e essas dúvidas que tentam implantar na cabeça dos brasileiros e brasileiras serão sanadas. Vamos reforçar ainda mais aquilo que o Ministério Público Federal, a PF, o STF, que todos nós já vimos, foi sim uma tentativa de golpe frustrada. Foi sim uma agressão à democracia. Foi sim uma agressão à institucionalidade brasileira e à representação institucional do Brasil”, reforçou Rogério Carvalho.
Ele disse ainda que não adianta tentar criar narrativas em cima dos acontecimentos. “Não adianta a gente querer inverter o fato. O fato é que tentaram dar um golpe. O fato é que tentaram desmoralizar as instituições brasileiras e não foi só no dia 8 de janeiro. Isso era anunciado. Isso era estimulado. Isso foi tratado o tempo inteiro como um desejo manifesto pela maior autoridade do Brasil durante quatro anos”, disse, se referindo a Bolsonaro.
Desrespeito ao cerébro
O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) também se manifestou logo após a fala de Flávio Bolsonaro. Ele lembrou que parlamentares que seguem a ideologia do bolsonarista insistem na narrativa absurda de que Lula teria conhecimento que os prédios públicos seriam depredados.
“Tem parlamentar junto contigo que diz ter provas que o Lula sabia [dos atos]. Aí é um desrespeito ao meu cérebro”, ironizou o parlamentar.
Sobre as acusações de que a gestão atual estaria procrastinando a instalação da CPMI, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que a base aliada defende investigação profunda e punição de todos os responsáveis.
“Nós é que queremos a leitura desse requerimento para a criação da CPMI. Vamos para essa investigação e vamos com força para ela. E, olha, de investigação e comissão de inquérito nós entendemos”, disse, lembrando a atuação dos opositores a Bolsonaro na CPI da Covid.
Ainda de acordo com o parlamentar, a investigação é de interesse do próprio governo Lula, alvo dos atentados promovidos por seguidores da ultradireita. “Queremos porque no 8 de janeiro houve três vítimas neste país: a República, a democracia e o atual governo. Nós não fomos os algozes do 8 de janeiro, nós somos as vítimas”, reforçou.
