Em setembro do ano passado, enquanto Jair Bolsonaro vetava a Lei Assis Carvalho 2, uma iniciativa das bancadas do PT no Congresso Nacional para socorrer e fortalecer a agricultura familiar, o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra mantinha a rotina de solidariedade à população na pandemia, plantando, colhendo e doando alimentos saudáveis em todo o Brasil. O veto presidencial foi derrubado em dezembro; a lei vai trazer alento, além de financiamento para o plantio. E as 450 mil famílias assentadas do MST seguem mostrando a potência e a importância da agricultura familiar. Já são 6 mil toneladas de alimentos e 1 milhão de marmitas distribuídos em menos de dois anos.
O paralelo é uma amostra do que representa esse que é o maior movimento social do Brasil, que completa neste sábado (22) 38 anos de luta e resistência. Na opinião do senador Jaques Wagner (PT-BA), presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, a história do MST “ensina sobre luta, solidariedade, dignidade humana e inclusão por meio da produção e da distribuição de alimentos de qualidade para a população, especialmente para quem mais precisa”.
O MST nasceu oficialmente num encontro ocorrido em Cascavel (PR) entre os dias 20 e 25 de janeiro de 1984. Foi formado por pequenos agricultores, meeiros, posseiros, gente do campo que tinha sido expulsa da terra. Mas, como reconhecem seus membros e historiadores, as sementes estavam espalhadas desde os primeiros homens e mulheres que reagiram à concentração da terra no país.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) concorda: “a luta pela terra se confunde com a própria história do povo brasileiro. O MST qualificou e organizou essa luta, além de ter dado voz a milhares de excluídos.”
A fundação do Movimento já germinava três anos antes, na virada de 1980 para 1981, quando muitos desses excluídos resolveram gritar. Em plena crise econômica e política da ditadura militar, o que era um acampamento de cerca de 160 pequenos agricultores sem-terra na Encruzilhada Natalino, no noroeste gaúcho, chegou a mais de 600 famílias em poucos meses. Apoiadas por vários setores da sociedade, essas milhares de pessoas apontaram o caminho a seguir.
Organização
Em quase quatro décadas de expansão, o MST virou assentamento, virou escola e virou universidade. Além da soberania alimentar, o movimento tem nas suas pautas questões educacionais, de saúde, políticas, culturais. Enquanto luta pela reforma agrária, o maior instrumento de combate à fome, alimenta um projeto social e político para o país.
Para o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), o MST “é exemplo de organização, de resistência e de conquistas para a dignidade e cidadania do nosso povo”.
A amplitude do Movimento foi lembrada pelo senador Paulo Paim (PT-RS), para quem o MST deve ser celebrado também “pela luta por um país justo socialmente, sem racismo e discriminações, com respeito às diferenças, com direitos e oportunidades iguais para todos.”
“Com todo esse caminho percorrido, o MST continua a olhar à frente, construindo sonhos coletivos e avivando esperanças para novos sóis nascentes e luas estradeiras”, festeja com ternura o senador.
Exemplos do que disse Paulo Paim não faltam. Desde a participação igualitária de mulheres e homens nas decisões até uma educação infantil inclusiva e crítica, baseada na defesa da vida. Aqui, a vida ganha um sentido maior: o MST adota e defende a agricultura de base agroecológica, que, para além de não usar agrotóxicos, aplica tecnologias e práticas sustentáveis, que mantém o equilíbrio do meio ambiente e ainda traz aumento da produção a partir do aproveitamento do ciclo natural da terra.
Ou seja, mais comida na mesa, como lembra o senador Jean Paul Prates (PT-RN): “o MST é luta e resistência do povo do campo, que é quem leva de verdade a comida aos pratos dos brasileiros e brasileiras”.
Como se isso não bastasse, as inovações praticadas pelo MST nos assentamentos de reforma agrária garantem maior cuidado com a água. É outra bandeira do Movimento: a soberania hídrica, tão importante em regiões como o interior do Nordeste.
O senador pernambucano Humberto Costa (PT) vê essa experiência de perto. “O MST é um dos exemplos mais bem acabados da capacidade do brasileiro de transformar reivindicações históricas em trabalho revolucionário. No caso, o de garantir que a função social da terra vire soberania alimentar do nosso povo.”