A reforma ministerial desencadeada pelo presidente Jair Bolsonaro não reverteu o clima de desconfiança na relação do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional. Pelo contrário. O movimento agravou a tensão política. A queda do ministro da Defesa, General Fernando Azevedo e Silva, decorrente de sua recusa em deixar Bolsonaro usar as Forças Armadas para arreganhos autoritários, acendeu uma luz vermelha no Parlamento. A possibilidade de que os comandantes das Forças Armadas entreguem nesta terça-feira (30) os seus cargos à frente do Exército, Marinha e Aeronáutica, levou a oposição à se colocar em estado de alerta máximo.
O líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), antevê o agravamento da crise e cobra uma reação do Congresso. “A democracia está ameaçada”, alerta. “O nosso povo morre no chão dos hospitais. O auxílio do governo mal paga o botijão de gás. O orçamento para a educação foi cortado em mais de R$ 28 bilhões. É hora de união. É hora do Congresso dar a resposta que o Brasil cobra”. Os movimentos de expurgo do governo do comandante do Exército, General Edson Leal Pujol, são preocupantes e ocorrem nas vésperas do aniversário do Golpe de 1964.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também se mostrou preocupado com a crise e alertou para os riscos: “O presidente caminha para um Golpe de Estado. A sociedade precisa dar uma resposta ao autoritarismo. Bolsonaro NÃO é um democrata, é um fascista, conspira contra a Constituição é um PERIGO para a democracia. Quer esconder o desastre de 300 mil brasileiros mortos. Um completo fracasso”.
Ex-ministro da Defesa no governo Dilma, o senador Jaques Wagner (PT-BA) também se mostra atento aos movimentos do presidente em Brasília e avalia que a situação não é confortável. Mesmo depois de Bolsonaro ter cedido espaço ao Centrão – entregando à deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) – o parlamentar aponta que a tensão é visível nos céus de Brasília.
“O grau de instabilidade deste governo é assustador”, disse Wagner. “Seja pelo troca-troca de ministros, seja pelas orientações totalmente erráticas na administração pública”. Para o senador, a crise está cobrando um preço muito alto para a sociedade brasileira. “E quem paga a conta é o povo”, lamentou.
O senador pernambucano Humberto Costa (PT) adverte que a troca de comando no Ministério das Relações Exteriores, com a saída de Ernesto Araújo, apresentado nesta terça-feira pela imprensa internacional como um “trumpista” adepto de teorias conspiratórias, não significa uma reversão automática da imagem do país no cenário internacional.
Ele lamentou, por exemplo, que o Brasil não tenha hoje nenhuma representação para iniciativas importantes, como o Tratado Pandêmico proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e outros chefes de Estado de 25 Nações. “O Itamaraty sequer tem hoje uma representante definitiva junto aos organismos internacionais, diante do caos político vivido pelo país”, criticou Humberto .
Para o ex-ministro da Saúde, a reforma ministerial de Bolsonaro tem três objetivos: aumentar a defesa da família, com o deslocamento de um delegado federal para o Ministério da Justiça – um feito inédito na história da República – aumentar as negociatas com o Centrão; e ampliar a pressão para politizar as Forças Armadas. “No Itamaraty, a mudança no comando não serviu a nada”, resumiu.
“A saída dos titulares de dois importantes ministérios (Relações Exteriores e Defesa) da equipe de Bolsonaro é a sinalização de um governo em queda”, aponta o líder da Minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN). “Um governo sem rumo que tem destruído o país e a imagem do Brasil. Um governo que negligencia a saúde e a educação no orçamento”, lamentou. Ele acusa Bolsonaro de aumentar a crise e conduzir o país para um desastre. “Pessoas dignas e de caráter dificilmente aceitarão estar em um barco comandado por este presidente que está nitidamente levando o país a um naufrágio”, destacou.