O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques foi acusado de ter mentido durante depoimento da CPMI do Golpe, nesta terça-feira (20/6). As contradições do bolsonarista, especificamente sobre as operações da PRF no Nordeste durante o segundo turno das eleições, foram apontadas pelos senadores petistas Humberto Costa (PE) e Rogério Carvalho (SE).
Investigações da Polícia Federal (PF) mostram que o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres pediu pessoalmente à Superintendência da PF da Bahia que atuasse em conjunto com a PRF durante o segundo turno das eleições de 2022. A pauta da reunião seria interromper o fluxo de eleitores na região para tentar prejudicar a eleição do presidente Lula.
Enquadrado pela relatora da CPMI do Golpe, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre o tema, Silvinei desconversou sobre operações com essa finalidade. Até mesmo durante a fala inicial, o ex-diretor da PRF negou qualquer participação da corporação em tentativas de atrapalhar o processo eleitoral.
Nas redes sociais, o senador Rogério Carvalho divulgou um vídeo onde Silvinei, no início do depoimento à CPMI, afirma não ser verdade que a PRF direcionou a maior parte das ações de fiscalização ao Nordeste. Na sequência, as imagens mostram que, apenas na região, foram fiscalizados 2.185 ônibus (quase metade de todos os inspecionados no país) e retidos 48 – contra a retenção, em todo o resto do Brasil, de apenas 26 ônibus.
Na mesma linha, o senador Humberto Costa foi categórico nas acusações contra Silvinei, lembrando vídeo de outubro do ano passado mostrando agentes da PRF atrapalhando a votação de eleitores em Garanhuns (PE), terra natal de Lula.
“Absurdo! O ex-diretor da PRF Silvinei Vasques acaba de mentir na CPMI do Golpe. Ele disse que o Nordeste foi a região com menos ações da PRF no 2° turno”, disse Humberto.
Reunião
Durante o depoimento de Silvinei na CPMI, a relatora Eliziane Gama questionou porque o planejamento de ações da PRF foi feito com concentração no Nordeste. Ela citou, por exemplo, as ordens de serviço do órgão onde constavam apenas a organização de medidas em estados da região.
“Só na última ordem de serviço para execução que vocês, na verdade, incluíram os outros estados brasileiros. Por que que vocês só estavam incluindo a Região Nordeste?”, perguntou.
Silvinei, no entanto, disse desconhecer a “operação”.
Na sequência, Eliziane enquadrou o ex-diretor sobre as alterações na ordem de serviço prevendo o orçamento de diárias, que aumentaram de R$ 500 mil para R$ 3 milhões. De acordo com ela, todo o valor foi direcionado para pagamento de ações nos estados nordestinos.
A relatora comparou o valor com as diárias pagas em outros estados brasileiros, revelando uma clara disparidade. “Em Minas Gerais, Goiânia e São Paulo, nós tivemos apenas R$ 67,2 mil. Não há discrepância para uma prioridade tão grande à Região Nordeste brasileira”, criticou.
O ex-chefão da PRF, no entanto, apenas enrolou e voltou a alegar desconhecer o tema.
Após a primeira parte do depoimento, Eliziane disse, durante entrevista coletiva logo após a suspensão do depoimento para o almoço, ter desconfiado das respostas do depoente.
“Na informação em relação às ordens de serviço, que eu estava com o documento em mão, ele se reservou a fala de que não tinha conhecimento. Ora, ele não tinha conhecimento de uma ordem de serviço que foi apresentada numa reunião que ele chamou, totalmente reservada, com aplicação inclusive de equipamentos que impediam a divulgação dessas informações ou comunicação interna de quem quer que fosse ali dentro daquela sala?”, questionou.
Em seguida, disse acreditar que ele mentiu à CPMI. “Pessoalmente, acho que há, de forma muito clara, uma mentira da parte dele. Agora, o documento que eu tenho é assinado, não tem assinatura dele diretamente, mas tem de todos os demais integrantes que estão sob a tutela dele. Então, ele, em tese, teria compartilhamento e responsabilidade compartilhada, até mesmo pela posição que ele tinha como diretor da PRF”, colocou.
A relatora disse ainda que ele pode passar da condição de testemunha na CPMI para investigado, mas apenas o “transcurso do processo de investigação de fato vai dizer”.