Um artigo publicado na Folha de S.Paulo chamou a atenção de muitos dos senadores do PT neste domingo (05/08). Em contato com a reportagem do PT no Senado, vários deles pediram empenho para que o texto assinado pelo jornalista Janio de Freitas – “Dois pesos, dois mensalões” fosse encaminhado como alerta para toda a bancada do partido no Senado como leitura imprescindível.
Ocupados pela campanha eleitoral, muitos senadores leram o artigo nas primeiras horas da manhã, mas não tinham acesso à internet, como no caso do senador Delcídio do Amaral (MS), que se encontrava em viagem pelo interior do Mato Grosso do Sul, ou em caminhadas e inauguração de comitês, como nos casos dos senadores Humberto Costa (PE) e Wellington Dias (PI), respectivamente, candidatos às Prefeituras de Recife e Teresina.
Em outros casos, o alerta de leitura seria desnecessário, como no caso do senador Jorge Viana, um dos primeiros que a ocupar seu Twitter com a recomendação “não deixe de ler”. À reportagem do PT no Senado, o senador Viana acrescentou: “finalmente a verdade começa a aparecer e me sinto representado pelo texto de Janio de Freitas, um jornalista acima de qualquer suspeita”.
Para o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA) o texto de Janio de Freitas, ainda que seja uma voz isolada, representa um avanço notável na cobertura da mídia sobre o caso do mensalão. Assim como Janio de Freitas, o líder espera que outros jornalistas de respeitabilidade comecem a esclarecer as acusações contra o PT que, não raro, avançam de suposições para o pré-julgamento e a condenação antecipada.
Em “Dois pesos e dois mensalões”, lê-se, em resumo, que o embate entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski e Joaquim Barbosa, no primeiro dia do julgamento, trouxe à tona a diferença de tratamento que o Poder Judiciário tem concedido aos dois casos dos chamados mensalões – o do PT, que monopoliza a atenção da mídia, e o do PSDB, onde foi concebido o esquema do publicitário Marcos Valério, e do qual muito pouco, ou quase nada, se encontra nos meios de informação.
Janio de Freitas expõe a ferida aberta no Supremo ao tratar do “conveniente silêncio” dos outros nove ministros do Supremo acerca do embate contundente dos outros dois colegas. “São os nove contrários a desdobrar-se o julgamento do mensalão, ou seja, a deixar no STF o julgamento dos três parlamentares acusados e remeter o dos outros 35, réus comuns, às varas criminais. De acordo com a praxe indicada pela Constituição”, diz ele, chamando a atenção para o lapso de Joaquim Barbosa que se esqueceu de citar um dos debates ocorridos na Corte sobre o desdobramento do processo de acusação – justamente o processo contra o chamado mensalão do PSDB, beneficiado pelo desdobramento aprovado pelo STF. “Neste”, aponta o jornalista, “o STF ficou de julgar dois réus com ‘foro privilegiado’, por serem parlamentares, e remeteu à Justiça Estadual mineira o julgamento dos outros 13”.
Em seguida, pergunta: “Por que o tratamento diferenciado?” Num, o do PSDB, foi reconhecido o foro privilegiado de parte dos réus; noutro, o do PT, venceu a premissa de que tal procedimento seria “inconveniente”.
O artigo vai ainda mais fundo, ao registrar que “os dois mensalões também não receberam idênticas preocupações dos ministros do Supremo quanto ao risco de prescrições, por demora de julgamento”. Sobre o caso do PSDB, diz ele, lembrando que ambos os processos têm os mesmos personagens na montagem do esquema de financiamento de campanhas. “Só os beneficiários eram outros: o hoje deputado e ex-governador Eduardo Azeredo e o ex-vice-governador e hoje senador Clésio Andrade”, escreveu o jornalista, sublinhando que “a incoerência do Supremo, nas decisões opostas sobre o desdobramento, é apenas um dos seus aspectos comprometedores no trato do mensalão mineiro”. Embora tenha ocorrido após a descoberta do mensalão do PSDB, acusa, o julgamento do PT ocorre antes. “A data incerta (para julgamento do processo) do PSDB e seus dois parlamentares, carrega um componente político que nada e ninguém pode negar”, afirma, taxativo.
Mas não é apenas o STF que é alvo do artigo. A Polícia Federal “também deixa condutas deploráveis na história do mensalão do PSDB”, afirma, chamando a atenção para a atuação da PF, cuja conduta em “fatos de interesse do PSDB” deixa “grandes rombos na sua respeitabilidade”.
Por fim, Janio de Freitas também aponta para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e “seu gosto de medir o tamanho histórico dos escândalos”, e para a própria mídia. “Já não será por passar sem que a imprensa e a TV noticiosas lhes ponham os olhos, que o mensalão do PSDB e as protetoras deformidades policiais e judiciais ficarão encobertas”, afirma. “É hora de atualizar o bordão sem mudar-lhe o significado: de dois pesos e duas medidas para dois pesos e dois mensalões”.