José Paulo Lacerda/CNI

Impactos do tarifaço de Trump serão severos sobre a indústria, alerta a CNI
O setor produtivo nacional manifestou preocupação e indignação após a decisão desproporcional do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, anunciada na quarta-feira (9/7), de taxar produtos brasileiros com tarifas de 50%. Algumas entidades advertiram que a medida inviabiliza exportações e compromete a atividade econômica do país.
A agressão desferida contra a soberania do Brasil também não se justifica diante da balança comercial superavitária mantida pelos EUA, apenas expõe as graves contradições da direita brasileira, especialmente a bolsonarista, intitulada “patriota”, que prefere alinhar-se cegamente ao oligarca republicano mesmo podendo prejudicar setores chave da economia, como o agronegócio.
Esse é o caso do governador de São Paulo (SP), o extremista Tarcísio de Freitas, que, sempre que pode, veste orgulhosamente o boné vermelho com o lema trumpista “Make America Great Again” (faça a América grande novamente, em português). Anunciado o tarifaço nesta quarta, Tarcísio voltou a usar o acessório nas redes sociais, satisfeito com o ataque ao Brasil e ao próprio estado que governa.
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Mas a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) avalia que as tarifas de Trump tornarão o preço da carne brasileira tão exorbitante que ficará impossível a venda do produto para os EUA. Ao fim e a cabo, afirma a Abiec, os produtores brasileiros serão os prejudicados.
“A Abiec reforça a importância de que questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar, especialmente em um cenário que exige cooperação e estabilidade entre os países”, considerou.
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Rompante injustificável
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por sua vez, garantiu não haver fato econômico que justifique o rompante narcísico do presidente dos EUA. A instituição teme que o tarifaço deteriore “a relação comercial histórica e complementar entre os países”.
“Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia. Por isso, para o setor produtivo, o mais importante agora é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão”, observa Ricardo Alban, presidente da CNI.
Já a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) recebeu com indignação a decisão de Trump. O presidente-executivo da entidade, José Augusto de Castro, argumentou se tratar de medida política, e não econômica, com consequências imponderáveis aos exportadores.
“É certamente uma das maiores taxações a que um país já foi submetido na história do comércio internacional, só aplicada aos piores inimigos, o que nunca foi o caso do Brasil. Além das dificuldades de comércio com os Estados Unidos, o anúncio da Casa Branca pode criar uma imagem negativa do Brasil e gerar medo em importadores de outros países de fechar negócios com as nossas empresas. Afinal, quem vai querer se indispor com o presidente Trump?”, questiona Castro.
Nome aos bois
Por meio do X, a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann (PR), denunciou quem são as figuras da direita alheias aos interesses nacionais, principalmente o governador de SP. Gleisi lamentou o descaso delas com o bem-estar da própria população.
“Quem está colocando ideologia acima dos interesses do país é o governador Tarcísio e todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço de Trump contra o Brasil. Pensam apenas no proveito político que esperam tirar da chantagem do presidente do EUA, porque nunca se importaram de verdade com o país e o povo”, apontou a ministra.
“Estamos diante do maior ataque já feito ao Brasil em tempos de paz, visando a atingir não apenas nossa economia, mas a soberania nacional e a própria democracia. É a continuação do golpe pelo qual Bolsonaro responde no STF, agora usando tarifas de um país estrangeiro para impor seu projeto ditatorial. É nessa hora que uma nação distingue os patriotas dos traidores”, prosseguiu.
A chefe da SRI mencionou ainda o editorial do jornal Estadão (sem dúvida, um dos mais conservadores do país), publicado nesta quinta-feira (10), a respeito das tarifas de Trump.
“O editorial do Estadão não deixa dúvidas: ‘É absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (…) Eis aí o mal que faz ao Brasil um irresponsável como Bolsonaro, com a ajuda de todos os que lhe dão sustentação política com vista a herdar seu patrimônio eleitoral’”, conclui Gleisi.