Antes do depoimento, iniciado às 15 horas, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já havia alertado que os termos da delação premiada firmada pelo Ministério Público com Costa impediam que ele respondesse as perguntas da CPMI. Com esse argumento, nenhuma das perguntas feitas ao depoente recebeu resposta.
Mesmo antes de Costa anunciar sua decisão de permanecer em silêncio deputados da oposição já reivindicavam a realização de uma sessão secreta e insistiram na proposta mesmo depois de o ex-diretor da Petrobras afirmar que não falaria mesmo que o depoimento fosse fechado ao público. “Na prática, não existe sessão secreta no Congresso Nacional”, rebateu o senador Humberto Costa (PE), líder do PT, para quem o depoimento fechado só serviria para alimentar a fábrica de versões vazadas seletivamente para alguns veículos de comunicação.
Humberto disse ainda que só faria sentido fechar a sessão da CPMI se o depoente concordasse em responder as perguntas durante a reunião secreta. Como o ex-diretor da Petrobras manteve sua recusa em falar, o senador petista defendeu a realização da reunião aberta ao público. Dessa forma, acrescentou, será atendido o interesse público que é a apuração dos fatos, não a fabricação de versões, “como vem ocorrendo, para o uso político de alguns”. Humberto se refere ao ritual estabelecido desde o início dos trabalhos da CPMI entre parlamentares da oposição e setores da imprensa, no que se assemelha a uma linha de montagem de declarações bombásticas para as manchetes.
Para Humberto, o silêncio de Paulo Roberto Costa na CPMI não significa necessariamente prejuízo para o processo de investigação, diante do trabalho “eficaz e responsável” que vem sendo conduzido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. O senador lamentou que, ao contrário da conduta desses órgãos de Estado, alguns integrantes da CPMI tenham optado apenas pelo espetáculo político. “Basta ver que as imagens da TV Senado [feitas durante as reuniões da comissão] estão sendo utilizadas nos programas eleitorais”. O discurso radical, destacou, não está a serviço da investigação, mas da propaganda.
Os deputados Iriny Lopes (PT-ES), Vicentinho (PT-SP) e Afonso Florence (PT-BA) também defenderam a sessão aberta, para que o público pudesse saber exatamente o que se passou durante a oitiva. “Querer fechar a sessão é querer o espetáculo, onde cada um vai sair contando o que ocorreu como quiser”, resumiu Vicentinho. Ele lamentou a decisão de Paulo Roberto Costa de ficar calado, já que uma série de especulações sobre o que ele teria de fato dito à Polícia Federal em seu depoimento vem sendo amplamente desdobrado em versões pela grande imprensa. Para Vicentinho, o silêncio de Costa contribuiu para a espetacularização da CPMI.
Humberto Costa ainda acrescentou que, a partir de agora, a CPI Mista precisa analisar a fundo os documentos encaminhados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF). “A CPI tem mais de 100 pessoas convocadas que não foram ouvidas, ainda. Enquanto se conclui o trabalho do Ministério Público e do Supremo para então encaminhar para nós esse processo da delação premiada, a comissão pode fazer investigações e chegar a conclusões que interessam ao conhecimento da população brasileira”, lembrou o senador.
Corrida para entrevistas
Derrotada na tentativa de obter nomes de denunciados pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a oposição foi contraditória nas entrevistas à imprensa. O script traçado não pôde ser seguido, pois somente a sessão secreta lhes daria acesso aos nomes que o ex-diretor da Petrobras delatou à Justiça do Paraná.
O deputado Fernando Francischini (SDD-PR) era um dos mais desconsolados com a derrubada da proposta de sessão secreta posta em votação. Impedido de repetir o mesmo procedimento de sessões anteriores da CPMI – o de passar informações sub judice para repórteres da grande imprensa, restou-lhe encaminhar outros pedidos que estão fadados a não passar em votação na CPI, como as convocações do ministro licenciado Gilberto Carvalho e do ex-ministro José Dirceu.
Ambas as convocações de Francischini mostram outro objetivo: o de tornar real o enredo que a grande mídia tenta desenvolver desde as insinuações da revista Veja de que os desvios cometidos por Costa e o chamado “mensalão” são a mesma coisa. A segurança com que sugeriu as convocações de Carvalho e Dirceu não demorou dois minutos para se dissipar. “Uma investigação séria não pode ir somente com os indícios iniciais das reportagens, por mais importante que elas sejam. Nós temos que obter os documentos e saber os nomes e quais são os casos de corrupção. Dizer que determinada autoridade está envolvida? Nós precisamos de mais”, disse, contradizendo-se.
A linha seguida pela oposição foi praticamente a mesma. Discursar o quanto antes na reunião e correr para ser fotografado e entrevistado pelos ansiosos repórteres, repetindo que o silêncio do depoente era culpa do governo.
O próximo que deve ser convocado para ser ouvido pela comissão, segundo o petista, é o doleiro Alberto Youssef, preso em março deste ano durante a Operação Lava Jato da Polícia Federal sob a acusação de coordenar um esquema de lavagem de dinheiro. Segundo o senador, “tudo o que sai sobre esse processo da Petrobras faz referência a ele”.
Confira, abaixo, a entrevista do senador Humberto Costa à imprensa.
Repórter do SBT – A oposição reclamou que foi estratégia do governo, inclusive com dedo do Palácio Planalto, o fato de se querer que a sessão fosse aberta justamente para que ele (Paulo Roberto) não falasse nada…
Humberto Costa – Engraçado, se a sessão fosse secreta, iriam dizer que houve mobilização do governo para que não fosse pública. Ao contrário, queríamos que se eventualmente houvesse uma decisão de falar, que ele pudesse fazer para todo o Brasil. Como ele disse que não iria depor nem na sessão aberta e nem na fechada, não vimos razão para fechá-la porque iria gerar especulações quanto a algum tipo de “arrumadinho” na CPI.
Repórter da Globo – Diante das negativas de Costa nas respostas, o que a CPI precisa fazer a partir de agora?
Humberto Costa – Precisa analisar mais profundamente aquilo que já tem, os documentos que foram encaminhados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. A CPI tem mais de 100 pessoas convocadas que não foram ouvidas, ainda. Enquanto se conclui o trabalho do Ministério Público e do Supremo para então encaminhar para nós esse processo da delação premiada, a comissão pode fazer investigações e chegar a conclusões que interessam ao conhecimento da população brasileira.
Repórter da Globo – Não é o caso de se enfatizar o pedido para que a delação chegue o quanto antes?
Humberto Costa – Na verdade, isso será feito junto ao Supremo, mas no momento quem está de posse desse processo é o Ministério Público. Caberia, então, ouvir o Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ter dele uma previsão de quando pretende encaminhar (a delação) ao Congresso.
Repórter de agência – Qual deveria ser a próxima pessoa a ser convocada?
Humberto Costa – Ouvir o doleiro Alberto Youssef, porque já está convocado há muito tempo. Tudo o que sai sobre esse processo da Petrobras faz referência a ele. Como tal, acho que era importante já poder ouvi-lo, saber o que significam determinadas informações que foram colhidas.
Repórter de rádio – Senador, esse já era um cenário esperado para essa sessão?
Humberto Costa – Era uma possibilidade. Isso já aconteceu em outras comissões, de alguém que estivesse incriminado optando por não falar.