Berzoini: “Num processo de reestruturação, é preciso que todos tenham a compreensão de que o melhor desenho é aquele que contemple uma base parlamentar sólida e coesa e, ao mesmo tempo, um bom desempenho na gestão dos ministérios”O título desta reportagem sintetiza a receita que o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, recomenda como forma de produzir resultados positivos na articulação política do governo. Não é uma prática eventual, mas parte essencial do trabalho diário que deve ser realizado para manter a base de apoio ao governo cada vez mais coesa.
“O governo tem sempre a humildade de saber que é preciso refazer o trabalho todos os dias, para assegurar a solidariedade dos parlamentares não pela força, mas pelo convencimento”, disse ele. Além do mais, completa, “não se faz política sem esperança e perspectiva”.
O atual ministro das Comunicações esteve na noite desta segunda-feira em reunião com os senadores do PT, junto com o presidente do PT, Rui Falcão, para discutir a reforma ministerial e administrativa, a conjuntura política e as ações que devem ser tomadas para a retomada do crescimento sustentável da economia e da geração de empregos. Depois de três horas de encontro coordenado pelo líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), Berzoini conversou com a imprensa e não deixou qualquer pergunta sem resposta, até mesmo as espinhosas.
Erich Decat (O Estado de S. Pulo) – Ministro, a reunião com os senadores foi sobre a reforma a reunião?
Berzoini – Conversamos sobre várias questões, conjuntura política e econômica, e também sobre os assuntos do momento, como a reforma ministerial, a reestruturação administrativa e a redução do custeio da máquina; todos os assuntos que interessam aos senadores porque uma parte das medidas serão votadas aqui e eles têm interesse em saber qual é a perspectiva do governo para os próximos passos.
Erich Decat (O Estado de S. Paulo) – Qual é a perspectiva do governo para os passos, incluindo a questão da Saúde (ministério)?
Berzoini – A nossa principal preocupação é a seguinte: o Brasil está numa fase de reorganização do seu processo orçamentário, com a revisão de uma série de políticas e a reorganização administrativa. Nós precisamos, evidentemente, ter além disso um horizonte de crescimento, de desenvolvimento e a retomada da geração de empregos. Então, esse é o assunto fundamental de uma estratégia macroeconômica que nos leve ao crescimento econômico.
Erich Decat (O Estado de S. Paulo) A questão da saúde, a bancada aceita perder o Ministério da Saúde. Isso está ok?
Berzoini – Na política todo mundo quer preservar seus espaços e até mesmo ampliá-los. Mas, quando você tem um processo de reestruturação, é preciso que todos tenham a compreensão de que o melhor desenho é aquele que contemple uma base parlamentar sólida e coesa e, ao mesmo tempo, um bom desempenho na gestão dos ministérios.
Mariana Haubert (Folha de S. Paulo) – Ministro, amanhã (terça-feira, 29) pode sair a publicação do projeto da Reforma Eleitoral?
Berzoini – A presidenta deve estar chegando no Brasil neste momento (22h20, de ontem). Amanhã (terça-feira, 29), já descansada, ela vai poder examinar os estudos que a área jurídica da Casa Civil produziu nesses dias para poder tomar a decisão. Uma decisão que vai, certamente, levar em conta o debate político que ocorreu no Parlamento, para valorizar ao máximo uma decisão dos parlamentares.
Mariana Haubert (Folha de S. Paulo) – Mas uma informação, inclusive em nota, diz que ela já teria deixado assinado a publicação.
Berzoini – Não. Na verdade, o que havia era uma análise preliminar onde ela (a presidenta) deixou a possibilidade de ser publicada (antes de viajar aos Estados Unidos), mas, obviamente, deixou a reserva para que nós pudéssemos observar algumas questões que estavam sendo condenadas, inclusive pelo Tribunal Superior Eleitoral no aspecto da impressão do voto que tem um custo elevado para a implantação e que há pedido para que haja um exame por parte do governo, se deve vetar ou sancionar.
Maria Lima (O Globo) – O parecer do Ministério Público Eleitoral a respeito do parecer contrário à criação do Partido Liberal de Gilberto Kassab preocupa o governo?
Berzoini – Não. Isso é um assunto que nós esperamos que os partidos resolvam entre si. O governo não pode interferir na vida partidária e nem na disputa dos partidos.
Erich Decat (O Estado de S. Paulo) – Voltando para a reforma, já tem previsão de uma data para ser anunciada?
Berzoini – A reforma deve ser anunciada nesta semana. Evidentemente eu acho que ninguém deve colocar um ultimato para isso porque o melhor desenho é aquele que puder contemplar esses dois objetivos: fortalecer a base do governo e, simultaneamente, propiciar um melhor desempenho na gestão dos ministérios. Então não devemos ter pressa e sim a busca da eficiência e da qualidade.
Christina Lemos (TV Record) – O senhor acha que o PMDB está próximo de concluir a questão?
Berzoini – O PMDB é um partido importante pela capilaridade e presença nacional, e que tem dado uma contribuição muito grande para o ministério da presidenta Dilma e como deu para o ministério do presidente Lula. Então, temos todas as condições de chegar a um bom resultado também com o PMDB.
Christina Lemos (TV Record) – O ministro Chioro (Arthur Chioro, da Saúde) foi muito duro ao dizer que a Saúde está próxima de um colapso. Ele está manifestando uma certa mágoa?
Berzoini – Não creio. O Chioro é uma pessoa extraordinária e fez um diagnóstico sincero que deve ser tratado politicamente com toda a seriedade, porque é uma pessoa da maior qualidade.
Repórter – O PT vai ter que abrir mão da maior fatia do ministério. Vai abrir mão de muitas pastas?
Berzoini – O PT se sente muito bem representado no governo pela presença daquela que é a liderança maior do País, a presidenta Dilma Rousseff. Nós vamos ter todas as condições de estruturar a presença do partido do governo de acordo com a correlação de forças nacional e, principalmente, de acordo com os interesses maiores do País. Acho que temos que olhar para o interesse do Brasil e colocar os partidos sempre alinhados com esse interesse.
Repórter – Vocês trataram dos vetos nesse reunião?
Berzoini – Não tratamos, mas é conhecida a posição do governo, que é alertar que esses vetos foram feitos com muita responsabilidade, ou seja, o governo sabe que todos esses vetos, especialmente aqueles que têm impacto fiscal e orçamentário, foram feitos com o objetivo de assegurar o bom resultado das contas públicas para propiciar o crescimento da economia. Então, nós fomos fazer um apelo para toda a base e inclusive para setores da oposição que mantém o diálogo sobre a questão orçamentária e fiscal, para que nós possamos preservar os vetos da presidenta. Eles foram feitos com base na execução orçamentária e na previsão da arrecadação.
Mariana Haubert (Folha de S. Paulo) – A mobilização que o governo fez na semana passada será a mesma?
Berzoini – O governo tem sempre a humildade de saber que é preciso refazer o trabalho todos os dias, para assegurar a solidariedade dos parlamentares, não pela força, mas pelo convencimento. Nós achamos que a melhor forma de alcançar um bom resultado no Parlamento é o diálogo e o convencimento.
Iva Velloso – (Fato Online) – Qual é avaliação do governo em relação ao documento da fundação Perseu Abramo?
Berzoini – A fundação sempre teve total liberdade, inclusive, para discordar das posições do partido. Eu, quando fui presidente do PT, sempre defendi que o partido tem que dialogar com o governo, trabalhar alinhado com o governo, mas ter liberdade para pensar. Afinal de contas a democracia só se constrói quando as pessoas têm liberdade para pensar, formular e para criticar. O governo não deve ter medo de crítica. Deve saber ouvi-las com respeito e humildade para poder construir boas políticas para o futuro.
Maria Lima (O Globo) E o PSB?
Berzoini – O PSB é um partido que teve uma longa parceria com esse projeto que governa o Brasil. Tivemos divergências nas eleições de 2014. Eu, pessoalmente, mantenho sempre a expectativa de manter diálogo com o PSB, que é um partido que tem uma orientação de esquerda e certamente comunga de muitos dos objetivos do atual governo. Se eles decidirem qualquer posição, nós vamos buscar sempre manter o diálogo para conversar, dialogar e construir posições comuns onde for possível.
Maria Lima (O Globo) – Ministro houve um mal-estar no PMDB em relação a essa história da Lei Eleitoral. A casa civil admitiu que o Kassab pediu o veto (para criação do Partido Liberal). Isso não aumenta esse conflito?
Berzoini – O Kassab (Gilberto Kassab, ministro das Cidades) tem o direito de pedir e a base tem o direito de discutir. Não há qualquer contradição com relação a isso, ao contrário, acho que a ação do ministro Kassab é uma ação no sentido de pedir a reflexão sobre o texto, o que é absolutamente legítimo. Agora, obviamente, também é legítimo que os demais líderes e presidentes de partidos manifestem sua opinião para o governo, e a decisão do governo tem que levar em consideração um equilíbrio de força da base, principalmente a consistência dos argumentos.
Marcello Antunes
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