Aécio Neves: o Michael Phelps das delaçõesO presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), recordista em citações nas delações obtidas pela Operação Lava Jato, falou em nome de todos os senadores tucanos nesta terça-feira (9), durante a fase de pronuncia do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A justificativa do presidente do partido que pagou R$ 45 mil reais para uma trinca de advogados fabricar uma denúncia contra a presidenta que o derrotou nas urnas, foi a de que economizaria tempo, cerca de duas horas da sessão presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.
Aécio falou em nome dos senadores Ricardo Ferraço, cujo pai teve recentemente os bens bloqueados numa investigação de corrupção no Espírito Santo; Ataídes Oliveira (TO), Cássio Cunha Lima (PB), cassado quando governador por compra de votos; Dalírio Beber (SC), Flexa Ribeiro (PA), que já respondeu processo por corrupção; José Aníbal (SP), suplente de José Serra, acusado por delator da Odebrecht de ter recebido R$ 23 milhões para campanha política no exterior; Paulo Bauer (SC) e Tasso Jereissati (CE).
O senador tucano que até hoje não conseguiu explicar o aeroporto construído na fazenda de seu tio, em Claudio (MG), nem tampouco as acusações de desvios ocorridos na construção da Cidade Administrativa, durante seu governo, acusou os senadores que defendem a Constituição Federal e Dilma Rousseff de tentarem procrastinar o processo. Procrastinar é atrasar as fases do processo e a pressa dos tucanos, que estão dentro do barco de Michel Temer que começa a adornar, tem por objetivo acelerar o impeachment. O interesse maior não é o Brasil, é salvar a pele de políticos amigos que estão jorrando nas delações da Odebrecht.
Aécio disse que a oposição, desde o início da discussão, tentou desqualificar o relator, senador Antônio Anastasia (MG), e mentiu ao dizer que Dilma desrespeitou as leis orçamentárias. Sobre Anastasia, supreendentemente não mentiu. Os senadores da oposição que apoiam Dilma revelaram que o tucano, quando governou Minas Gerais, promoveu mais de 30 pedaladas fiscais. Seu relatório, favorável ao impeachment, é uma peça de ficção. Anastasia pedalou, só que no caso dele a Constituição não vale. No caso de Dilma, que comprovadamente não desrespeitou as leis orçamentárias, e muito menos a Constituição, vale e, mais ainda, é crime.
Em uma comparação olímpica, Aécio Neves é como um Michael Phelps, só que recordista em delação premiada. Em seu discurso, abusou das mentiras. Disse ele que esse processo levou o Brasil a ter hoje 12 milhões de desempregados. Não é bem assim, o País enfrentou os efeitos da crise financeira mundial, e a queda da atividade econômica, poluída pela trama do golpe, com inestimável ajuda da mídia conservadora, que contribuiu sobremaneira para os empresários reduzirem suas atividades. A crise fiscal do Brasil, internamente, nasceu quando o partido que Aécio Neves preside se abraçou ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o “delinquente”, segundo o Ministério Público, para aprovar as chamadas pautas-bomba.
Aécio disse que as ilegalidades levaram cerca de 170 mil comércios a serem fechados apenas nos últimos 18 meses, cerca de 400 por dia. Também é mentira. A depressão econômica reduziu a atividade, o giro da economia e a confiança das pessoas caíram. Desconfiadas, porque sofreram uma pregação do caos, compraram menos. O candidato derrotado a presidente disse que a desigualdade voltou a crescer; que a renda média caiu; que oito milhões de famílias retornaram às classes D e E; que 60 milhões de brasileiros estão com contas atrasadas; que 1,6 milhão de brasileiros abandonou o plano de saúde. Aécio, como se vê, mente descaradamente, porque a realidade não é esta e ele sabe. Nunca antes na história desse País os trabalhadores foram valorizados, as mulheres, emancipadas; a renda familiar cresceu sem parar desde o primeiro dia do governo Lula, em janeiro de 2003. Nos governos Lula e Dilma – o que não se viu nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso – foi a inclusão recorde de 43 milhões de brasileiros na sociedade de consumo.
A verdade é que a dor da derrota ainda lhe persegue, porque ao discursar em nome de sua bancada apoiadora do golpe, Aécio disse que desde a campanha de 2014 – “e mesmo antes dela, alertou para as consequências nefastas da forma como o governo agia. Me orgulho imensamente de ter alertado na campanha de 2014”, disse ele.
O senador tucano completou ao dizer que, sinceramente, acredita que “algumas lições ficarão de todo esse episódio. Uma delas é de que a sensação de impunidade que imperava em todos os altos escalões do antigo governo não terá mais espaço na vida pública nacional. Quero aqui reiterar que o meu sentimento, o sentimento que aqui hoje represento, não é apenas dos mais de 51 milhões de brasileiros que me deram a honra do seu voto nas últimas eleições presidenciais. Os brasileiros, mesmo os que votaram na presidente da república hoje afastada, querem que o Brasil tenha uma nova chance”, disse ele.
Os brasileiros que votaram em Dilma, 54 milhões, votaram num projeto e o elegeram num processo democrático. Retirar Dilma sem crime é golpe, é impor à sociedade, não aos 51 milhões de votos que Aécio recebeu, mas para 100 milhões de eleitores, um projeto que vai na contramão das conquistas sociais. O projeto de Temer apoiado pelo PSDB acaba com as conquistas sociais.
Ao entrar no barco do presidente interino, Michel Temer, Aécio e os sociais democratas do PSDB rasgam suas biografias e terão seus nomes cravados na história brasileira como golpistas parlamentares. Sim, porque não aceitaram até hoje o resultado das urnas. Quando Aécio fala em investigação, ele é o primeiro que deveria dar exemplo e explicar para a nação brasileira porque, por quais motivos seu nome é citado por empreiteiros presos pela Lava Jato. Aécio preferiu silenciar. E silenciou, como é costume no PSDB, sobre o seu dileto companheiro José Serra.
Os delatores da Odebrecht dizem que recebeu R$ 23 milhões para caixa dois, no exterior. Seu parceiro no golpe, Michel Temer, teria recebido R$ 10 milhões, uma em cima da outra. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, pegou R$ 4 milhões. Cadê a moralidade dos sociais democratas? O presidente do PSDB também faz cara de paisagem quando lhe perguntam sobre as falcatruas da Merenda Escolar do governo tucano de São Paulo. Não fala do escândalo de Furnas e nem do escândalo da construção da cidade administrativa quando governava Minas Gerais. A mentira é sua marca registrada e Aécio Neves deveria seguir à risca o que disse em seu discurso: “Ninguém pode cometer crime impunemente”. Nem ele e a Operação Lava Jato está aí.
Marcello Antunes