Conforme anunciado em comício pelo ministro da Justiça, PF prende Palocci

Conforme anunciado em comício pelo ministro da Justiça, PF prende Palocci

Como preanunciado pelo ministro golpista da Justiça, Alexandre Moraes, a Polícia Federal (PF) prendeu, nesta segunda-feira (26) o ex-ministro Antonio Paloccci. Estranhamente, desta vez o pedido de prisão não partiu do juiz-xerife de Curitiba, Sergio Moro, mas da própria PF. A justificativa é de que Palocci “atuou de forma direta para propiciar vantagens” para a Empreiteira Odebrecht quando fazia parte do governo federal e teria recebido propina. 

Neste domingo, em Ribeirão Preto – reduto eleitoral de Palocci,  que já foi prefeito da cidade por duas vezes – Alexandre Moraes garantiu que novas ações da Lava Jato seriam realizadas nesta semana. Ele participou de um ato de campanha com integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e cravou: “Quando vocês virem esta semana (a nova operação da Lava Jato ) vão se lembrar de mim”. 

O ministro esteve em Ribeirão Preto para participar da campanha de seu correligionário, o tucano Duarte Nogueira, à prefeitura e, sem que ninguém perguntasse, garantiu que haveria uma nova fase da Lava Jato nesta semana e que as novas fases da operação mostram a independência da PF. 

Horas após a declaração de Moraes, o Ministério da Justiça divulgou nota em que negou tratar-se de informação privilegiada do ministro em relação às ações da operação. “(A frase) não foi dita porque o ministro tem algum tipo de informação privilegiada ou saiba de alguma operação com antecedência, e sim no sentido de que todas as semanas estão ocorrendo operações”, diz a nota do ministério. Segundo a assessoria de imprensa do ministério, a declaração de Moraes sobre a Lava Jato foi “força de expressão”. 

A PF divulgou nota garantindo que o Ministro da Justiça não é avisado previamente sobre a realização de operações. “Somente as pessoas diretamente responsáveis pela investigação possuem conhecimento de seu conteúdo.” 

Reação

Senadores petistas estão indignados com a intromissão e o oportunismo  político do ministro da Justiça. Não é a primeira vez que representantes do governo Temer se aliam aos procuradores de Curitiba para promover um espetáculo que já está sendo conhecido como “Operação Boca de Urna” para acusar, prender e promover ações que comprometam o PT nas vésperas das eleições. 

Para a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), a questão é muito grave, pois além de “vazar” uma operação policial, que deveria ser sigilosa, fez isso em palanque eleitoral do PSDB. “Ministro da Justiça sabe agora com antecedência as operações da PF na Lava Jato? Pode isso? Cadê a autonomia da PF? Essa autonomia só funcionou com Dilma e Lula“, protestou a parlamentar. 

Vale lembrar que quando foi ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo foi chamado a se explicar porque teria sabido com antecedência de uma operação da PF no escritório da Presidência da República em São Paulo. Embora garantisse que soube da operação no momento em que os policiais chegaram ao escritório, o episódio foi explorado com estardalhaço pela grande mídia. 

Agora, Moraes está na berlinda sob a suspeita de ter instrumentalizado e utilizado politicamente uma ação de PF, já que ele, ao antecipar a realização de uma operação, deixa claro que usou informações privilegiadas para obter vantagens partidárias e políticas. Também é importante lembrar outros dois episódios no mínimo polêmicos dos últimos dias: a prisão do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e a denúncia desastrada dos meninos de Curitiba contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Também na manhã desta segunda-feira, o presidente do PT, Rui Falcão, escreveu em seu perfil do twitter que Moraes é “um ministro faccioso”. 

O ministro da Justiça do governo de Dilma Rousseff Eugênio Aragão avalia que a declaração de Moraes “dá margem à suspeita de que ele, governo, e a Lava Jato, estão agindo de comum acordo com finalidade política”. “Fico só imaginando se, quando ministro, eu desse uma declaração desse teor, o que aconteceria. O mundo vinha abaixo”, afirmou. 

Acusação

O ex-ministro Antonio Palocci  é acusado de ser a ponte entre o governo federal e a construtora Odebrecht. Ele teria interferido em contratos da Petrobras para a compra de 21 navios-sonda, além de ter liberado linhas de crédito no BNDES para obras da Odebrecht na África. Além disso, teria, segundo as investigações da PF, teria trabalhado para aprovar um projeto de lei, em 2009, que traria benefícios fiscais à empresa. 

A prisão dele é temporária, ou seja, tem prazo inicial de cinco dias.

Antonio Palocci foi o primeiro ministro da Fazenda do governo Lula e depois foi nomeado ministro da Casa Civil da ex-presidente Dilma Rousseff. 

O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, chamou a prisão de arbitrária e disse que não abe quais são as acusações contra seu cliente. Para ele, a Lava Jato “parece um espetáculo”. “O show tem que continuar. O circo tem que continuar”, afirmou. Batochio também estranhou o fato de o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ter anunciado no domingo (25) que haveria movimentação da Lava Jato nesta semana. 

 

Giselle Chassot

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