Déficit de credibilidade do governo tende a aprofundar crise econômica, afirma Gleisi Hoffmann

Déficit de credibilidade do governo tende a aprofundar crise econômica, afirma Gleisi Hoffmann

Foto: Alessandro DantasMarcello Antunes

03 de janeiro de 2017 | 18h46
 

A recuperação da economia não virá num passe de mágica tendo um governo sem voto e sem credibilidade na condução do País. Essa é a avaliação da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Segundo ela, sem dinheiro na economia por meio da ação do Estado, o governo Temer está literalmente andando para trás, confirmando a tese de que ele e seus aliados não têm um projeto de país.

Os recentes dados divulgados pela imprensa, como o Índice de Gerentes de Compras, feito pela consultoria IHS Markit e publicado hoje na Folha de S. Paulo, mostra que a atividade no Brasil teve em dezembro seu nível mais baixo dos últimos seis meses, ficando em 45,2 pontos. Abaixo de 50 pontos, o indicador mostra contração da atividade. Em outras palavras, a indústria diminui o ritmo de produção por não conseguir colocar no mercado seus produtos, porque os comerciantes reagem imediatamente para a falta de vontade de comprar dos consumidores.

Estes consumidores, por sua vez, não compram ou porque não querem se endividar mais ou porque temem não ter emprego no dia seguinte e capacidade para honrar suas dívidas.

Outro indicador veio estampado no jornal Valor Econômico, cuja matéria reporta que a recessão fez o saldo comercial bater recorde. O superávit da balança comercial ficou em US$ 47,692 bilhões, ao passo que esse resultado decorreu da queda das importações, equivalente a 20,1%. Isso ocorreu por causa da recessão e pela desvalorização do real.

Para fechar somente em outro dado importante, as vendas de veículos caíram 20% em 2016, fazendo com que esse desempenho fosse igual ao obtido dez anos antes, quando 2 milhões de veículos foram licenciados.

“O governo não induz os investimentos. Faz exatamente o contrário, promove cortes no orçamento que poderiam fazer ou ajudar a economia reagir”, aponta a senador Gleisi Hoffmann. Ela observa que o Brasil está num círculo vicioso e não virtuoso, como o governo golpista tentou vender à plateia com sua Ponte para o Futuro.

A retração da economia afeta a geração de empregos, os empresários, inseguros com as reformas do governo Temer, não investem na produção. Os bancos restringem cada vez mais o crédito e o resultado dessa política é, inevitavelmente, a queda da arrecadação de impostos. Com a arrecadação menor, o efeito se dá na União e nos caixas dos estados e municípios, piorando ainda mais o cenário econômico. A saída recomendada por Gleisi Hoffmann é injetar dinheiro na economia, garantindo crédito barato para que as pessoas possam voltar a comprar ou refinanciar suas dívidas antigas.

“Do jeito que a economia está caminhando, nada indica que vamos superar os obstáculos. Isto, porque as medidas não levam à recuperação econômica, mas promovem uma retração maior”, diz ela.

O técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Alexandre Ferraz, concorda com a visão da senadora Gleisi e acrescenta: “no primeiro semestre deste ano a situação econômica vai se deteriorar”. Ele fundamenta sua análise pelos indicadores que confirmam a queda da produção industrial.

“A indústria é significativa para a geração de empregos. E o setor industrial demanda o setor de serviços. Muitos economistas afirmavam, no ano passado, que o setor de serviços iria superar a crise, mas a recessão na indústria atingiu esse setor, provocando, ainda, efeitos negativos no setor do comércio”, diz ele.

A economia está ligada a esses setores: a indústria consome produtos do setor de serviços e o setor de comércio depende e sinaliza para a cadeia produtiva o ânimo dos consumidores. Em seguida, o setor do agronegócio que também depende dos outros se retrai.

Alexandre Ferraz aponta como preocupante a redução das importações no saldo comercial, porque no conjunto das compras do exterior figuram a aquisição de máquinas, inovação tecnológica e outros equipamentos para melhorar a qualidade dos produtos.

“Sem credibilidade do governo, os empresários não vão investir. Vão preferir deixar o dinheiro rendendo juros. Por quais motivos os empresários iriam aumentar a produção se não conseguem vender?”, indaga. O técnico do Dieese observa que algumas medidas adotadas no final do ano foram sugeridas pela CUT, cuja bandeira era liberar para os cotistas do FGTS os lucros obtidos. “A CUT vê com bons olhos essa medida, mas ela isoladamente não resolve o problema da economia. E a economia não vai reagir pela força do chamado `mercado`”, afirma.

Gleisi Hoffmann completa ao dizer que o mercado não é o salvador da crise, porque depende da indução do Estado, que efetivamente dá as diretrizes econômicas e a confiança que toda a população necessita. A medida do FGTS pode significar a injeção de 6 bilhões de reais na economia e o aumento do salário mínimo de mais 40 bilhões. Mas não é essa a cifra que reativa a economia e resgata a confiança.

Para o ex-presidente Lula, o caminho certo é resgatar a credibilidade dando condições para a reativação do consumo. Uma alternativa seria liberar dinheiro que está parado no Banco Central relativo aos depósitos compulsórios. O Brasil também poderia aumentar um pouco o endividamento externo para ajudar segmentos da economia que demandam volume expressivo de trabalhadores. Aí sim a economia começaria a girar. Mas do jeito que o governo Temer atua, o Brasil anda para trás.

 

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