Delfim: “Estamos muito longe de perder o controle sobre a economia”

Para o ex-ministro da Fazenda, a avaliação ruim dos economistas é “paranoia coletiva” semeada por colunistas e especialistas escolhidos a dedo pelos grupos de mídia do Brasil.


Delfim Netto alerta para pessimismo semeado
por colunistas escolhidos a dedo pelos grupos
de mídia do País (EBC)

Passou de pessimismo. Agora, é paranoia coletiva, mesmo. Assim o ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto define, em artigo publicado nesta terça-feira (11), no Valor Econômico, o pessimismo que há meses vem sendo semeado por colunistas e especialistas escolhidos a dedo pelos grupos de mídia do Brasil. O texto do ex-ministro mostra, também, que as agências classificadoras de risco punem as políticas econômicas que não seguem o receituário neoliberal – catastrófico, como o Brasil bem sabe.

Para esses “especialistas”, a economia brasileira está descendo ladeira abaixo com a velocidade de quem escorrega por um tobogã ensaboado. Nada dá certo no País, segundo eles, apesar do recorde na oferta de empregos, da redução da miséria e da desigualdade social e da inflação sob controle. O ex-ministro, tido atualmente como uma voz que destoa dos derrotistas de plantão, denuncia que a aposta desse grupo é pelo “aumento da vulnerabilidade externa, que terminaria, necessariamente, num desastre”.

Criado o clima, segundo escreve Delfim em seu artigo, começa um novo fenômeno: o brasileiro médio, que costuma aplicar suas economias em cadernetas de poupança – investimento mais tradicional e seguro do mercado financeiro nacional – começa a questionar a oportunidade de voltar a guardar dólares no colchão o que, “ao contrario de antigamente, pode ser feito abertamente sem risco, desde que registrado na declaração de bens e no Banco Central”, comenta o ex-ministro para quem esse é o maior paradoxo do momento. “É exatamente essa liberdade que deveria convencê-los de que a situação é completamente diferente”, estranha.

Boom econômico
Outro ponto relevante que Delfim Netto aponta é que esses analistas se esquecem  de que o Brasil está em um mundo imerso em crise desde 2008, e que o resultado mais nefasto da crise – o desemprego – não atingiu o Brasil. Ele também diz que o Brasil foi fortemente beneficiado, entre 2002 e 2008, pelo boom das economias dos países em desenvolvimento, dentre elas a China, e que o momento, agora, é outro.

Os governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff souberam aproveitar os anos de bonança para promover o que o Brasil esperava há séculos: reduzir a pobreza, reduzir a mortalidade infantil, abrir novas oportunidades de trabalho, destravar o acesso ao atendimento médico de qualidade e ampliar o acesso das classes mais baixas nas universidades, entre outros.

“Infelizmente”, adverte o ex-ministro, “tal sucesso escondeu a necessidade e a urgência de prosseguirmos com as mudanças estruturais necessárias para a continuidade do processo quando o ciclo de prosperidade mundial terminasse. A partir de 2010, o “vento de popa” que nos ajudou transformou-se em “vento de proa”, que nos encontrou sem as reformas e hoje agrava os problemas”, analisa o economista, que analisa a situação brasileira como “não confortável”. Mas questiona: “a de que país é”?

A partir de então, passa a listra argumentos para explicar por que os analistas são injustificadamente paranoicos:

-A alardeada redução das taxas de crescimento do Produto Interno Bruto talvez se deva à queda da expansão superior.

– A inflação não “explodiu” o teto da meta.

-Não há indício de que estejamos diante de um desequilíbrio crescente na relação dívida bruta/PIB.

“Estamos muito longe de perder o controle sobre a economia”, sintetiza Delfim,  para quem é essencial que se consiga convencer tanto a sociedade quanto a comunidade financeira internacional “ de que vamos enfrentar os problemas em 2014 com medidas concretas e tempestivas, não com promessas que se derretem quando enfrentam resistência”.
 

Giselle Chassot, com informações do Valor Econômico


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