Para não ser pego em contradição – o que agravaria ainda mais a sua situação no Conselho de Ética no Senado – o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) foi obrigado a admitir relações mais estreitas com o contraventor Carlos Cachoeira. A questão levantada pelo senador Humberto Costa (PT-PE), relator do processo que Demóstenes responde por quebra de decoro parlamentar, já havia aparecido superficialmente nos jornais, em uma das tantas degravações de telefonemas gravados com autorização da Justiça que vêm sendo publicadas desde o início de março passado.
O diálogo foi revelado pelo O Globo de 2 de abril. Demóstenes se justifica a Carlos Cachoeira, dizendo que estava sendo obrigado a demitir uma funcionária. “É o seguinte”, diz ele ao contraventor, “tem uma notícia ruim. Tem que demitir aqui. É a Kenya. E o outro rapaz lá. Tão (sic) aqui procurando servidores fantasmas. Você entendeu? Então, para evitar problemas, no futuro a gente volta a resolver isso aí, falou?”
Durante o levantamento de informações para o relatório do senador Humberto Costa, esse detalhe, aparentemente apenas mais um dos deslizes éticos do senador goiano, ganhou corpo. Descobriu-se que a funcionária em questão era, nada mais, nada menos do que uma das sobrinhas do contraventor que Demóstenes, em mais uma demonstração de apreço, fazia questão de agradar. Seu nome é Kenya Vanessa Ribeiro, sobrinha em primeiro grau de Carlos Cachoeira, que foi exonerada pelo senador em 25 de maio de 2009
Kenya nunca compareceu ao trabalho em Brasília. Permaneceu o tempo todo, como funcionária lotada na Liderança da Minoria do Senado (PSDB e DEM), morando em Anápolis, há 150 quilômetros da Capital Federal, ganhando, a proventos de hoje, cerca de R$ 4 mil por mês.
Kenya, como se convencionou chamar, uma “funcionária fantasma”. Demóstenes argumentou que a contratação era legal, porque não havia qualquer impedimento, o que, segundo ele, só viria a ocorrer depois da publicação do Ato 16/2009, da Comissão Diretora do Senado. Não pegou. O relator Humberto Costa esclareceu que o Ato 16/2009 apenas autorizou a criação de escritórios dos senadores em seus estados de origem. Nunca houve autorização para que funcionários do Senado ganhassem sem trabalhar. Demóstenes não respondeu.
Foto externa: Agência Senado