Senador goiano foi flagrado em grampo informando a Cachoeira sobre operação da PF para desmontar jogos ilegais.
Nenhuma participação societária nos jogos de azar empresariados pelo amigo Carlinhos Cachoeira. Participação zero na empresa Delta. Defesa incondicional dos interesses de Goiás. Desconhecimento total de que o empresário Carlos Augusto Ramos atuasse em qualquer ramo ilegal de atividades. Essas foram algumas das respostas do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) aos questionamentos do relator, senador Humberto Costa (PT-PE), e dos demais parlamentares durante as quase cinco horas em que tentou convencer o Conselho de Ética de que não feriu o decoro parlamentar ao se relacionar com o contraventor e atual presidiário Carlinhos Cachoeira.
Apesar de toda esta negativa, Demóstenes saiu com uma justificativa um pouco inusitada para explicar o fato de ter sido flagrado em grampo avisando Cachoeira de uma operação da Polícia Federal para desarticular um grande esquema de jogos de azar. Segundo o senador goiano, ele estava apenas jogando verde e fazendo “testes” com o amigo para confirmar se ele havia mesmo deixado a ilegalidade. “Eu joguei verde em cima dele. Falei de uma operação conjunta da Polícia Federal e do Ministério Público que nunca se realizou e nunca foi cogitada. Ainda assim eu fazia esses testes com ele”, alegou.
Durante sua inquirição, Humberto Costa rebateu: “O senhor disse que sempre fez testes para saber se o Cachoeira era um meliante, mas quem era esse “de sempre” a quem o senhor atribui a informação de que haveria uma operação da Polícia Federal?”. Demóstenes desconversou: “era um jornalista do Estado de Goiás. Mas meu objetivo era só saber se ele (Cachoeira) lidava com contravenção”.
Sobre a conversa entre Cachoeira e ele, na qual o assunto era um projeto de lei que tratava dos jogos de azar no País, o senador disse que jamais interveio. “Antes dessa conversa, o projeto, onde ele se encontrava? E depois, onde ele se encontra? Exatamente no mesmo lugar”. Quanto ao diálogo em que o senador goiano alertava Cachoeira, “ele estava bem mais informado que eu”. “É o que disse antes: nem tudo o que se diz se faz”, disse citando trecho de música de Ismael Silva, e admitindo que suas tentativas de influenciar o andamento da matéria não tiveram sucesso. No final, ainda provocou: “que lobista sou eu que nunca procurei nenhum colega senador para aprovar jogo, para discutir sobre legalização de jogos? Eu peço que eu seja julgado pelo que eu fiz, não pelo que eu falei que iria fazer”.
O senador negou ainda ter recebido dinheiro de Cachoeira apesar dos presentes recebidos e da conta de telefone paga pelo contraventor. “Estou entregando cópia de minhas duas contas, provando que em nenhum momento foi depositado R$ 1 milhão em minha conta. Nem R$ 1 milhão, nem R$ 1 mil, nem R$ 3 milhões, em nenhum momento isso entrou na minha conta ou me foi dado de qualquer outra maneira”, defendeu-se. E, sobre os R$ 20 mil que teriam sido entregues a ele pela organização de Cachoeira, Demóstenes explicou que eram taças de vinho de presente de casamento.
Demóstenes admitiu, porém, ter recebido inúmeros pedidos de Cachoeira, inclusive para fazer lobby em favor do empresário no Congresso e no governo. Disse que foi à Anvisa interceder por uma empresa farmacêutica do amigo empresário, mas disse que fazia o mesmo por todas as empresas do Estado de Goiás.
Giselle Chassot
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