Economista diz que setor privado tem sua parcela de culpa pela crise

Economista diz que setor privado tem sua parcela de culpa pela crise

Marcos Lisboa: “É injusta a tentativa de querer responsabilizar apenas o governo pela agenda econômica que levou o País à crise atual”Em texto publicado na segunda-feira (7), o economista Marcos Lisboa, presidente Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda de 2003 a 2005, foi categórico ao afirmar que setor privado teve e tem uma parcela de culpa pela atual crise econômica do País. Traz ele a lembrança, bem-vinda, de que o empresariado aplaudiu de pé quando o governo reduziu a taxa de juros Selic até 7,25% ao ano, e por isso é uma baita injustiça, com o governo, dizer que ele não incentivou a produção. “O governo deu as proteções que o setor pediu e apoiou essa agenda”, afirma. 

É por essa razão que em seu texto, publicado em jornais, sites de revistas, que Marcos Lisboa avisa estar num momento em que perde amigos, justamente por colocar luz sobre um debate sobre a situação econômica brasileira, de onde se vê críticas ao governo de todos os lados, má vontade e nada, zero de uma autoanálise, um olhar sobre o próprio umbigo. Confira, abaixo, a íntegra do economista: 

Avisando que se encontra num momento de perder amigos, o presidente do Insper, Marcos Lisboa, não poupou o setor privado de responsabilidade pela crise pela qual passa a economia brasileira. De acordo com ele, que falou para empresários ligados à Câmara de Comércio Francesa, é injusta a tentativa de se querer responsabilizar apenas o governo pela agenda econômica que levou o País à crise atual. “É injusto dizer que essa agenda é só do governo, o setor privado a apoiou”, disse o economista. 

De acordo com Lisboa, quando o governo reduziu a taxa de juros (a Selic chegou a 7,25% ao ano), o setor privado aplaudiu a decisão em praça pública. Ainda de acordo com ele, é uma profunda injustiça dizer também que o governo não deu incentivo à produção, ao investimento. “Deu as proteções que o setor pediu. O setor privado apoiou essa a agenda do governo”, disse. 

Ninguém, de acordo com Lisboa, que fez questão de salientar que não tem nenhum apreço pelo atual governo, dá R$ 450 bilhões de crédito a uma taxa de 4,5% ao ano pelo BNDES sem estimular o investimento. Para ele, o governo incentivou o setor de máquinas, caminhões e promoveu desonerações para a indústria. Só que, de acordo com ele, os investimentos não foram feitos. 

Segundo Lisboa, o problema de Brasília é o Brasil que pede proteção e o governo sensível a uma agenda de proteção. “A indústria automotiva tem proteção faz 70 anos, há algo errado nisso”, disse o presidente do Insper. Para ele, quando a Fiesp apoia a intervenção do governo no setor elétrico, é um equivoco. Lisboa arrancou risos da plateia ao dizer que não está podendo mais se aproximar da Avenida Paulista porque é também contra a cobrança de contribuições dos empresários para o Sistema “S”. 

Não se vê, de acordo com ele, nenhuma prestação de contas destes serviços, assim como também não há nenhuma fiscalização de resultados dos sindicatos patronais e de trabalhadores. “O setor privado cavou essa crise”, fuzilou o economista. 

Lisboa deu como um exemplo de distorção na economia brasileira a legislação que regulamenta o PIS/Cofins, que tem, nas palavras dele, cerca de 1.800 páginas pela imensas quantidade de exceções. “É impressionante essa quantidade de distorções que o Brasil vai concedendo. A sociedade tende a acreditar que todo mundo tem direito a tratamentos diferenciados. E essa agenda aumentou depois de 2008”, criticou o presidente do Insper. 

E, de acordo com Lisboa, essa agenda foi um retrocesso da economia e a sociedade brasileira que tem participação nisso quer agora dar proteção para a indústria siderúrgica. “Toda política de proteção vai gerar custos para alguém na sociedade. Lisboa, que preside uma instituição de ensino, criticou também a política educacional brasileira, que caminha na contramão de muitos outros países. Para o economista, enquanto outros países privilegiam o ensino fundamental, o Brasil privilegia a universidade. 

Num momento de crise, questionou Lisboa, para que manter a gratuidade da Universidade de São Paulo (USP) para meia dúzia de ricos? 

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