Em editorial, a edição do jornal Valor Econômico desta quarta-feira (13) avalia que apesar da derrota do governo na comissão especial que analisou o parecer favorável à abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma, a votação em plenário continua indefinida. Segundo a publicação, seja qual for o resultado da sessão prevista para o próximo domingo, o vencedor conseguirá êxito com uma pequena margem de votos, “o que deve prolongar a agonia governista”.
“Se perder, terá de se esforçar até o limite do possível para demover o Senado a seguir a Câmara. Se ganhar, terá contra si bem mais que a maioria dos deputados e uma margem de manobra parlamentar quase inexistente”, analisa o jornal.
A publicação ainda aponta como ponto positivo para o governo a possibilidade de ter na condução da coordenação política, “um expert em conciliação”, o ex-presidente Lula, “embora possa ser tarde demais e o preço a pagar tão alto quanto exigirem”.
Outro ponto analisado pelo editorial é o levantamento realizado pelo DataFolha e publicado no último final de semana. A pesquisa, segundo o texto do Valor, sublinha a ausência de reaglutinação política inspiradora. “A Rede a rigor ainda não tem base parlamentar e é uma força não testada. O PSDB perdeu com seus erros a condição de polo alternativo ao PT, e tende a ser substituído pelo PMDB após o abandono da campanha por novas eleições e sua substituição pelo apoio a Temer”.
O texto destaca, ainda, que o governo Temer “não inspira confiança nem esperança de dias melhores”. Além de 60% defenderem sua renúncia, 37% acreditam que um governo Temer terá o mesmo desempenho que o da presidente. Outros 26% esperam performance ainda pior do que a do atual governo. Para fechar o círculo do ceticismo, a porcentagem dos que julgam o trabalho do Congresso ótimo e bom é inferior até mesmo aos ínfimos 13% atribuídos a Dilma. Para 41%, ele é simplesmente ruim ou péssimo.
Confira a íntegra do editorial:
Uma crise de confiança que vai além do impeachment – editorial – Valor
O governo perdeu, por uma diferença maior do que esperava, a votação na Comissão especial que analisa o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (38 a favor, 27 contra). Mas uma das batalhas decisivas, a da votação em plenário da Câmara dos Deputados, continua indefinida. O que enquetes e projeções indicam é que possivelmente, seja quem for o vencedor, o será por pequena margem, o que deve prolongar a agonia do campo governista. Se perder, terá de se esforçar até o limite do possível para demover o Senado a seguir a Câmara. Se ganhar, terá contra si bem mais que a maioria dos deputados e uma margem de manobra parlamentar quase inexistente.
O governo tem a seu favor a melhoria da coordenação política, a cargo de um expert em conciliação, o ex-presidente Lula, embora possa ser tarde demais e o preço a pagar tão alto quanto exigirem. Conta também com o puro e simples acaso, como o envio por engano, pelo vice-presidente Michel Temer, de um esboço de seu discurso de vitória para pemedebistas. Não se sabe o efeito disso sobre o ânimo dos deputados que estão indecisos, por convicção ou no aguardo de oportunidades.
Temer tem sido particularmente inepto em comunicações privadas que se tornam públicas. Sua carta cheia de mágoas a Dilma certamente não o engrandeceu. O áudio de anteontem mostrou à nação que o vice-presidente só pensa em assumir o poder, está certo de que conseguirá e que pode fazer promessas tentadoras de cargos futuros e vantagens para obter o que pretende.
Após meses de paralisia do governo, confrontos partidários, disputas jurídicas e fases da Lava-Jato, há um muro separando as aspirações do Congresso e as da sociedade, real embora menos visível do que aquele que foi construído em Brasília para isolar as instituições do poder dos manifestantes, como revelam as pesquisas. Segundo levantamento do Datafolha, 58% dos entrevistados são favoráveis ao impeachment de Temer, quantidade apenas 3 pontos percentuais inferior à dos que querem que Dilma seja afastada do governo.
Visto de hoje, o governo Temer não inspira confiança nem muita esperança de dias melhores. Além de 60% defenderem sua renúncia, 37% acreditam que um governo seu terá o mesmo desempenho que o da presidente – e Dilma tem gestão qualificada de péssima ou ruim por 63%. Outros 26% esperam performance ainda pior do que a do atual governo. Para fechar o círculo do ceticismo, a porcentagem dos que julgam o trabalho do Congresso ótimo e bom é inferior até mesmo aos ínfimos 13% atribuídos a Dilma. Para 41%, ele é simplesmente ruim ou péssimo.
Há crise política e econômica profunda e não há evidência de uma força política óbvia com capacidade para galvanizar uma saída. Embora todas as condições favoreçam a oposição, ela declina consistentemente na pesquisa do Datafolha (7 e 8 de abril), seja quem for o próximo tucano candidato do PSDB à Presidência: os senadores Aécio Neves e José Serra e o governador Geraldo Alckmin.
A líder da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, eliminada no primeiro turno da eleição presidencial de 2014, tem previsível favoritismo. Mas nos diversos cenários traçados pelo Datafolha, não está sozinha à frente. Com toda a exposição negativa sobre sua responsabilidade pela escolha de Dilma para a Presidência e sobre sua imagem pessoal, o ex-presidente Lula disputa a dianteira em pé de igualdade com Marina. Ele seria o franco favorito hoje, na improvável situação de os três tucanos concorrerem ao mesmo tempo.
A divisão do PSDB sobre questões essenciais, sua aliança inicial com as forças mais conservadoras do Congresso para votar projetos aos quais sempre foram contrários, só para arruinar o governo, cobraram da legenda um elevado preço político.
O retrato momentâneo revelado pelo Datafolha sublinha a ausência de reaglutinação política inspiradora – antes, há insatisfação profunda com os políticos em geral. A Rede a rigor ainda não tem base parlamentar e é uma força não testada. O PSDB perdeu com seus erros a condição de polo alternativo ao PT, e tende a ser substituído pelo PMDB após o abandono da campanha por novas eleições e sua substituição pelo apoio a Temer. Temer não desperta entusiasmo e Lula consome cada vez mais capital político acumulado no passado – sem o enorme prestígio de outrora, tem alto grau de rejeição (53%).