Dilma e Obama na Casa Branca: presidentes assinam compromisso para ampliar uso de energias renováveis. Brasil vai reduzir ainda mais o desmatamento e recuperar áreas degradadas
Muito possivelmente a censura interna dos grandes jornais brasileiros relegará ao segundo plano ou simplesmente cortará os elogios ao Brasil feitos pelo presidente dos EUA, Barack Obama, acerca a liderança do País na conservação ambiental. Dos noticiários apresentados nos sites de notícias das grandes empresas de mídia, o elogio já desapareceu.
Mas ele foi claro e sonoro. Durante entrevista coletiva ao lado da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, primeiro elogiou a participação do Brasil nas discussões climáticas do G20 (que reúne as vinte maiores economias do mundo), ele afirmou; depois, arrematou: “Encaramos o Brasil como uma potência global, não apenas regional”, afirmou, referindo-se à América Latina. A observação foi uma resposta direta a uma repórter da maior emissora da televisão brasileira que, numa clara demonstração de complexo de viralata, tentou reduzir a importância e o protagonismo brasileiro. Obama não permitiu: “Deixe-me responder a essa (observação)”, interveio.
A mesma entrevista coletiva, a presidenta Dilma Rousseff confirmou a vanguarda brasileira com o anúncio de uma série de metas e compromissos históricos sobre mudanças climáticas tratadas com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Os dois países acertaram que vão aumentar, até o ano de 2030, a participação de fontes renováveis em suas matrizes energéticas para uma faixa de 28% a 33% – sem contar a produção de hidrelétricas.
De sua parte, o Brasil decidiu que vai reflorestar 12 milhões de hectares de áreas desmatadas na Amazônia. Dilma também disse que o governo vai trabalhar para zerar o desmatamento ilegal na região amazônica. O prazo para ambos objetivos é o ano de 2030. Já os Estados Unidos se comprometeram a reduzir em 28% suas emissões de gases estufa até 2025, em comparação aos níveis de 2005.
“É uma área essencial para os dois países, e vamos colaborar para termos um eficiência energética”, disse a presidenta, em declaração à imprensa após a reunião de trabalho na Casa Branca com Barack Obama. “Com a redução da emissão de gases do efeito estufa, é possível impedir que a temperatura global tenha um aumento de 2o C.”
“Queremos ir além das hidrelétricas e aumentar essa participação nas fontes renováveis”, afirmou Obama, ressaltando que acredita em resultados muito bons da Conferência de Paris sobre Mudança do Clima, no final deste ano.
Redução de barreiras para exportação
Em sua declaração, Dilma disse que a recuperação econômica dos Estados Unidos, após a crise global de 2008, é essencial para o restante do mundo. Segundo, os dois países podem aumentar o comércio bilateral com medidas que reduzem as barreiras sanitárias (que apontam riscos à saúde em certos produtos) e a burocracia no trâmite de exportações e importações.
“Podemos dobrar a corrente de comércio entre os dois países [soma de exportações e importações] no prazo de uma década”, avaliou Dilma.
A presidenta brasileira reforçou o interesse do Brasil em ter investidores dos Estados Unidos na nova etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL), lançada no começo de junho. Segundo ela, o governo vem fortalecendo neste ano a política macroeconômica (controle da inflação, equilíbrio das contas públicas para diminuir os riscos dos investidores que apostam em projetos no Brasil.
“Agradecemos o presidente Obama e esperamos o empenho dos investidores dos Estados Unidos nesse processo [as concessões do PIL]”, acrescentou Dilma.
Barack Obama sinalizou que os norte-americanos acompanham o programa com atenção e veem oportunidades com o programa brasileiro que prevê um investimento de R$ 198 bilhões nos próximos anos. “As empresas dos Estados Unidos terão mais condições de concorrer a essas concessões rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, gerando mais empregos”, salientou.
Tecnologia
Dilma citou ainda os acordos assinados com os Estados Unidos, durante a visita oficial, nas áreas de Defesa, Educação e Tecnologia. Amanhã, quarta-feira (1o), a presidenta tem uma extensa agenda na cidade de São Francisco, no estado norte-americano da Califórnia. Ela participa de reuniões na Universidade de Stanford e visita os centros de pesquisa da Nasa e da empresa Google.
“Temos ambição de colocar a inovação tecnológica como um temas centrais da agenda entre os dois países”, afirmou Dilma. Nesta viagem, foi assinado, por exemplo, um acordo de cooperação em ensino técnico entre o Ministério da Educação (MEC) e o Departamento de Educação dos EUA. A presidenta fez questão de lembrar que as universidades dos Estados Unidos são as que mais recebem estudantes do programa Ciência sem Fronteiras.