Rentistas financiadores do golpe lesam o patrimônio públicoTempos difíceis este que estamos vivendo. E o reflexo da crise política e institucional, reverberada nas especulações dos rentistas do mercado financeiro, produziram um efeito violento sobre as reservas cambiais entre os dias 11 e 13 de maio. Nesses dias, no auge da votação do impedimento da presidenta Dilma Rousseff, eleita por 54 milhões de votos e afastada por 55 votos, as reservas cambiais caíram US$ 1,052 bilhão.
No dia 11, quando a sessão do Senado deu início aos debates, pela manhã, o Banco Central começou o dia computando em suas reservas o valor de US$ 376,749 bilhões. No dia seguinte, antes de o mercado financeiro iniciar o dia, já de madrugada já se sabia que a oposição golpista teria votos suficientes para afastar Dilma. As reservas, na quinta-feira (12), fecharam o dia em US$ 376,128 bilhões. Na sexta-feira (13), quando finalmente a presidenta deixou o Palácio do Planalto, o mercado financeiro vibrou – e especulou – ao ponto de forçar algumas intervenções do BC no mercado de câmbio. Resultado: as reservas fecharam a sexta-feira em US$ 375,697 bilhões.
As reservas cambiais estão na ordem do dia do governo interino, mas engana-se quem pensa que elas vão virar pó de um dia para o outro. As próprias forças do mercado entendem que esse colchão de segurança, construído a partir do primeiro governo de Lula, que quitou a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e começou a criar musculatura, teve o dedo do hoje ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Apesar de os rentistas comemorarem a indicação a ser confirmada hoje do chefe do departamento econômico do Itaú, Ilan Goldfajn, não custa nada lembrar que em 2008, quando a bolha especulativa estourou nos Estados Unidos, o Brasil foi o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela. Não houve contágio no sistema financeiro. Mas Ilan, que havia deixado uma diretoria do Banco Central, assinava artigos nos jornais como representante de um dos fundos americanos que evaporaram da noite para o dia.
Quando o fundo estrangeiro representado por Ilan foi para os ares, rapidamente passou a assinar seus artigos, republicados no Instituto Milenium, o porto seguro da direita, já como administrador da Ciano Investimentos. Nada e nem uma linha do fundo estrangeiro que virou pó. Mesmo assim, suas apostas como mago do mercado mostraram que suas apostas foram erradas, porque o fundo perdeu alguns milhões no decorrer da crise. Em seguida, Ilan foi convidado para ser economista chefe do Itaú Unibanco.
Com sua eventual chegada ao BC, a ser confirmada, Ilan terá em suas mãos a responsabilidade de escolher dois bancos aptos a administrar as reservas. A chamada pública está no site do Banco Central. O valor a ser administrado corresponde a US$ 6 bilhões e o banco ou corretora que vencer deverá ter patrimônio de US$ 3 trilhões.
Marcello Antunes
Leia mais: