“Eu tenho convicção de que quem mentiu se meteu numa enrascada”, afirma Lula

“Eu tenho convicção de que quem mentiu se meteu numa enrascada”, afirma Lula

Os companheiros que compõem o corpo do MPF não podem permitir que meia dúzia estrague o histórico de uma instituição tão importante” Sem fazer um espetáculo pirotécnico, um show midiático, o ex-presidente Lula falou nesta quinta-feira (15), em São Paulo, sobre a deplorável, vazia e inepta denúncia fabricada por procuradores do Ministério Público Federal que atuam na Operação Lava Jato. Lula se emocionou e chegou a chorar quando lembrou o passado de sua família. Ele falou das agressões que tem sofrido; seus filhos, Dona Marisa, sua companheira e ao Instituto da Cidadania nas ações da Polícia Federal onde não se encontrou nada, absolutamente nada que pudesse ser prova de qualquer crime. “Não tem ninguém mais do que eu que respeita a Lei”, disse Lula emocionado.   Ele lembrou que durante a Constituinte foi um dos criadores do Ministério Público Federal. E, quando chegou à presidência, sempre atuou por fortalecer as instituições como a Polícia Federal e o próprio Ministério Público Federal, quando estabeleceu que os procuradores iriam formar a lista de indicações a ser levada para o presidente escolher. E Lula sempre escolheu aquele indicado pelos procuradores. O ex-presidente disse que foi feliz ao nomear o primeiro procurador-geral do MPF Cláudio Fontelles, que foi indicado pela categoria.   Depois ,lembrou um detalhe que faltou aos procuradores que o denunciam: conhecer política, ou seja, eles  tiveram inteligência para passar no concurso público, mas são ignorantes políticos. Citou, como exemplo, a indicação e as articulações que são feitas quando o MPF quer indicar um novo procurador-geral ou quando um prefeito é eleito e na Câmara só há quatro vereadores de sua base. O prefeito precisa fazer articulações políticas para dar sustentação a seu mandato. É isso, simples assim.   Lula demonstrou, mais uma vez, que está forte, mantém o bom humor e apesar de todas as agressões, não vale a pena ficar com rancor, porque dá azia.   O advogado Cristiano Zanin Martins falou logo após Lula, numa transmissão ao vivo feita pela TVT. Disse que o MP forçou a barra para apenas enxovalhar a honra do ex-presidente Lula e seus familiares e que uma representação contra os procuradores já foi apresentada ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). “É uma denúncia que não dizia respeito à suposta organização criminosa. Esse tema está em investigação no STF. Não poderiam os procuradores antecipar. Se está em investigação no Supremo, o procurador geral pediu investigação. O juízo de valor não foi observado”, disse ele.   Cristiano lembrou que já tivemos práticas de diversas arbitrariedades até a presente data. Lula foi privado de liberdade, sem previsão legal; teve suas conversas interceptadas e áudios divulgados, conduta prevista como crime; Lula teve conversas com seus advogados interceptadas e que foram publicizadas. “Diante desse cenário de ilegalidades, objeto já comunicado à ONU, não podemos levar esse cenário adiante”, afirmou.   O jurista Marcelo Lavenère foi categórico ao dizer que os procuradores do MPF prevaricaram por desvio e por abuso de poder. “Tenho certeza que o CNMP não vai engavetar essa denúncia feita pelos advogados de Lula porque é de uma gravidade muito grande”, observou.   Abaixo, os principais trechos da fala de Lula:   Início Não vou fazer show de pirotecnia como fizeram ontem. Vou me comportar não como ex-presidente, não quero me comportar como um cara perseguido; não quero me comportar como se tivesse pedindo um favor. Vou fazer uma declaração pura e simplesmente de cidadão indignado, um cidadão indignado com as coisas que aconteceram ontem e que estão acontecendo nesse País. Penso que nesse País tem pouca gente com a vida mais pública, mais fiscalizada do que a minha. Isso vem desde o tempo que era dirigente sindical nas greves de 1978 e 1979. Não esqueço nunca que o Murilo Macedo fez quando da intervenção no Sindicato (dos Metalúrgicos). Ele resolveu investigar a conta do sindicado, achando que a gente estava fazendo coisa errada. A conclusão que chegou foi que era modelo administração sindical no País.   PT Tenho orgulho ter criado o mais importante partido de esquerda da América Latina; de ter criado um partido quando muita gente achava impossível criar um partido de trabalhadores. Não foram poucos que escreveram que os trabalhadores não teriam condição de criar um partido. Todo mundo sabe o sacrifício e a decepção que foram. Quando aconteceu a primeira eleição, alguns trabalhadores tinham medo da gente. Os que nos atacam hoje nos chamavam de sectários, de comunistas, e nós fomos elegendo vereadores, deputados estaduais, federais, prefeitos, governadores e com apenas 20 anos de existência ganhamos eleições para presidente nesse País.   Instituições Fortes Sobre todas essas denúncias que eu fico vendo, eu tenho a consciência tranquila e mantenho o bom humor, porque eu me conheço. Eu sei de onde vim, eu sei para onde vou, sei quem me ajudou, sei quem quer que eu saia e sei quem quer que eu volte. Nenhum governo representado pela Dilma e o meu que fizeram mais para defender as instituições. Qualquer delegado da Polícia Federal sabe o que era no começo do meu governo. Nós mais do que dobramos e investimos em inteligência. Tinha como pressuposto básico a experiência sindical de que eu iria valorizar a instituição, para que ele não ficasse devendo favor. Tive sorte indicar Claudio Fonteles (para o MPF). Tínhamos consciência de que o estado brasileiro para ser forte precisa de instituição forte. Quanto mais forte instituição, mais responsabilidade a pessoa tem que ter. É como família, é o pai que tem que ter responsabilidade.   MPF 1 Quero o MPF mais forte e mais responsável, que a Polícia Federal mais forte e mais responsável. Não quero que delegado que faca pirotecnia, não quero condenar ninguém pela imprensa, como condenaram a Escola Base. E hoje vivemos um momento no Brasil que a lógica não é mais os autos do processo, é a manchete. Quem é que vamos criminalizar pela manchete. E está acontecendo isso desde 2005. E o PT é tido como partido que tem que ser extirpado da história. É assim que fizeram com o partidão em 1950, é assim que querem fazer comigo, que fizeram com a Dilma. Fomos nós que criamos a lei de acesso, o portal da transparência. Fomos nós que tiramos o tapete da sala, o tapete que escondia a sujeira desse País. Só tem um jeito da pessoa não ser perseguida, é ser honesta, ninguém está acima da lei, nem o ex-presidente, nem o delegado da Polícia Federal, nem o procurador do MPF. Sou pai de cinco filhos, avô de cinco netos, e futuro bisavô. Tenho história pública conhecida. Só ganha de mim no Brasil Jesus Cristo. Pense num cabra conhecido e marcado nesse País.   MPF2 Eu queria dizer para vocês que continuo com a mesma crença que tinha antes. Que os companheiros que compõem o corpo do MPF não podem permitir que meia dúzia estraguem o histórico de uma instituição tão importante, que ajudei a construir na Constituinte de 88. Conheço gente extraordinária no MPF e são poucos que querem cinco minutos de glória, aparecendo cinco minutos na televisão. A desgraça de quem conta a primeira mentira é passar a vida mentindo. Se não sabe me dizer, não é feio pedir desculpas. Já em porta de fábrica cinco da manhã pedir desculpas. A única coisa que eu peço por favor é que respeitem a minha família.   Aulinha básica Ontem ouvi falar de governo de coalizão. O passou no concurso, mas é analfabeto político. Não tem noção do que é eleger com quatro partidos pequenos e montar coalizão. Perguntem como Janot montou sua equipe; como monta sua equipe o delgado da Polícia Federal. A gente precisava dizer isso e dizer às pessoas sérias do MPF que estou à disposição, da PF, do MPF. Tenho a convicção que o Lula e nenhum de nós e eles são maiores do que a lei. Mas quando eu não transgredir, procurem outro para criar problema.   Indignação Ontem tive um momento de indignação. Nunca pensei passar por isso. As pessoas falaram tanto, achincalharam tanto, escreveram tanto. Convocaram uma coletiva para mostrar o crime que Lula cometeu. Fiquei pensando: devo ter cometido um crime e devia fugir para China. Será que cometi um crime? E descobri que meus acusadores e parte da imprensa estão mais enrascados do que eles pensam, porque construíram uma inverdade, e tá chegando no fim do prazo. Já cassaram o Cunha, já elegeram o Temer, com o golpe; já cassaram a Dilma e precisam acabar a novela, que é acabar com Lula. Não há explicação para esse espetáculo de pirotécnica. Talvez respeitaria mais a família deles (procuradores da Lava Jato) que têm concurso do que eles respeitaram a minha. Pensam o que foi fácil suportar a invasão da minha casa, achavam que iam encontrar uma refinaria debaixo do colchão. Na casa do meu filho chegaram chutando porta; entraram como se fossem bandidos. No Instituto Cidadania levaram até meus discursos e não devolveram, certamente para plagiar. Não devolveram o ipad dos meus netos.   Convicção Vocês viram que eu fiquei quieto. Aprendi que ficar zangado a gente sofre mais. Ontem não quis ficar zangado. Só não compreendi. Fizeram uma coletiva, gastaram dinheiro público. Não tenho crime, tenho convicção, não tenho provas. Não posso dizer qual convicção que tenho deles (os procuradores). O cidadão comum deve ter convicções comedidas. Vi 400 quilos com cocaína, tinham prova do avião (helicóptero), viram a cocaína, mas não tinham convicção. Eu digo publicamente: ninguém respeita a lei nesse País mais do que eu. Que acredita nas instituições, porque sou daqueles que instituições muito fortes garantem perpetuar a democracia. Eu respeito as instituições, vou prestar quantos depoimentos forem necessários. Se tem alguma coisa que tem que aprender é que eu conquistei o direito de andar com a cabeça erguida nesse País. (Lula chora). Provem uma corrupção minha, que eu irei a pé para ser preso. Acho que o procurador-geral, o ministro Supremo, o delegado diretor-geral da Polícia Federal devem estar pensativos sobre o que aconteceu, às custas de quê esse espetáculo; à custa do que para vender um produto que não tem como entregar.   Entreguistas Eles devem pensar, se a gente tirar o Lula vai ser mais fácil vender esse País. Mas, pelo contrário, vocês vão ter problemas com os trabalhadores desse País. Provavelmente querem entregar o patrimônio para o capital internacional, o Banco do Brasil, a Petrobras, a Caixa. Assim não precisa de governo, é só colocar um vendedor. Governo de verdade é aquele que diz que a gente vai resolver o problema da miséria, que coloca o pobre no orçamento, para ele ser engenheiro e até procurador. Eu tenho confiança que o meu fracasso teria agradado meus adversários. Meu fracasso não teria despertado tanto ódio contra o PT. O que despertou essa ira foi o sucesso. Duas Argentinas entraram no sistema financeiro brasileiro, fizemos a inclusão educacional colocando mais jovens na universidade do que se fez em dois séculos. Durante 500 anos não acreditaram que os pobres podiam estudar, porque o rico estudava no exterior. Aí fizemos o seguinte: aqui não vai se falar em gasto quando se falar em educação. Esse País não vai ser mais exportador de soja, vai ser exportador de conhecimento, por isso que fizemos universidades, escolas técnicas. E ainda tivemos a petulância de pegar uma mulher e colocá-la na presidência. Aí eles endoidaram.   Presentes O Instituto da Cidadania é vítima dessa perseguição. Até meu acervo. Você como chefe de estado ganhava um presente e ele ia para o cerimonial. Quando vem para cá entregam ao ajudante de ordem e o presente desaparece, é guardado. Quando viajei, ganhei coisas valiosas. São presentes. É da União sob minha responsabilidade. Tenho 11 containers de papel, presentes de chefes de estado. Tem coisa de ouro. Não tem como levar para casa. Eles (a mídia e procuradores) falaram cofre, do ouro. Levem o acervo, não tenho onde guardar. Tem relógio de ouro, mas olha o Citizen que uso, deve custar 800 reais. Parem de procurar casca onde não tem.   Orgulho Passamos a ser motivo de orgulho. Os empresários no meu governo ganharam dinheiro. Eu ficava feliz, porque empresário não presta dá prejuízo. Ele tem que ganhar dinheiro para gerar mais emprego; o banco tem que crescer e tem que emprestar dinheiro. Se por tudo isso alguém não gosta de mim, não vou pedir para gostar porque vou continuar fazendo um pouco mais do que eu fiz. Quero agradecer a imprensa, espero que eu tenha o mesmo destaque que meus acusadores tiveram ontem. Só peço igualdade, oportunidade para as pessoas poderem ouvir. No fundo no fundo, quero falar com pessoas pobres, que estão sem emprego, os que estão ameaçados de perder a aposentadoria. Tenho máxima: pobre não é problema é solução nesse País. Na dúvida, me chamem, que ajudarei a levar a mensagem que a gente capta nas ruas e nos movimentos sociais. Não pense quem estou desanimado, sofrido. Meu orgulho pelas coisas boas que conseguimos fazer por esse País. Quero até pedir desculpas, ao Diretório para fazer essa declaração. As pessoas me encontram e dizem que estão tristes. Não tem espaço para ficar triste. Tenho certeza de uma coisa. Nada, só Deus pode me fazer parar de lutar por aquilo que acredito.

  

Marcello Antunes

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