O impeachment da presidenta Dilma Rousseff não foi o fim de um processo. Foi, isso sim, o início da consolidação de todo um projeto antiquado e truculento de demolição de tudo que foi construído antes. Para a senadora Fátima Bezerra, pior ainda está por vir, com a implementação do programa de governo do consórcio golpista e a criminalização da oposição, ensaiada na com bombas de efeito moral e balas de borracha nas ruas de São Paulo.
Em artigo publicado na última sexta-feira (2) pelo Novo Jornal, a senadora comenta a farsa armada para consolidar um retrocesso sem precedentes, veremos os avanços e conquistas das últimas décadas sendo desmanchados pela base de sustentação parlamentar do governo temerário. “Nas ruas e no parlamento, faremos uma oposição implacável, denunciando cada retrocesso, cada ataque aos direitos dos trabalhadores”. garantiu.
Confira a íntegra :
Artigo: O pior ainda está por vir
No último dia 31 de agosto de 2016 foi escrita mais uma página infeliz de nossa história. Uma mulher íntegra e honesta foi condenada por um parlamento integrado por vários políticos envolvidos em escândalos de corrupção. A democracia foi suprimida através de um golpe parlamentar, um projeto de nação inclusivo e solidário foi interditado em benefício da austeridade e da retirada de direitos.
A farsa ficou tão explícita que os novos algozes da democracia, constrangidos diante das lentes da imprensa internacional, não tiveram sequer coragem de inabilitar a presidenta Dilma para o exercício de função pública durante oito anos, contentaram-se com o assalto ao poder.
A Constituição exige, para o impedimento de um presidente da República, a comprovação de que o presidente cometeu um grave atentado contra a Constituição, caracterizado como sendo um crime de responsabilidade. Ao não aprovarem a inabilitação da presidenta Dilma para função pública, os golpistas reconheceram que não houve atentado contra a Constituição, que não houve crime de responsabilidade, que tudo não passou de um pretexto para interromper o mandato da presidenta democraticamente eleita e transferir o comando da nação ao bando do Sr. Eduardo Cunha, ao grupo dos traidores, conspiradores e dos derrotados com a quarta derrota consecutiva nas urnas.
Houve crime capaz de justificar o impedimento da presidenta e não houve crime capaz de justificar sua inabilitação para função pública? É um escárnio, uma falta de respeito com a inteligência do povo brasileiro.
Mas o golpe não se resume à substituição da presidenta eleita e de sua equipe ministerial. O pior ainda está por vir, com a implementação do programa de governo do consórcio golpista e a criminalização da oposição, ensaiada na última quarta-feira com bombas de efeito moral e balas de borracha nas ruas de São Paulo.
Programa de governo esse que engloba a ressurreição da privataria tucana, com destaque para a privatização do pré-sal; a reforma da previdência, com elevação da idade mínima de aposentaria para 65 anos, fim da aposentadoria especial para mulheres e professores e desvinculação dos benefícios do salário mínimo; a reforma trabalhista, com a terceirização das atividades-fim e a flexibilização dos direitos assegurados na CLT; e o congelamento dos gastos sociais durante os próximos 20 anos, como propõe a PEC 241/16.
Em poucos dias testemunharemos um retrocesso sem precedentes, veremos os avanços e conquistas das últimas décadas sendo desmanchados pela base de sustentação parlamentar do governo temerário. Nas ruas e no parlamento, faremos uma oposição implacável, denunciando cada retrocesso, cada ataque aos direitos dos trabalhadores.
Seguiremos lutando em defesa da democracia brasileira, recorrendo a todas as instâncias possíveis para anular a farsa do impeachment e restabelecer o Estado de Direito. No último dia 31 de agosto, 61 senadores anularam a decisão de mais de 54 milhões de brasileiros expressa nas urnas. Faço minhas as palavras da presidenta Dilma Rousseff, inspiradas no mestre Darcy Ribeiro: “não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles”.