Gleisi questiona prisão de Palocci e denuncia uso político da Lava Jato

Gleisi questiona prisão de Palocci e denuncia uso político da Lava Jato

Em discurso, Gleisi criticou duramente a diferenciação da Lava Jato nas investigaçõesA senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) denunciou, nesta terça-feira (27), em discurso, a partidarização política da Operação Lava Jato e denunciou os crimes cometidos por ninguém menos do que o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, que não manteve sigilo de uma operação da Polícia Federal e anunciou neste fim de semana, para quem quisesse ouvir, que as pessoas se lembrariam dele nos próximos dias por conta de mais uma leva de prisões.

Nesta segunda-feira (26), último prazo para a realização de prisões antes do período eleitoral – nesse período só em flagrante delito – a PF prendeu o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Em Ribeirão Preto, no fim de semana, fazendo campanha para o candidato do PSDB, seu partido, o ministro da Justiça falou que novas operações viriam por aí. 

“Todos sabem que o ex-ministro Antonio Palocci está sendo investigado há muito tempo, não é pouco tempo, há muito tempo. Eu pergunto: por que prendê-lo temporariamente a uma semana das eleições municipais? Por que esse fato acontecer exatamente na segunda-feira, que era o último dia que poderia ter uma operação de prisão de qualquer pessoa no País porque, a partir de hoje, só prisão em flagrante até a eleição?”, questionou Gleisi.

Uma semana antes, lembrou, o também ex-ministro Guido Mantega, que estava na sala de cirurgia, acompanhando sua esposa, recebeu ordem de prisão. Duas semanas antes, os procuradores da Lava Jato denunciaram, sem provas, apenas por convicção, o ex-presidente Lula num verdadeiro espetáculo midiático – dias depois, para espanto, o juiz titular aceitou a denúncia sem provas.

“Por que três petistas, exatamente perto das eleições municipais, são levados a esse constrangimento? São só os três sendo investigados pela Operação Lava Jato? É só o PT investigado pela Operação Lava Jato? Aliás, todos os jornais dão conta de que o partido com o maior número de membros investigados pela Operação Lava Jato é o PP, Partido Progressista, seguido do PMDB. Não é o PT. Mas não. Antes da eleição, tiveram que apontar as mídias, os seus canhões exatamente para três pessoas do PT que são lideranças importantes neste País”, afirmou.

Para a senadora, a ação adotada pelos integrantes da Lava Jato, por sua seletividade, foi claramente para constranger. “As coisas estão tomando uma dimensão no País, um direcionamento que agora não é só um ataque a um partido ou um ataque a determinadas pessoas. Isso vai se voltar contra a sociedade brasileira, contra a democracia brasileira”, destacou.

Fato mais deplorável foi a atitude do ministro da Justiça Alexandre Moraes. Primeiro, ele não poderia saber que havia uma operação sigilosa em andamento da Polícia Federal. Segundo, os ministros da Justiça são informados sempre às seis horas da manhã do dia em que acontece a operação.

“E se fosse o ex-ministro José Eduardo Cardozo que tivesse ido a um evento de campanha de um candidato do PT e desse aquela entrevista cândida, risonha, uma blague, para falar bem a verdade, dizendo ‘não, tivemos operação nessa semana que passou, tivemos na quinta, na sexta e vamos ter outra, e vocês vão lembrar de mim quando a operação estiver acontecendo’?”, indagou. Certamente, o mundo viria abaixo.

Gleisi Hoffmann, na tarde de ontem, quando anunciou em entrevista que protocolou representação no Ministério Público Federal contra Moraes e anunciou os requerimentos para convocação do ministro para depor na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), perguntou à imprensa quando algum ministro da Justiça – de Dilma ou de Lula – antecipou alguma operação da PF. A certeza é que a atitude do ministro falastrão foi para impressionar, mostrar comando, mostrar que tinha informação, que tem domínio e, sobretudo, influência sobre as coisas.

“O ministro colocou sob suspeição a autonomia da Polícia Federal. Não adianta a Polícia Federal soltar nota dizendo que só informa às 6h, se o Ministro foi informado antes. Sim, há dois pesos e duas medidas. Há dois pesos e duas medidas na imprensa, em relação à cobertura dos fatos, que não colocou isso como tema principal, e teria colocado se fosse o PT. E há dois pesos e duas medidas nesses processos de investigação. Não é possível que as coisas continuem como estão acontecendo. Não é possível! Eu lamento que o Brasil esteja passando por isso”, disse Gleisi

A senadora afirmou que fará uma denúncia internacional para mostrar ao mundo como a frágil democracia brasileira está passando por uma ação continuada de golpe de estado, que tirou uma presidenta legítima, sem crime, eleita por 54 milhões de votos de maneira soberana e tenta-se, por todos os meios, interditar Lula, o favorito para as eleições presidenciais de 2018.

Está claro que a tentativa de acabar com a corrupção no Brasil acabando com o PT não dará certo. “A corrupção não nasceu com o PT, os membros do PT que devem à Justiça têm que pagar, mas não é na ilegalidade que vai se conseguir isso. Têm que pagar todos do PSDB, têm que pagar do PMDB, têm que pagar do PP, têm que pagar do PDT, têm que pagar de todos os partidos, porque não é possível nós termos gente do PSDB delatada nove vezes e esses não vão presos, esses não são sequer inquiridos para prestar depoimento! É um absurdo o que acontece na diferença de tratamento”, apontou.

 

Marcello Antunes

 

Leia mais:

Grazziotin quer que Alexandre Moraes explique uso político da PF

Oposição entra com representação contra ministro da Justiça por violação de sigilo, entre outros crimes

PT quer que ministro da Justiça explique ao Senado a antecipação de ações da Lava Jato

 

To top