Senadora cita Nelson Rodrigues, que cunhou a célebre expressão, e destaca ganhos materiais e imateriais que o País terá com a realização do mundial de futebol
Gleisi: A Copa não resolve tudo, mas resultados |
Se o Brasil vai ganhar a Copa, é uma questão de torcer. Se o Brasil vai ganhar com a Copa, essa é uma certeza. A afirmação é da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que em pronunciamento ao plenário, nesta quarta-feira (28), manifestou seu otimismo em relação ao sucesso do evento. Lembrando o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, um apaixonado pelo futebol, a senadora conclamou os brasileiros a deixar de lado a baixa autoestima e a vibrar com os resultados conquistados pelo País dentro e fora de campo.
“O futebol nos une e nos torna reconhecidos diante de nós mesmos e diante do mundo. Nelson Rodrigues entendeu, como poucos, a vocação para a grandeza guardada no coração do Brasil, na alma de nossa gente, no espírito dos nossos craques do futebol”, afirmou a senadora, revelando que passou a gostar ainda mais do esporte após ler A Pátria em Chuteiras, célebre coletâneas de crônicas escritas por Rodrigues, escritas para a imprensa carioca no final dos Anos 50 e começo dos Anos 60. “Parece, em muitas ocasiões, que ele tinha acabado de escrever, falando sobre o nosso presente”
Nelson Rodrigues é o criador da expressão “complexo de vira-latas”, usada por ele para definir a tendência que enxergava nos brasileiros de depreciar a si mesmos e ao País. Um trecho do escritor citado por Gleisi resume a “síndrome”: “O Brasil é muito impopular no Brasil. Não sabemos admirar, não gostamos de admirar… Ai de nós, ai de nós! Somos o povo que berra o insulto e sussurra o elogio“. Para a senadora, além de atual, a crítica de Rodrigues “continua assombrando os pessimistas, com sua prosa clara e instruída”.
Ganhos culturais
Gleisi lembrou que a realização no Brasil da maior competição esportiva do planeta fará com que bilhões de pessoas no mundo inteiro estejam olhando para nós. “Como disse Nelson Rodrigues, ‘há um momento, na vida dos povos, em que o país tem de ser anunciado, promovido e profetizado”. Ela destacou que “a Copa não resolve todos os desafios do País e não foi feita para esconder problemas, mas não podemos deixar de dizer o que é rigorosamente verdadeiro: os resultados dos investimentos são permanentes e trarão enormes benefícios para os brasileiros”.
Além desse imenso ganho imaterial, um reforço ao já inegável soft power brasileiro – o chamado “poder suave”, que se estabelece nos marcos da cultura e da imagem que o país projeta — Gleisi afirma que, no plano concreto, o Brasil também tem muitos ganhos palpáveis a comemorar. Até com os estádios, que têm sido apresentados pelos opositores da realização da Copa como emblema de um suposto equívoco no investimento de dinheiro público. “Os estádios custaram R$8 bilhões ao País, pagos com operações de crédito, recursos que voltarão aos bancos que os emprestaram. São equipamentos necessários à Copa e serão palco de muitos eventos”, lembrou.
A senadora destacou, ainda, que estádios são espaços vivos, “que costumam mudar a história de clubes, atletas e cidades. Será que alguém é capaz de lembrar as disputas entre Atlético e Cruzeiro antes do Mineirão? Ou dos Fla-Flu, tão propagados pelo próprio Nelson Rodrigues, sem o Maracanã? Ou falar do nosso Atletiba sem a Arena da Baixada ou o Couto Pereira?”
Além disso, é um erro imaginar que a Copa possa ter tirado dinheiro da saúde e da educação. Desde 2010, quando as obras dos estádios começaram, o Governo Federal já investiu R$825 bilhões em saúde e educação. “É isto: R$ 825 bilhões em saúde e educação. Isso significa cem vezes mais do que foi investido nos estádios”, destacou a senadora.
Ainda no plano da cultura, das mentalidades, a senadora destaca a oportunidade de o País defender causas importantes diante de tido o planeta, como o repúdio ao racismo.
Impulso econômico
Gleisi também destacou o impulso representado pela realização da Copa a diversos setores da economia. No turismo, por exemplo: cerca de 600 mil estrangeiros visitarão o Brasil durante o evento, além de três milhões de turistas nacionais circulando pelas cidades-sedes, movimentando cerca de R$25 bilhões, o que já garantiu a geração de 700 mil empregos no setor de serviços.
Quando a Copa acabar, afirma a senadora, os brasileiros continuarão usando os ônibus, os trens, as estações de metrô que foram adiantadas por conta da Copa e os aeroportos mais modernos. Os investimentos nas cidades-sede chegam a R$25,6 bilhões nas áreas de mobilidade urbana, aeroportos, segurança, telecomunicações e turismo. “Sem esquecermos da qualificação profissional proporcionada a milhões de brasileiros pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec) e hotelaria”.
Gleisi concluiu convidando a todos os brasileiros a aproveitar a Copa para torcer, festejar e — por que não?—realizar manifestações, como expressão da democracia brasileira. “Tenho certeza de que essa é uma oportunidade ímpar para o Brasil e para os brasileiros torcerem pelo nosso time, mas evidenciar, anunciar, promover e profetizar o nosso País, como queria Nélson Rodrigues”.
Cyntia Campos