Paulo Rocha: “Ontem como hoje, os avanços das organizações populares e as conquistas dos povos do continente uniram os países imperialistas”Falando na tarde desta quinta-feira (14) da tribuna do Senado, o líder da bancada do PT, Paulo Rocha (PA), apontou os reais objetivos do golpe de estado travestido no processo de impeachment que corre na Câmara dos Deputados. Para o senador, não se trata apenas de um movimento para derrubar uma presidente eleita com 54 milhões de votos.
Trata-se, isso sim, enfatizou o líder, de interromper o processo iniciado no primeiro governo do ex-presidente Lula, quando o Brasil passou a oferecer oportunidade para todos os segmentos da sociedade.
“O impeachment e a criminalização da presidenta Dilma Rousseff são apenas detalhes de um processo que já vem se articulando há algum tempo, nas sombras, para processar a derrubada daqueles que estão no poder hoje em nosso País. Esse é o centro da questão”, enfatizou o senador, apontando semelhanças entre o golpe que se conspira nesse momento e os foram armados contra os ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart.
A primeira semelhança apontada pelo Senador foi a criação do Instituto Millenium, uma réplica do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes) um dos polos que fomentaram o golpe de estado de 1964. “Esse Instituto Millennium organiza a ação de grandes empresários, pilotados por grupos de comunicação, para organizar um processo de derrubada dos que estam governando o País”, denunciou. “Quem lê a história pós-república observa que foi assim que sempre agiu a elite brasileira quando esteve fora do poder. Foi assim na Constituinte de 46, quando o Partido Comunista Brasileiro colocou um conjunto de militantes como deputados constituintes e, em sua luta alcançaram vários avanços. Foi assim na década de 50”, continuou, “com os governos democráticos de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek e, depois, mais recentemente, houve a questão do Golpe Militar de 64. Sempre tinha uma organização da elite, através dos empresários, naquela época, o Ipes, as OBAN e tantos outros tipos de organizações golpistas que processaram, ao final, a derrubada do Governo João Goulart”.
Naquela época, como hoje, apontou ainda o senador, outros países latino-americanos foram ameaçados com períodos de instabilidade econômica para criar uma das justificativas para o golpe. “Ontem como hoje, os avanços das organizações populares e as conquistas dos povos do continente uniram os países imperialistas que tinham a América Latina como um grande celeiro de exportação das nossas riquezas, e fonte de remessas de lucros das grandes empresas transacionais que se instalaram na nossa região para que nossas riquezas servissem mais para eles do que para nós”, continuou o líder do PT. “Toda vez que o povo se organiza, que o povo toma conta do seu País, as elites brasileiras se aliançam com o imperialismo internacional e acabam colocando por terra o poder constituído”.
O ponto que marca a virada dos interesses sempre preservados para as elites e os que atendem às reais necessidades da maioria da população, marcou Paulo Rocha, deu-se em 2003, ano da posse do primeiro mandato do ex-presidente Lula, quando a primeira palavra de ordem de seu governo passou a ser construir um Brasil para todos. E por que?”, perguntou. “Porque que em Brasil com tantas riquezas, com tanta potencialidade de desenvolvimento, com tantas oportunidades para criar condições e oportunidades para todos, com toda a riqueza que temos, havia um Centro-Sul desenvolvido e um Nordeste com problemas como a fome e a falta de água, por falta da presença do Estado brasileiro”.
O PT chegou ao poder exatamente para corrigir essas distorções, para construir um “Brasil para todos”, como dizia a palavra de ordem do primeiro governo de Lula. “E o fizemos”, afirmou Rocha, ressaltando que “nem 12, 13, 14 anos não se corrigem problemas acumulados há séculos” em nosso País.
“O centro da questão que está colocada é a derrubada, a derrocada do poder político do Brasil que nós conquistamos. O governo Lula e o governo Dilma é de origem governo popular, um governo de pobres e dos trabalhadores que incomoda a elite brasileira fora do poder há 14 anos e com a perspectiva é de ficar fora do poder por mais oito anos, dependendo da disputa de 2018”.
“A pedalada, essa tentativa de criminalizar e responsabilizar a presidente Dilma é apenas um detalhe do que está no centro dessa questão”, afirmou.
Depois de registrar que foi sua geração que enfrentou a ditadura militar e conquistou a eleição direta dos representantes do povo – “em algumas cidades não tínhamos o direito sequer de eleger o prefeito, muito menos o governador, e, mais ainda, o Presidente da República”, registou, frisando que a democracia que os brasileiros conquistaram “é a mãe da criação da oportunidade para todos, da conquista da dignidade e da felicidade de uma nação”.
“A democracia também cria um Estado, não só um Estado de direito, mas um Estado de paz e de oportunidade para todos”, reforçou o senador, apontando para o próximo domingo, quando “estará em jogo a quebra dessa paz, dessa oportunidade de se criar um país que dê oportunidade para todos”. Estará também em jogo, completou Rocha, “as mudanças que fizemos no País, os programas de inclusão social, os programas de políticas públicas que agora chegam para o cidadão”, lembrando o caso de uma cidadã de 115 anos, dona Teodora, que vive na ilha do Marajó, local do menor índice de desenvolvimento econômico e humano (IDH) do Brasil, que, pela primeira vez na vida, teve energia elétrica em seu pequeno sítio para ligar a primeira geladeira em sua vida. “Isso é conquista de dignidade, de cidadania de um povo que, há séculos, vivia no escuro”, sublinhou o senador, antes de enumerar as diversas oportunidades de progresso social que os governos do PT souberam criar. “Ampliamos a criação de universidades, saindo de 3,5 milhões de vagas para duplicar esse número em apenas 10, 12 anos”, disse, citando os avanços alcançados na oferta de ensino superior.
“É isso e tantas outras coisas que querem interromper com a votação de domingo”, continuou Paulo Rocha . “E o que é pior: sob a coordenação de um delinquente, o senhor Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados que aprovou, na Comissão Especial, a continuidade do processo de impeachment contra a presidenta Dilma. O relatório aprovado é frouxo. Não comprova que a presidenta cometeu crime de responsabilidade. E confessa que não tem indícios nem provas. Mesmo assim, sob o controle do deputado com a maior ficha corrida do Congresso, de corrupção, evasão de divisas, formação de quadrilha, entre outros crimes, deu-se mais um passo para o aviltamento da nossa democracia.
“As irregularidades pelas quais acusam a presidenta foram praticadas por todos os presidentes da República, desde os anos 90. E ainda hoje são postas e usadas por mais de uma dezena de governadores em exercício. Nunca foi crime de responsabilidade, mas agora é”, denunciou, lembrando que, “não por coincidência”, o encerramento da votação “foi cronometrado para ocorrer durante o Jornal Nacional, em mais um indício da grande armação que se pretende impor no Brasil”.
“A oposição também estava lá, festejando a ameaça à democracia, agora sem o constrangimento que tentou aparentar no começo deste ano quando veio a público tentar justificar por ter apoiado a pauta bomba do Eduardo Cunha, com reflexos na economia que se traduziram em mais dificuldade no orçamento, mais inflação e mais desemprego”, denunciou. “O PSDB é peça-chave nessa tentativa de inviabilizar a presidenta Dilma. Ao apoiar Cunha, por não reconhecer a derrota nas eleições presidenciais de 2014, apostou no quanto pior, melhor, e agora paga o preço da desaprovação da opinião pública por ter abraçado a causa do golpe. Não é preciso mais fingir que não está ao lado do Cunha e os golpistas que orbitaram em seu torno”, observou o senador, para finalizar dizendo que “não permitiremos o golpe que pretende demolir tudo o que construímos, não permitiremos Eduardo Cunha na Vice-Presidência da República. Estamos nas ruas e vamos continuar em vigília para enfrentar os golpistas. O povo na rua e os democratas dentro do Congresso vão reverter esse golpe!”