Humberto Costa: “Folha admite claramente que o impeachment subiu no telhado”Primeiro foi a contratação de uma auditoria. Era o PSDB tentando a primeira cartada para tentar anular uma eleição absolutamente limpa. A auditoria concluiu que o sistema eleitoral brasileiro é absolutamente seguro. Depois, tentaram impedir que uma presidenta, eleita com mais de 54 milhões de votos, com uma diferença superior a três milhões de eleitores, tomasse posse. O episódio, hoje chega a ser considerado risível, porque o coordenador jurídico da oposição queria que o diploma fosse dado ao segundo colocado. Agora, é a tentativa de impeachment.
A história do inconformismo tucano com a derrota nas eleições de 2014 foi uma introdução feita pelo líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), para comentar o editorial do jornal Folha de S.Paulo desse domingo (3). O jornal pede novas eleições para presidente e vice. Isso implicaria a renúncia de Dilma Rousseff e Michel Temer. “Não sei se (nesse caso), o presidente da Câmara renunciaria ou se tornaria o novo presidente, mas isso seria equivalente a uma noite de terror para o Brasil”, previu Humberto.
A parte positiva do editorial, para Humberto, é a sensação de que o impeachment “subiu no telhado”. Ou seja, o jornal começa a dar claros sinais de que deixou de acreditar piamente na possibilidade de a presidenta ser apeada do poder.”Então, já começam a surgir outras propostas para discutir o momento político brasileiro”, observou.
A argumentação do editorial do jornal paulista vai toda no sentido de que a presidenta não teria mais legitimidade. Essa é a tese que o senador decidiu enfrentar: “Existe legitimidade para este Congresso Nacional? Existe legitimidade, respeitabilidade, para aquela Câmara dos Deputados que está lá? E até para nós, aqui, Senadores? Como é que nós vamos fazer uma eleição para Presidente da República e Vice e vão continuar os mesmos Parlamentares que estão aqui e que foram eleitos lá em 2010 e que são parte dessa crise? Como é possível isso existir? Ora, se alguém quiser apresentar qualquer ideia de eleição tem de ser para eleição geral”, atacou.
O que ele questionou, na verdade, foi o desrespeito às regras do jogo. São as regras que estabelecem como deve se dar o processo eleitoral brasileiro. E é assim em qualquer processo. “Naturalmente, que quando alguém participa de um jogo, se subentende que esse alguém aceita as regras daquele jogo”, insistiu o líder.
O problema, disse, é que todo esse processo está criando um clima de instabilidade que não se resolve, especialmente porque a oposição não se conforma com a derrota. “É isso que tem provocado toda essa disputa, essa celeuma”, sintetizou.
A saída para a crise, de uma forma muito simples, é, portanto, os tucanos aceitarem a derrota e “deixarem a presidenta governar”, disse. E complementou: “nem Jesus Cristo governaria numa situação de hostilidade, de agressividade, de campanha sistemática dos meios de comunicação, com agentes econômicos que boicotam ações importantes do Governo”.
Pior que isso, para o líder, é a falta de criatividade da oposição. ”Na verdade, no Brasil, a grande oposição, hoje, são os grandes meios de comunicação, que pautam o que a oposição deve dizer, deve fazer, o que deve investigar”, disse Humberto, quase isentando da responsabilidade pela crise o tucanato. “Apesar de considerar que a oposição tem uma postura do quanto pior melhor, tenho que reconhecer que, de fato, quem alimenta esse enfrentamento não é a oposição que, acho, sonha noite e dia em voltar ao poder político e fazer tudo isso de que nos acusa”, observou.
De todo modo, Humberto disse ter a sensação clara de que o golpe contra a presidenta não se consolidará. ”E aí, é óbvio que as coisas não vão ficar como estão”, garantiu. O líder explicou ainda que a presidenta tem ampla consciência de que, derrotando o impeachment, ela tem que fazer um grande chamamento ao diálogo no País. “Tem que trazer os movimentos sociais, discutir com eles, com as mulheres, com a juventude que tem sido a maior base de sustentação dessas mobilizações que estão acontecendo no Brasil hoje, discutir com a classe média, discutir com os empresários, produzir uma proposta mínima de ações para que possamos, rapidamente, retomar atividade econômica, fazer o Brasil crescer, gerar empregos, não perseguir ninguém, tentar trazer todos para esse grande diálogo que se pode e se pretende e tenho certeza de que ela vai fazer”, concluiu.
Giselle Chassot
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