O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou nesta terça-feira (27/09), durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que a inflação iniciará um processo de queda a partir de outubro. “Vimos uma elevação no período de outubro de 2009 para abril de 2010 por conta dos preços elevados das commodities agrícolas. Agora, podemos ter um índice anualizado de 4,11% nesse período pós-choque inflacionário, dois pontos abaixo dos níveis atuais e convergindo para o centro da meta”, disse ele.
Durante sua exposição, Tombini abordou temas que os analistas econômicos dos bancos têm deixado de lado nas projeções sobre o desempenho da economia brasileira. Ao contrário da corrente pessimista, o presidente do Banco Central citou que a desaceleração econômica mundial, neste momento, indica uma retração nos preços das commodities, principalmente de alimentos. E, isto, pode funcionar como mais um componente da queda da inflação no Brasil. A desaceleração da economia motivada no começo do ano já surtiu os efeitos desejados e prova disso são os indicadores de inadimplência, que estão em queda.
Quanto ao câmbio, o presidente do BC afirmou que a cotação da moeda irá encontrar seu ponto de equilíbrio, entre a oferta e a procura. “Não há a mínima hipótese de se estabelecer um piso para o câmbio. Essa medida é totalmente descabida, por indicar um patamar de intervenção. Nosso sistema é o câmbio flutuante”, disse ele ao responder questionamento da senadora Marta Suplicy (PT-SP). Tombini explicou que na última semana o Banco Central teve de dar liquidez ao mercado para atender operações no chamado mercado de derivativos. “Há quem ganhou e perdeu muito fazendo suas apostas contra o real e nosso papel é defender o real”, respondeu.
Ao fazer sua intervenção, o senador petista Eduardo Suplicy (SP) quis saber como o Banco Central pode contribuir para diminuir a indexação da economia e por quais motivos os critérios dos agregados monetários – dinheiro em poder do público e em poupança, grau de liquidez e operações de crédito – foram deixados de lado pelo processo de metas de inflação. “Não foram os bancos centrais que deixaram de acompanhar os agregados monetários. Foram os agregados monetários que abandonaram os bancos, porque os indicadores como oferta de moeda é muito volátil para nortear a política monetária. As metas de inflação indicam melhor o comportamento da economia”.
Na apresentação de Tombini que pode ser conferida no site www.ptnosenado.org.br , o presidente do BC mostra como está a crise nos países da Zona do Euro, em especial as dívidas soberanas – títulos públicos de países como a Grécia, Portugal, Itália, Irlanda e Espanha. “Notamos um esgotamento das políticas macroeconômicas desses países, com o aumento do risco soberano e financeiro”, disse ele. O Brasil, como pode ser observado na apresentação, está numa posição bem melhor do que esses países: tem reservas internacionais, em torno de US$ 352 bilhões; tem um sistema financeiro sólido; a dívida líquida em relação ao PIB está em 39%; o nível de desemprego está na casa dos 6% – o percentual é o dobro em países da Zona do Euro e nos Estados Unidos; a inflação dá sinais de queda e a atividade econômica não caiu drasticamente como se verifica nos países europeus e na economia dos Estados Unidos.
Marcello Antunes
Confira apresentação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE)