Lula não defendeu a inflação em entrevista ao La Repúbblica

Versão que ganhou a grande mídia espalhou que ex-presidente prefere inflação ao desemprego.


Lula: “Nossos críticos querem que tenha um pouco
de desemprego para poder melhorar a inflação.
Eu não quero que tenha desemprego para melhorar
a inflação. Eu quero melhorar a inflação com
pleno emprego.” (EBC)

O site da Liderança do PT no Senado foi induzido ao erro, na edição da reportagem Lula defende protestos em entrevista para jornal italiano, na qual confiamos ser fiel a tradução da entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal italiano La Repubblica disponível em vários dos grandes sites e agências de notícias.

O trecho em particular da tradução distorcida que foi reproduzida na reportagem – e que era a mesma nas fontes mencionadas – trata de um tema sensível a qualquer cidadão: emprego e inflação.

Essas duas palavras têm estado presentes com frequência nas críticas à política econômicas que os governos do Partido dos Trabalhadores, primeiro com o ex-presidente Lula, depois com a presidenta Dilma Rousseff, vêm implementando nos últimos onze anos. Esses críticos creditam vários dos problemas do País ao aumento de renda da população e ao pleno emprego, propondo, como solução, o corte de gastos, cujo resultado o brasileiro bem conhece: recessão e desemprego.

Por não seguir esse receituário neoliberal, o PT tem sido alvo frequente dos críticos que desfrutam de amplo espaço nos meios de comunicação – e, para eles, nada se mostra mais apropriada a versão de que o governo é condescendente com a inflação.

Ocorre, porém, que é mentirosa a versão da entrevista publicada que o site da Liderança no Senado incorporou à sua reportagem.

O trecho inverídico atribui a seguinte frase ao ex-presidente:

“Nossos críticos gostariam que diminuíssemos o emprego para reduzir a inflação. Mas para nós a defesa do emprego é mais importante do que a inflação.”

Lula, na verdade, disse:

“Nossos críticos querem que tenha um pouco de desemprego para poder melhorar a inflação. Eu não quero que tenha desemprego para melhorar a inflação. Eu quero melhorar a inflação com pleno emprego.”

Lula jamais iria defender a inflação, pois sabe que são os mais pobres que pagam por seus efeitos danosos. Na vida real, Lula também já deu provas suficientes, durante seus oitos de mandato, de que jamais poderia dizer que “emprego é mais importante do que a inflação”. Tamanha asneira não combina com o período de inflação controlada e aumento de renda de seu governo, quando o Brasil atravessou um de seus maiores períodos de prosperidade material e social.

Com o benefício da dúvida e da não intencionalidade de se veicular uma versão deturpada do que o ex-presidente afirmou, tal erro, em países onde se exige responsabilidade social dos jornais – se acontecesse – seria reparado com a publicação da correção ocupando o mesmo espaço e o mesmo destaque da reportagem inverídica.

Mas não é isso que acontece no Brasil, sendo raríssimos os casos em que a imprensa torna o reparo tão perceptível quanto o erro.

A falsa condescendência do ex-presidente com a inflação ganhou os jornais em um ambiente econômico que a maioria dos próprios jornais brasileiros enfatiza como negativo, contrariando avaliações de grandes bancos estrangeiros de que esse negativismo é maior dentro do que fora do País. Portanto, projetar a mentira de que Lula acredita que “emprego é mais importante do que inflação” convém à interpretação que tentam disseminar.

O que não é dito por esses jornais é que os porta-vozes do pessimismo por eles prestigiados, em muitos casos, auferem ganhos pessoais e empresariais com o ambiente negativo, numa associação espúria que inclui até mesmo lucros especulativos gerados pelos movimentos bruscos do mercado.

Ouça trecho da gravação que foi deturpado na tradução


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