Fátima criticou a manipulação midiática durante as manifestações do final de semana, mas lembrou que o Congresso precisa estar atento aos múltiplos anseios da sociedade.Os protestos que ocorreram no último final de semana contaram com reivindicações de diversas espécies, desde o apoio à Petrobras aos pedidos de impeachment da presidenta democraticamente eleita no ano passado. No entanto, a principal diferença entre as manifestações foi o tratamento dado pelos maiores grupos de mídia, que focaram não no interesse público, mas nos políticos e econômicos. A discrepância foi denunciada pela senadora Fátima Bezerra nesta quarta-feira (18), durante discurso ao plenário.
“Infelizmente, os principais veículos de comunicação da mídia empresarial brasileira, tanto em junho de 2013 quanto em março de 2015, não apenas censuraram determinadas vozes da sociedade, como amplificaram aquelas que se aproximam de seus interesses políticos e econômicos, manipulando a informação a seu bel-prazer”, criticou a parlamentar petista.
No entanto, Fátima colocou que, independentemente de haver ou não espaço na mídia para as múltiplas vozes, o Congresso Nacional não pode ficar “surdo nem impermeável aos múltiplos anseios da sociedade brasileira”.
“Nenhum de nós pode se enganar e imaginar que as reivindicações expressas no dia 13 de março, por exemplo, dizem respeito somente aos interesses da esquerda, do campo democrático popular, ou dos que apoiam o governo da presidenta Dilma; assim como nenhum de nós pode se enganar e imaginar que as reivindicações expressas no dia 15 de março sob o guarda-chuva do pedido de impeachment dizem respeito somente aos interesses da direita ou dos que fazem oposição ao governo”, explicou.
Manifestações de ódio
A parlamentar lembrou ainda as manifestações que ocorreram em junho de 2013, quando milhões de brasileiros foram às ruas protestar por pautas difusas. Segundo ela, tanto naquela oportunidade quanto no último final de semana, foram identificados gestos concretos, tanto de intolerância política, quanto de violência.
No último domingo, por exemplo, faixas e cartazes em diversos locais do País clamavam por medidas como a intervenção militar e o fim dos partidos políticos como forma de combater a corrupção.
“A grande mídia tratou essas expressões como sendo minoritárias e isoladas, mas não foi o que assistimos na Avenida Paulista, onde um agente do antigo DOPS [Departamento de Ordem Política e Social] foi convidado a discursar como um símbolo a ser idolatrado”, disse Fátima, se referindo ao extinto órgão criado durante a ditadura militar para controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder.
Uma das manifestações de domingo (15) também foi repreendida por Fátima. Para ela, o autor da faixa “Chega de doutrinação marxista. Basta de Paulo Freire”, só pode ter ser alguém que desconhece a trajetória do patrono da educação brasileira.
“Na condição de professora que sou, só posso interpretar que aquela faixa tinha sido escrita por alguém que não tem a menor ideia, que não conhece a biografia, a trajetória, a dignidade, a luta, o compromisso, a vida dedicada em defesa da educação em nosso País e no mundo”, colocou a senadora.
Fátima lembrou que até mesmo a página oficial no Facebook da Organização das Nações Unidas (ONU) registrou, no dia seguinte a essa manifestação, a frase de Paulo Freire que diz “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
Avaliações negativas
Em relação à onda de acusações que o Partido dos Trabalhadores vem sofrendo, a senadora disse acreditar que ninguém no Parlamento, “em sã consciência”, acredita que a corrupção foi criada pelo partido. “Todos nós aqui sabemos que o nosso sistema político é estruturalmente corrompido pelo poder econômico, que o financiamento empresarial das campanhas eleitorais torna a sociedade política refém de interesses minoritários da sociedade brasileira, enquanto os interesses populares são costumeiramente desprezados”.
Devido às dificuldades econômicas do País, a senadora também destacou que é normal que caiam as avaliações positivas do governo Dilma, como a divulgada nesta quarta pelo Datafolha – que ficou em 13%, a mesma já obtida pelo tucano Fernando Henrique Cardoso, em 1999. Para ela, não há dúvidas de que a presidenta em breve recuperará a confiança e a credibilidade do povo brasileiro.
“Dilma tem um longo tempo pela frente e ela vai honrar com todos os compromissos que ela assumiu com o povo brasileiro no seu segundo mandato, retomando o crescimento da economia, mantendo o emprego, mantendo o poder de compra do trabalhador, as políticas sociais, os investimentos na infraestrutura e investindo fortemente na questão da educação”, afirmou.
Fátima acrescentou que o Parlamento brasileiro teve uma avaliação ainda pior que o governo da presidenta: apenas 9% avaliam o trabalho do Congresso como bom ou ótimo.