Missão da Apex e Fiesp desmente factoide sobre porto cubano

Luciano Coutinho: desmentido sobre financiamento não teve o mesmo destaque do factoide.
 

Em Cuba, 32 empresas brasileiras estudam utilização
do porto como entreposto para exportações

A tese de que o governo brasileiro deu dinheiro ao governo de Cuba para financiar a construção do porto de Mariel – informação falsa imediatamente adotada pela oposição para seus pronunciamentos. O factoide foi novamente desmentido em audiência no Senado pelo presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, mas de pouco adiantou.

Prevaleceu, até o momento, a regra de repetir a mentira para tentar emplacá-la como verdade, mas um novo desmentido concreto vai dificultar sua sobrevivência a partir desta quarta-feira (26).

Quando depôs na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, nesta terça-feira (25), Coutinho explicou que quem está sendo financiado não é o governo cubano e, sim, o exportador brasileiro – principalmente o do setor de serviços. Um dia depois de sua afirmação, 32 empresas brasileiras, em missão organizada pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), desembarcam em Cuba para a primeira prospecção de negócios em território cubano

A programação da visita inclui visita às instalações do porto e abertura da primeira rodada de negócios com importadores cubanos. Objetivo: explorar o potencial de Mariel, inclusive como plataforma de exportação para outros países, e ampliar o comércio com Cuba.

Com a nova oportunidade de negócios, os empresários brasileiros projetam aumento das vendas não só para a ilha, mas também com outros países que planejam utilizar o porto de Mariel como uma espécie de entreposto comercial.

Na segunda-feira (24), o presidente e o diretor de negócios da Apex, Maurício Borges, e Ricardo Santana, respectivamente, reuniram-se em Havana com o ministro de Comércio Exterior e Desenvolvimento de Cuba, Rodrigo Malmierca. De acordo com Santana, o país da América Central pretende ampliar as importações originárias do Brasil e mostra interesse por setores específicos. “Os setores de alimentos, casa e construção e embalagens têm bastante apelo do lado de lá. [Há interesse] em materiais elétricos, móveis e embalagens, inclusive para o processamento de alimentos”, disse.

No ano passado, a corrente de comércio entre o Brasil e Cuba somou US$ 624,8 milhões, dos quais US$ 528,2 milhões corresponderam à aquisição de produtos brasileiros pelo país. Os principais itens importados do Brasil foram óleo de soja, arroz, milho, carne de frango in natura, farelo de soja, café, papel, calçados, máquinas agrícolas e móveis. Mas, segundo Ricardo Santana, houve alta de 9,2% no comércio desde a implantação de um escritório da Apex em Havana, em 2008.

De acordo com dados da agência de fomento, em 2013 o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas de um país) de Cuba foi US$ 76,5 bilhões, o maior da América Central e do Caribe, com exceção do território norte-americano de Porto Rico.

Balança comercial
Atualmente, Cuba é o segundo maior destino das exportações brasileiras na região, com exceção do Panamá. No total, a ilha importou US$ 15,6 bilhões em produtos em 2013, o que indica espaço para o Brasil ampliar o seu mercado.

Para o diretor de negócios da Apex, o crescimento do consumo no país, em grande parte devido ao turismo, e a operação do Porto de Mariel ajudarão a impulsionar o comércio entre os dois países. “O início da operação deve ser muito vantajoso. [Deve] reduzir o custo de operações logísticas. Cuba pode ser um hub (termo usado principalmente na aviação comercial, para designar um ponto de conexão) para vários países em termos de exportações, principalmente na América Central, com mercados que estão crescendo como o Panamá, Honduras, El Salvador, a Costa Rica, a Guatemala. Não é só o Brasil que está de olho, outros países também estão organizando missões”.

Entre as empresas que enviaram representantes a Cuba para a missão que segue até sexta-feira (28) estão a Bauducco, Asa Alimentos, Globoaves e Vilheto e Cosil, do ramo de alimentação; a TendTudo, do setor de construção; Oberthur, fabricante de equipamentos de informática e fornecedora, a Odebrecht e Eletroflex, da área de reposição de peças para caminhões e tratores. A Apex organiza missões comerciais do Brasil para o país da América Central desde 2003.

Quando explicou por que o BNDES efetua operações de crédito em outros países, Coutinho deixou claro que investir no exportador de serviços – no caso da construção do Porto de Mariel foi a Odebrecht – significa gerar empregos no Brasil, por conta dos equipamentos adquiridos, que são levados para outro país. “Quando uma empresa brasileira ganhou o contrato para construir um porto em Cuba, por exemplo, o Brasil começou a exportar serviços de engenharia. E essa área de serviços conta com olhar especial do BNDES, tanto que essa carteira corresponde a R$ 19,2 bilhões”, enfatizou.
 

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