Jorge Viana: “Qual o custo da recuperação, se é que vamos ter plenamente? Talvez vamos precisar de gerações inteiras para ver a recuperação do vale do Rio Doce”O primeiro vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), questionou em discurso feito na tarde desta segunda-feira (16), o valor da multa que o governo aplicará contra a mineradora Samarco, de R$ 250 milhões. A empresa é responsável pelo rompimento de duas barragens, que provocou um tsunami de lama e resíduos de minério na região da cidade de Mariana.
“Essa empresa, parceira da Vale, é australiana e tem lucros anuais de R$ 2,5 bilhões. Esse desastre atingiu Minas Gerais e o Espírito Santo, deixando milhares de pessoas sem água para beber e a multa que se coloca é de apenas R$ 250 milhões. Não tem nenhum sentido”, criticou o senador.
Viana disse que está impressionado com o fato de ser obrigado a conviver sempre com a possibilidade de um acidente ambiental ocorrer. Esse de Mariana chocou os brasileiros, e os que aconteceram antes, só podem ser resultado da ganância das empresas. “As pessoas podem não saber, mas as barragens do Fundão e de Santarém, que ficam no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 quilômetros de Mariana e 124 quilômetros de Belo Horizonte, da Samarco, já tivemos problemas com elas”, afirmou.
Apesar de as causas do desastre estarem sob investigação, Viana acha que não vale dizer que o acidente teria ocorrido por abalos sísmicos. O senador concordou com os colegas Randolfe Rodrigues (REDE-AP) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) que neste momento não adianta querer encontrar justificativas que não justificam nada, porque não se constrói uma barragem sem o cálculo para eventos não relacionados. “O que temos claro é que não se adotou a precaução. Não foi obra do acaso o acidente. Deve ser resultado daquela ganância de lucro, lucro, lucro, sem levar em conta o meio ambiente e o risco à vida”, salientou.
Viana disse em seu discurso que a equipe do Ministério Público coletou amostras da lama dos dejetos da produção de minério de ferro pela Samarco, cuja finalidade era verificar o grau de toxidez. O laudo, informou o vice-presidente do Senado, deverá demorar para ficar pronto, mas isso não seria empecilho para que o Senado realize uma sessão no plenário para discutir esse acidente, com autoridades do governo, estudiosos e representantes da sociedade civil. “Estamos falando de 60 bilhões de litros de rejeitos de minério de ferro, o equivalente a 24 mil piscinas olímpicas de lama”, afirmou.
Jorge Viana também manifestou consternação contra os ataques terroristas que mataram mais de cem pessoas em Paris, na noite da última sexta-feira. Segundo ele, os ataques são inaceitáveis, covardes, fruto da intolerância, da opção pela violência como instrumento de luta e chocaram o mundo não só porque ocorreram na França, mas porque ocorreram numa cidade que é uma espécie de capital do mundo.
“Todos nós devemos refletir sobre o que está ocorrendo no nosso planeta. Devemos refletir sobre essa ação, que se usam uma opção religiosa, mas que disso nada tem, como o Papa Francisco disse ontem em Roma. Nós precisamos construir um mundo mais solidário”, defendeu.
Jorge Viana que conhece a cultura francesa por já ter trabalhado no setor privado, disse que se acostumou, se prendeu e assimilou no seu modo de vida os princípios que norteiam as democracias do mundo. “Mas esses princípios estão postos na base da Revolução Francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade, que é o que o mundo precisa, encontrar uma maneira de conviver com liberdade, com igualdade e com fraternidade. Um mundo mais justo e mais igual enfrentará melhor esses ataques covardes”, enfatizou.
Marcello Antunes